Depois de meses jogando lixo em globos em país vizinho, Coréia do Norte recebeu resposta em drones; e não gostou

  • Coreia do Norte acusou seu vizinho do sul de enviar drones carregados de panfletos políticos.

  • Há meses, Coreia do Sul denuncia que é seu vizinho do norte quem lhe envia balões com lixo.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Que as relações entre Pyongyang e Seul não estão no seu melhor momento não é novidade. No início do ano, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prometeu remover um grande monumento dedicado à reunificação da Península Coreana e referiu-se ao vizinho do sul como o "principal inimigo" da nação. Sem rodeios ou suavizações. Desde então, a situação não melhorou, com trocas de ameaças intensas e o fortalecimento da fronteira entre os dois países.

Nessa escalada de tensão, no entanto, há dois protagonistas tão inesperados quanto peculiares: balões carregados de lixo e drones com panfletos. Podem parecer uma extravagância menor, mas tornaram ainda mais turbulentas as já conturbadas relações entre os governos da Coreia do Norte e do Sul.

O que aconteceu?

O já complicado tabuleiro político da Península Coreana ficou ainda mais agitado por dois protagonistas peculiares: balões e drones. Balões com lixo e drones carregados de panfletos, para ser mais exato.

Mais do que os causadores da escalada de tensão entre Pyongyang e Seul, eles são o resultado dessa situação, mas isso não diminui o papel crucial que estão desempenhando nas relações entre os dois países.

Para entender melhor, é preciso começar pelo fim: o governo de Kim Jong-un lançou uma ameaça contundente ao vizinho do sul por causa de alguns panfletos e drones de origem desconhecida.

Pyongyang sob ataque de drones

No início de outubro, na quinta-feira, dia 3, as autoridades norte-coreanas detectaram pelo menos um drone carregado com panfletos sobre Pyongyang. Algo semelhante aconteceu novamente há alguns dias. Pelo menos, segundo os dados divulgados pelo Ministério de Assuntos Exteriores da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), nome oficial do país governado por Kim Jong-un. Mais do que pelos drones em si, o incidente despertou a fúria do regime devido ao seu contexto.

"Rumores incendiários."

As autoridades da RPDC estão convencidas de que os drones vieram da Coreia do Sul e denunciam que transportavam panfletos políticos, cheios de "rumores incendiários e lixo" contra o rígido regime de Kim Jong-un. É o que afirma a agência de notícias estatal norte-coreana KCNA. Resultado: o governo, pouco tolerante a críticas contra a dinastia Kim que governa o país e promove o culto ao líder, reagiu com virulência.

"Não nos importa quem é a principal força por trás do recente incidente com drones, nem seus autores," alertou Kim Yo-jong, irmã influente do líder norte-coreano. Ela acrescentou: "Tomaremos uma forte medida de retaliação, independentemente dos envolvidos, caso drones carregados com lixo político contra a RPDC vindos da República da Coreia atravessem a fronteira e entrem no céu da RPDC."

Para deixar o recado ainda mais claro, Yo-jong avisou Seul que enfrentará um "desastre horrível" se Pyongyang voltar a ser sobrevoada por drones.

"Um ataque militar."

O Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte foi além, advertindo que a violação do espaço aéreo da capital poderia ser considerada um "ataque militar" em toda a regra. As autoridades sul-coreanas rapidamente reagiram, tentando se distanciar do incidente.

O Ministro da Defesa da Coreia do Sul garantiu que o país não sobrevoou Pyongyang com drones, embora sem esclarecer se isso se aplicava exclusivamente a aparelhos militares ou também a dispositivos operados por cidadãos sul-coreanos.

Mais tarde, o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul admitiu que não podia confirmar se as acusações de seu vizinho do norte eram verdadeiras, mas enviou uma mensagem clara: "Moderação."

Questão de drones… e balões.

A verdade é que os supostos drones sul-coreanos não são os únicos dispositivos polêmicos que sobrevoaram a fronteira entre as duas Coreias nas últimas semanas. Desde maio, Seul recebeu mais de 5.500 balões carregados de lixo, alguns contendo até esterco ou temporizadores. Essa peculiar "chuva" começou em maio, e as autoridades sul-coreanas sabem bem quem está por trás disso: Kim Jong-un.

"Ações militares decisivas."

Com o tempo, os "balões de lixo" deixaram de ser uma mera curiosidade para se tornar um verdadeiro problema para Seul. Já causaram incêndios, chegaram a edifícios governamentais e há um temor crescente de que, um dia, possam conter algo mais perigoso, como substâncias radioativas ou patógenos. Em Seul, cogita-se usar drones e VTOL para interceptá-los, e o governo enviou uma mensagem contundente a Pyongyang: se um desses balões causar a morte de alguém, o país não hesitará em agir.

"Tomará ações militares decisivas se os balões cheios de lixo da Coreia do Norte representarem uma ameaça grave à segurança ou forem considerados como tendo cruzado uma linha," afirmou categoricamente o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.

A história se complica (muito mais).

Na verdade, a situação é ainda mais complicada. Nem os drones nem os balões são novidades. Ironia do destino, há razões para acreditar que nem todos os balões vieram da Coreia do Norte, nem todos os drones são da Coreia do Sul. Sabe-se que há ativistas que lançam balões para a Coreia do Norte a partir do lado sul da fronteira, mas, em vez de lixo, eles carregam panfletos políticos contra Kim Jong-un, notas de dólar e pen drives com músicas de K-pop.

Quanto aos drones, nos últimos anos, Seul também acusou a Coreia do Norte de violar seu espaço aéreo com esses dispositivos. No final de 2022, o governo sul-coreano chegou a mobilizar aviões de combate após detectar cinco drones, que identificou como norte-coreanos, sobrevoando os telhados da área de Seul.

E chegaram os alto-falantes

Como se o cenário não fosse suficientemente complicado, as autoridades sul-coreanas reativaram uma antiga ferramenta para responder aos "balões de lixo" de Kim Jong-un: alto-falantes. Grandes e potentes. Por meio desses dispositivos, posicionados na fronteira, Seul transmite mensagens propagandísticas ou músicas de K-pop. Mais uma vez, essa não é uma tática nova. Seul já havia utilizado esse método anos atrás, em 2016, quando a então presidente sul-coreana Park Geun-hye o descreveu como uma "forma eficaz de guerra psicológica."

Destruindo estradas

Nesse contexto de tensão crescente, a situação entre as duas Coreias continua a piorar. A Coreia do Norte recentemente explodiu trechos de duas das principais estradas que ligavam o país ao sul. Embora o ato tenha um caráter mais simbólico do que prático, já que as duas Coreias são separadas por uma fronteira fortificada, ele envia uma mensagem clara ao vizinho do sul. Em resposta, o exército sul-coreano já realizou disparos de advertência próximos à fronteira.

Imagens |李季霖 (Flickr) e Daniel Bernard (Unsplash)

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