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Tantos australianos têm painéis solares em seus telhados que rede elétrica australiana está a um passo de acabar

A demanda pela energia vinda da rede está baixa demais, o que pode causar sobrecarga e levar a apagões

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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No começo de outubro, a AEMO, operadora da rede elétrica australiana, emitiu um alerta pouco comum: demanda energética perigosamente baixa. A previsão era que, nos dias seguintes, a produção de energia solar nos telhados do estado de Victoria atingiria níveis tão altos que os responsáveis pela rede duvidavam seriamente se seriam capazes de manter o sistema elétrico estável.

Na Austrália, uma em cada três residências de apenas uma família possui painéis solares conectados à rede elétrica. Há tantas casas se autoabastecendo de energia solar que a operadora observou que a demanda ficaria abaixo do limite necessário para manter o sistema estável.

No estado de Victoria, o segundo mais rico do país, a rede elétrica está preparada para uma demanda entre 1.865 e 10.000 megawatts, mas o normal é precisar cobrir cerca de 5.000. Para o sábado, dia 5 de outubro, ao meio-dia, a operadora previu uma demanda energética de apenas 1.352 MW, o nível mais baixo da história recente.

Medidas de emergência

A AEMO considerou várias medidas de emergência para tentar estabilizar o sistema, como desconectar os painéis solares dos telhados ou limitar o envio de excedentes. Também analisou a possibilidade de reativar linhas de alta tensão fora de serviço para aliviar o excesso de energia.

Finalmente, decidiu notificar os proprietários de grandes baterias para que as mantivessem vazias, antecipando-se à sobreoferta de energia solar.

Por que é perigoso

Com uma capacidade conjunta de mais de 20 GW, a energia solar dos telhados já é uma das principais fontes de eletricidade na Austrália. Sua produção crescente reduz a demanda por energia vinda da rede, especialmente em dias ensolarados e amenos e nos fins de semana, quando o consumo é moderado.

Para piorar, as residências com painéis fotovoltaicos conectados à rede injetam nela a eletricidade que não utilizam (o excedente) de forma descontrolada. Isso cria um desafio a mais para estabilizar a rede elétrica em momentos de baixa demanda.

A eletricidade não pode ser facilmente armazenada em larga escala, de modo que sua produção precisa coincidir com o consumo de energia em tempo real. Se a demanda superar a oferta, a rede elétrica pode sobrecarregar, causando apagões, interrupções de fornecimento ou danos a dispositivos eletrônicos e eletrodomésticos. Além disso, as usinas térmicas precisariam ser acionadas para estabilizar o sistema.

As fontes renováveis complicam esse processo porque são intermitentes, o que aumenta os problemas de sobreoferta: não haveria instabilidade na rede se ela fosse flexível. No entanto, para se ter uma rede flexível dominada por fontes renováveis, é necessária uma grande quantidade de baterias de grande escala para armazenar a energia em momentos de baixa demanda e utilizá-la quando a demanda for alta.

Uma doce condenação

Nada grave aconteceu na Austrália porque a operadora conseguiu antever a crise, mas é provável que o problema piore. Será necessário uma reforma no mercado elétrico ou uma gestão mais eficiente do excedente de energia solar dos telhados.

O limite mínimo da rede não costuma ser atingido durante os picos de demanda no verão devido ao uso de ar-condicionado, mas sim em dias ensolarados e amenos. É uma doce condenação: com a energia solar quebrando recordes, a Austrália já cobre até 70% de suas necessidades energéticas usando fontes renováveis. A rede tradicional perdeu importância como fornecedora, mas agora vê crescer seu papel como organizadora de toda essa eletricidade pulverizada.

Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Solar Australia

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