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China realoca suas fábricas para reduzir custos; mas novo endereço não fica em países próximos

O modelo de desenvolvimento chinês estava sendo eficaz, até que seus jovens passaram a exigir mais

Imagem: Pexels (James Wheeler, Barry Tan)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A China enfrenta um dos maiores desafios econômicos dos últimos 20 anos, com um modelo de desenvolvimento sufocado pelo bloqueio dos semicondutores dos EUA e uma economia pós-pandemia que não responde aos estímulos e apresenta severos sinais de esgotamento.

A esse cenário econômico se soma uma crise de produção e social, na qual os empregados exigem melhores condições de trabalho em suas fábricas e as marcas estão transferindo suas linhas de produção para fora da China para não ficarem presas ao bloqueio. Diante de uma situação laboral, demográfica e econômica tão complexa, as autoridades chinesas estão tomando uma decisão salomônica: se os trabalhadores não vão às fábricas, as fábricas irão até os trabalhadores.

A chave da China: mão de obra barata

Um dos pilares que sustentou o crescimento chinês nas últimas duas décadas era ser o país com a maior população do mundo e com poucos direitos trabalhistas, o que garantiu mão de obra barata para conseguir uma produção rentável a baixo custo.

Por décadas, esses trabalhadores vieram das províncias do interior, empobrecidas e carentes de infraestrutura de comunicação. Seu objetivo era prosperar trabalhando nas fábricas das ricas províncias costeiras, como Guangzhou ou Shenzhen — nelas havia portos comerciais internacionais de onde saíam navios mercantes carregados com os produtos que eram fabricados ali.

As fábricas precisam de empregados

O modelo de desenvolvimento chinês foi eficaz até que sua própria prosperidade permitiu que os filhos daqueles trabalhadores pudessem se formar na universidade. Agora, a maioria da população das áreas mais industrializadas tem um nível mínimo de escolaridade — ano após ano, formam-se, em média, 11 milhões de novos graduados, que exigem aumentos salariais e melhores condições de trabalho.

Essas reivindicações minam uma das vantagens de fabricar na China e aumentam os custos, levando muitas empresas a fechar suas fábricas no país para buscar mão de obra barata em nações como Índia, Vietnã, Tailândia, Indonésia ou Camboja.

A solução: levar as fábricas para o interior da China

Se um dos principais problemas para as fábricas é encontrar trabalhadores, elas irão buscá-los onde quer que estejam. Portanto, em vez de transferir a produção para outros países, o governo chinês conseguiu que as fábricas se mudassem para províncias menos industrializadas, como Sichuan ou Henan, onde os custos laborais ainda são viáveis, com salários até 30% inferiores aos dos países vizinhos — que estão servindo de refúgio contra o bloqueio dos EUA à China.

A Foxconn, principal montadora e fornecedora de Apple, Dell e Asus, já fez esse movimento, transferindo uma de suas fábricas de Shenzhen para Chengdu, capital de Sichuan, e abriu outra linha de produção na província de Henan com capacidade para empregar até 300 mil trabalhadores. A expansão da Foxconn na China continental ganhou velocidade, expandindo novos centros de produção para outras áreas distantes da costa, como Hubei ou Chongqing.

Os salários mínimos são fixados por províncias ou cidades

Diferentemente de outros países, como o Brasil, na China os salários mínimos não são definidos a nível nacional, mas sim a nível provincial e até mesmo por cidades, especialmente em grandes centros urbanos, como Pequim. Nesse caso, a diferença entre os salários das fábricas em grandes cidades como Xangai ou Pequim e nas províncias do interior é significativa.

De acordo com o Escritório Nacional de Estatística, o salário médio em Xangai é de 132.802 yuan por ano (R$ 106 mil), enquanto nas províncias do interior, o salário médio mal atinge 89.941 yuan por ano (R$ 72 mil).

Imagem | Pexels (James Wheeler, Barry Tan)

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