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A Coreia do Sul tem um enorme problema de solidão e um plano para resolvê-lo: R$ 1,9 bilhão

  • A solidão é uma grande epidemia na Coreia do Sul, que se soma à baixa natalidade e ao envelhecimento da população

  • O programa "Seoul Without Loneliness" visa detectar pessoas em situação de solidão e reconectá-las com seus vizinhos

Coreia do Sul cria programa contra solidão / Imagem: Cottonbro Studio
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A Coreia do Sul vive uma catástrofe demográfica. As palavras não são nossas, mas do próprio governo sul-coreano. O país possui a taxa de natalidade mais baixa do mundo, uma população muito envelhecida e um enorme problema de solidão, que é ainda mais acentuado na capital, Seul. Assim, o governo do país iniciou esforços para tentar conter essa situação com uma proposta chamada "Seoul Without Loneliness", um plano de 322 milhões de dólares (R$ 1,9 bilhão).

O problema da Coreia do Sul

O país asiático possui uma taxa de natalidade de 0,7 filho por mulher. Na capital, onde vive um quinto da população sul-coreana, essa taxa é ainda mais baixa, chegando a 0,5 filho por mulher. Para 2025, espera-se que uma em cada cinco pessoas tenha mais de 65 anos e, entre todas as pessoas idosas, 21,8% vivem sozinhas. De acordo com um estudo do Korea Institute of Health and Social Affairs, 3,1% das pessoas entre 19 e 39 anos (aproximadamente 340.000 pessoas) são consideradas solitárias.

Isso levou a um fenômeno extremo, que tem até um nome: godoksa. Esse termo se refere às mortes solitárias, ou seja, pessoas que morrem sozinhas e são encontradas dias ou até semanas depois. Apenas em 2023, foram registradas 3.661 mortes desse tipo. É, sem dúvida, um problema enorme.

Coreia do Sul cria programa contra solidão / Imagem: Cottonbro Studio

"Seoul Without Loneliness"

O governo da Coreia anunciou o plano em outubro de 2024 e o descreve como "um plano integral destinado a combater a solidão e o isolamento social entre seus cidadãos". Para isso, o governo fornecerá "apoio sistemático e multifacetado", baseado em três estratégias: "Estar juntos", "Conectar juntos" e "Comunicarmos juntos". O investimento será de 451,3 bilhões de wons, ou seja, R$ 1,9 bilhão.

O primeiro pilar, “Estar juntos”, prevê a criação de uma plataforma chamada "Knock Knock 24", que permitirá aos cidadãos que se sintam sozinhos pedir aconselhamento por telefone, chat ou em centros especializados para lidar com sua situação. Também serão construídos mais de cem centros de bem-estar e longevidade para idosos, e será ampliada uma iniciativa para garantir que os avós tenham dietas mais saudáveis. Para os jovens, o governo lançará o "365 Seoul Challenge", um programa que premia a participação em atividades em grupo ou ao ar livre.

O segundo pilar, “Conectar juntos”, consistirá em identificar famílias isoladas e fazer o possível para reconectá-las com seus vizinhos. Em primeiro lugar, Seul analisará "diversos dados administrativos e 46 tipos de informações de emergência, como o uso de gás e eletricidade", para detectar famílias/pessoas isoladas. As lojas de conveniência e lavanderias que essas famílias frequentam com regularidade serão pontos de contato para oferecer apoio a quem estiver isolado.

Uma vez identificadas essas pessoas, elas receberão uma "Receita de Conexão Seul", um programa em três etapas que consiste em incentivar atividades ao ar livre, sessões de aconselhamento, promover o envolvimento com atividades e a criação de comunidades.

Coreia do Sul cria programa contra solidão / Imagem: Cottonbro Studio

Em terceiro lugar, Seul tem o “Comunicarmos juntos”, que pretende "criar espaços abertos por toda a cidade, fomentar a empatia em relação a esses problemas por meio de uma comunicação aberta entre os cidadãos e estabelecer as bases para soluções eficazes". Em outras palavras, eliminar o estigma da solidão e trazê-la à conversa pública em espaços abertos.

O programa é um passo adiante, mas não resolve a raiz do problema. A Coreia do Sul é um país altamente competitivo, com uma cultura de trabalho muito estabelecida, dura e com expectativas sociais muito altas, o que se reflete em sua alta taxa de suicídios, a mais alta da OCDE. O programa pode ajudar aqueles que estão conscientes de sua solidão e querem resolvê-la, mas pode ter pouco efeito em quem não deseja ajuda.

Imagem | Cottonbro Studio

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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