Um poderoso foguete Falcon Heavy da SpaceX gastou até a última gota de combustível que tinha em seu interior para lançar a Europa Clipper, uma das missões mais importantes da Nasa para a próxima década.
A Europa Clipper é a maior nave que a Nasa já construiu para uma missão planetária. Em tamanho, pode ser comparada apenas à sonda JUICE, da ESA, que tem o mesmo destino. Ela pesa seis toneladas (3.241 kg mais o combustível) e possui 24 motores. Seus painéis solares, quando abertos, medem 90 metros quadrados.
O destino é Europa, a lua gelada de Júpiter. Considerando esse fator e também o tamanho e o peso, a NASA resolveu contratar um foguete Falcon Heavy descartável para o lançamento. Os propulsores laterais do lançador da SpaceX, que já haviam voado seis vezes cada um, caíram no oceano após uma subida especialmente longa.
Um destino intrigante
A Europa Clipper levará cinco anos para chegar a Europa, a lua de Júpiter que esconde um oceano de água salgada sob a espessa camada de gelo em sua superfície. Os astrônomos acreditam que esse oceano pode ser maior do que todos os da Terra juntos, e que é um dos melhores lugares do Sistema Solar (se não o melhor) para buscar vida extraterrestre.
A Europa Clipper realizará cerca de 50 sobrevoos de Europa quando chegar a Júpiter em 2030, sendo assistida pela gravidade de Marte em 2025 e da Terra em 2026, após sua inserção em órbita realizada pelo Falcon Heavy em 14 de outubro.
Uma missão importante
Com um orçamento de 5,2 bilhões de dólares (R$ 29,4 bilhões), a Europa Clipper é a missão de exploração planetária mais importante da NASA para esta década: a primeira a investigar profundamente a lua Europa e seu potencial de habitabilidade.
Desde os anos 50, os astrônomos suspeitam da presença de gelo de água em Europa, mas a descoberta de seu oceano subterrâneo e a possibilidade de vida microbiana em seu interior reforçaram a importância de uma missão a essa lua. Ela será complementada pelos resultados da sonda europeia JUICE, que também está a caminho das luas geladas de Júpiter.
Anos de atrasos
A Europa Clipper esteve em pauta por mais de uma década (e, por mais de 20 anos, se considerarmos as missões precursoras que nunca se concretizaram). Em 2013, a Nasa aprovou o financiamento para o desenvolvimento de instrumentos. Em 2015, foram selecionados os nove instrumentos que seriam embarcados na nave.
De 2015 em diante, a Europa Clipper passou por várias fases de design, incluindo uma mudança de foguete. Inicialmente, seria lançada com o SLS da própria Nasa, mas o Falcon Heavy da SpaceX foi escolhido por sua disponibilidade, custo, vibrações no lançamento e, principalmente, para evitar a passagem por Vênus, cuja temperatura poderia afetar os instrumentos da sonda.
Um contratempo de última hora
O furacão Milton causou o último atraso da missão, de 10 de outubro para o dia 14. Mas, até algumas semanas antes, o lançamento da Europa Clipper ainda era incerto. A Nasa descobriu um defeito nos 900 transistores MOSFET usados para controlar todos os sistemas e instrumentos críticos da sonda.
Basicamente, os transistores eram suscetíveis a falhas no ambiente radioativo de Europa. A solução, implementada em tempo recorde, foi instalar na nave uma unidade do tipo "canário na mina", que monitora a integridade dos MOSFETs, alertando a equipe de controle na Terra sobre possíveis falhas iminentes, o que permitirá o desenvolvimento de estratégias de mitigação.
Boa sorte, Europa Clipper
A nave explorará Europa com câmeras de alta resolução (EIS e E-THEMIS), espectrômetros (Europa-UVS e MISE), magnetômetros (ECM e PIMS), um radar capaz de penetrar o gelo (REASON) e analisadores químicos (MASPEX e SUDA).
O principal objetivo da missão será confirmar ou descartar a habitabilidade de outro mundo em nosso Sistema Solar. Embora não vá aterrissar, ela servirá, junto com a JUICE da ESA, para auxiliar na seleção de locais candidatos para o pouso de futuras sondas.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha
Imagens | NASA, SpaceX
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