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Os EUA analisaram um grupo de golfinhos no Golfo do México; 30 amostras testaram positivo para Fentanil

Não é um caso isolado. Há alguns meses algo semelhante aconteceu nas costas do Brasil com tubarões e cocaína

Golfinhos estão tendo contatos com drogas por causa de humanos | Caroline Legg, APLA
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Raramente um animal selvagem experimenta qualquer tipo de narcótico sem a ajuda do homem. Diríamos que há duas maneiras disso ocorrer. Um deslize, uma situação em que humanos deixaram o material em questão ao alcance de algumas espécies por acaso ou por descuido, ou diretamente para testar a reação das criaturas "pela ciência" através de uma investigação. No Brasil, o primeiro caso ocorreu recentemente: tubarões com vestígios de cocaína. Algo semelhante acaba de acontecer no Golfo do México.

Golfinhos fentanil

Um estudo recente publicado na iScience revelou que um grupo de golfinhos nariz-de-garrafa no Golfo do México foi exposto a contaminantes farmacêuticos, incluindo o potente opioide fentanil, juntamente com carisoprodol e meprobamato, ambos analgésicos usados ​​para alívio da dor.

Os pesquisadores aparentemente analisaram 89 amostras de gordura de golfinho coletadas no Texas e no Mississippi e encontraram traços dessas drogas em até 30 espécimes. A descoberta destaca a magnitude da poluição farmacêutica nas hidrovias dos EUA e seu impacto sobre essa espécie icônica de mamífero marinho.

Fentanil no ecossistema marinho

Quando falamos sobre Fentanil, estamos nos referindo a um opioide 100 vezes mais potente que a morfina que está causando estragos em muitas regiões dos Estados Unidos. Ele foi detectado em uma proporção significativamente maior do que outras drogas, pois parece ser facilmente distribuído em tecidos adiposos.

Embora não seja fatal por contato direto, sua presença em golfinhos sugere um problema ambiental muito mais amplo que pode estar afetando outras formas de vida marinha no Golfo do México. De acordo com os pesquisadores, os golfinhos são "bioindicadores eficazes da saúde do ecossistema", indicando que essa poluição provavelmente afeta uma gama muito maior de organismos marinhos num ambiente que não foi projetado para lidar com a exposição a esses compostos tóxicos.

Poluição persistente

Algumas das descobertas não são recentes. Aparentemente, 12 das amostras analisadas são de 2013, sugerindo que a contaminação farmacêutica é um problema antigo (pelo menos uma década) que obviamente foi subestimado. De fato, 40% dos medicamentos detectados foram encontrados em amostras históricas, ressaltando a necessidade de investigações mais profundas para entender a duração e o escopo do problema.

Não é um caso inédito

Em 2024, uma dúzia de tubarões na costa do Rio de Janeiro foram relatados como tendo testado positivo para traços de cocaína, indicando que narcóticos "humanos" estão afetando uma variedade de espécies marinhas em diferentes regiões do mundo. Um fenômeno que aponta para um padrão global no qual os resíduos farmacêuticos estão invadindo ecossistemas oceânicos e afetando criaturas que nunca deveriam ter sido expostas a essas substâncias.

Necessidade de monitoramento

Os pesquisadores enfatizam em seu trabalho a importância de conduzir avaliações mais detalhadas e estabelecer sistemas de monitoramento contínuo para entender melhor o impacto da poluição farmacêutica nos ecossistemas. Isso inclui a revisão de amostras históricas e análise transversal de diferentes espécies para determinar a persistência e a extensão do problema.

Além disso, as descobertas ressaltam a necessidade de abordar as fontes dessa poluição, incluindo o gerenciamento dos próprios resíduos farmacêuticos, para proteger as espécies marinhas e a saúde geral dos oceanos.

Imagem | Caroline Legg, APLA

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