Embora seja fácil pensar na internet como algo não físico, principalmente devido ao crescimento dos serviços em nuvem nos últimos anos, a infraestrutura depende de roteadores e dos milhares de quilômetros de cabos que conectam servidores.
São mais de 1 bilhão de metros de cabos submarinos em todo o globo, os quais se tornaram um elemento geoestratégico. As principais potências desejam controlar as novas rotas da internet debaixo do mar, algo extremamente importante, uma vez que os países estão interconectados por meio desses cabos.
Devido à sua posição no mapa, a Austrália depende muito desses cabos para estar conectada ao resto do mundo. Mais especificamente, são 15 cabos que precisam ser protegidos a todo custo porque, se avariados, poderiam comprometer as comunicações e sistemas do país. Por isso, foi anunciada uma nova medida para mantê-los seguros.
15 cabos
Não é jeito de falar — a Austrália está literalmente conectada ao resto do mundo por meio de 15 cabos. Eles têm diâmetros que variam dependendo se estão em altas profundidades ou próximos à costa — os primeiros têm um diâmetro semelhante ao de uma mangueira de jardim e os segundos, uma circunferência mais parecida com a de um braço humano. Sim, os que estão mais próximos da costa têm mais proteção. E suas camadas são as seguintes:
- Polietileno na camada mais externa
- Fita tipo Mylar
- Cabos trançados de aço
- Alumínio que serve como barreira contra a água
- Policarbonato
- Tubo de alumínio ou cobre
- Um protetor para a água chamado Petroleum jelly (vaselina)
- A fibra óptica
As versões novas podem ser mais potentes, mas estima-se que esses cabos são capazes de transmitir 3.840 gigabits por segundo em cada fio de fibra óptica, o equivalente ao conteúdo de 102 DVDs a cada segundo. Isso por cabo, já que alguns contam com vários pares de fios de fibra, multiplicando sua capacidade (e seu diâmetro, evidentemente).
Ameaçados
Apesar dessas camadas protetoras, os cabos submarinos que transportam a internet possuem vários adversários. O técnico de cabos submarinos Guillermo Cañete nos contou que os principais perigos são:
- Terremotos
- Âncoras
- Redes de pesca de arrasto em profundidade
Ele afirma que 99% das falhas estão relacionadas a um desses fatores. Se o dano está próximo da costa, o conserto é feito por mergulhadores que se lançam na água e arrumam o segmento danificado. Se ocorre em áreas a 5, 7 ou 10 km de profundidade, o trecho danificado é cortado, "pescado" com uma espécie de anzol e substituído. No caso da Austrália, como visto no The Conversation, a pesca de arrasto e outras atividades pesqueiras são uma das ameaças constantes. A outra são os ataques maliciosos.
Novo centro de segurança
É por isso que, há alguns anos, a Austrália foi um dos primeiros países a se unir ao Comitê Internacional de Proteção de Cabos. Mas isso não foi suficiente para garantir a integridade da infraestrutura. Por isso, o país acaba de anunciar um investimento de US$ 18 milhões (R$ 100 milhões) pelos próximos quatro anos para a construção do Centro de Conectividade e Resiliência de Cabos.
O Governo comenta que a medida é fundamental para manter a prosperidade e segurança de sua região, já que 95% do tráfego internacional de dados chega à Austrália através desses cabos. Assim, o novo centro se encarregará de oferecer assistência técnica para a área do Indo-Pacífico e de realizar pesquisas e análises para o desenvolvimento de políticas, regulamentações e tomadas de decisões relacionadas a esses cabos, além de compartilhar suas pesquisas com a indústria e governos do Indo-Pacífico.
Protegê-los a todo custo
Respondam eles por 95% ou 99% de todos os dados, como apontam outras fontes, o certo é que os cabos são vitais para a Austrália. E não se trata apenas das comunicações ou da própria internet, mas de setores crescentes como a inteligência artificial, a computação em nuvem e os servidores na nuvem. Esses recursos exigem uma grande largura de banda.
Mas a tarefa será complicada. O novo centro australiano é uma iniciativa governamental, portanto custeado por dinheiro público. O complicado é que quase dois terços dos cabos submarinos pertencem a empresas privadas. Para se ter uma ideia, o Google e a Amazon estão financiando mais de 20% das novas instalações de cabos. Outros investidores privados também têm participações significativas no mercado com novas instalações na América Latina, Sudeste Asiático e Oriente Médio/Ásia.
Abrindo os braços para a China?
A Austrália depende dos EUA. Ao observar o mapa dos 15 cabos, podemos ver que eles se conectam principalmente com o Havaí (e, a partir daí, com o território continental dos EUA) e com a ilha de Guam, que também é dos EUA. Apenas três deles se conectam com Cingapura.
O novo centro está englobado dentro da Aliança Quad, que é um diálogo de segurança entre Índia, Austrália, Japão e EUA. No entanto, considerando que se trata de um projeto impulsionado pelo Departamento de Assuntos Estrangeiros e Comércio, é provável que sejam abertas vias com a China. O gigante asiático já se ofereceu para construir um grande cabo na região (por meio da Huawei), o qual foi rejeitado pela Austrália sob alegações de motivos de segurança.
Mais cabos submarinos
2024 será um ano chave para novas instalações. A TeleGeography é uma empresa que se encarrega de monitorar, prever e mapear a indústria das comunicações e, na versão de 2024, pode-se ver uma imagem atualizada do estado dos cabos submarinos.
Entre 2023 e 2025, estima-se que haverá um aumento de cabos, impulsionado por um investimento de US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões), que colocará em funcionamento 78 novos sistemas, somando uma extensão total de 300 mil km. Esse será o crescimento mais significativo em mais de 20 anos.
Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha
Imagens | ACMA, TeleGeography, Telefónica
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