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Se Carlos Tavares saiu da Stellantis, é por causa de um problema gigante nos Estados Unidos; Um que já nos obriga a doar carros elétricos

  • Os EUA concentraram os problemas que acabaram por tirar Carlos Tavares da Stellantis

  • A empresa possui um estoque de dezenas de milhares de carros não vendidos

  • Alguns modelos da Alfa Romeo ou Fiat demoram mais de um ano para encontrar comprador

Carros parados no estoque levaram a crise que afastou Carlos Tavares / Imagem: Fiat
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Quanto custa ter um carro completamente parado? Qual é o custo para uma concessionária quando um veículo acumula poeira dia após dia? Evidentemente, isso depende do custo do veículo, da urgência que a empresa tem para vendê-lo e, principalmente, se espera ou não vendê-lo algum dia.

Uma concessionária dos EUA deu sua própria resposta: seu espaço vale o mesmo que um Fiat 500 elétrico.

O estoque morto

No campo da logística, fala-se de "estoque morto" quando há algum tipo de produto no inventário que não se espera que possa ser vendido no futuro. É um produto que chegou aos armazéns por excesso de confiança, por uma má análise da demanda, porque tem algum defeito que impede sua venda ou, simplesmente, porque não teve o sucesso esperado no mercado.

O problema é que esse produto não só não gera lucros, como também causa prejuízos para a empresa. Em um armazém, espaço é dinheiro, e ter um produto que não será vendido significa que ele está ocupando o espaço de outro do qual se espera lucro, além de continuar gerando custos fixos próprios de um armazém (aluguel do espaço, segurança, etc.).

Melhor dar de presente

Quando se chega a esse ponto, o melhor é dar saída ao produto como puder. E, se for necessário, dá-lo de graça. Foi isso o que fez uma concessionária em Denver (Colorado), nos Estados Unidos, de carros Dodge, Ram e Fiat. A história foi trazida pelo veículo The Autopian, que confirmou que um vendedor está oferecendo Fiat 500 elétricos por meio de leasing.

O meio de comunicação afirma que o vendedor coloca o carro elétrico nas mãos do cliente por um custo de zero dólares ao mês durante 27 meses, desde que o cliente se responsabilize pelos impostos associados à transação. O novo proprietário teria que pagar quase 1.700 dólares (R$ 10,3 mil) por esse aluguel de pouco mais de dois anos, cerca de 62 dólares/mês (R$ 376).

O contrato de leasing está limitado a um máximo de 10 mil milhas (quase 16.100 km) e é necessário pagar os impostos em um único pagamento. A oferta, conforme explicam no Autopian, teve um efeito imediato. A confirmação de uma testemunha local indicou que a oferta é tão boa quanto foi anunciado.

A ponta do iceberg

A história contada pelo The Autopian é apenas a ponta do iceberg do problema que a Stellantis enfrenta nos EUA. Um problema que, de fato, resultou na saída de Carlos Tavares da companhia, após um pedido de demissão que, ao que tudo indica, foi forçado.

O português iniciou um rigoroso corte de gastos que marcou toda a sua liderança à frente do conglomerado. Entre as polêmicas medidas, ele obrigou as empresas a deixarem claras quais eram suas perspectivas de vendas. Números que, nos Estados Unidos, poderiam ter sido inflacionados, mas isso não fez Tavares perder o ritmo e ele continuou enviando carros para a América, apesar de estarem acumulando cada vez mais poeira, como explicam no canal PowerArt.

A empresa passou de margens operacionais invejáveis (+12% em 2023) para 5,5% neste 2024. Isso a levou a confirmar que reduziria sua produção em 200 mil veículos. Além de uma regulamentação de emissões em 2025 para a Europa, que obrigaria a redução das vendas de carros com motores de combustão, também havia outro problema nos EUA: as dezenas de milhares de veículos não vendidos. Para termos uma ideia, a CarEdge afirmava que, em média, esses veículos levavam 617 dias para serem vendidos nos Estados Unidos.

Em pé de guerra

Diante dessas perspectivas de venda, as concessionárias da Stellantis se levantaram contra a situação. O Conselho Nacional de Comerciantes Stellantis dos EUA enviou uma carta aberta a Carlos Tavares, acusando-o de provocar um "desastre".

No Motor1.com, deram porcentagens para tudo isso. Entre janeiro e junho de 2024, as vendas da RAM caíram 26%, as da Dodge 16%, as da Chrysler 9% e as da Dodge 8%. Tudo isso era consequência de preços "exageradamente caros, de carros de luxo", segundo Gus Carlson do The Globe and Mail. Cole Smith, da Hagerty, se expressava de maneira muito similar, afirmando que todo o problema se resumia ao preço e ao nível do produto.

Mais de um ano

Mas o maior problema em um estoque morto era o enfrentado pela Stellantis. Se o carro não tem saída, perde valor e continua gerando custos para a empresa. Além disso, fica para trás em relação à concorrência, que preenche o mercado com alternativas mais atraentes do que o que o conglomerado tinha nos armazéns.

É, portanto, um cisto que vai ficando cada vez maior. O tamanho, no caso da Stellantis, atingia anos. Como já mencionamos, em média, um Alfa Romeo Giulia que chega aos Estados Unidos leva mais de um ano para ser vendido, mas, como registrado pela CarEdge, esse não era um caso isolado. Para vender um Alfa Romeo Stelvio, o vendedor precisava de 456 dias e, para dar saída ao Fiat 500e, eram necessários 454 dias.

Um produto de difícil saída

O caso do Fiat 500e é especialmente crítico para a empresa. As vendas de carros elétricos nos Estados Unidos continuam baixas. Como exemplo, os dados entre janeiro e setembro de 2024 mostram que, ao final do terceiro trimestre, os carros elétricos marcaram um novo recorde, mas ainda representaram apenas 8,9% das vendas totais. Na Alemanha, onde as ajudas a essa tecnologia foram retiradas e o mercado está enfrentando uma grande queda, a participação se mantém em 13,4%.

Se o carro elétrico tem dificuldade para deslanchar nos Estados Unidos, isso se deve, em parte, à sua rede de recarga. De fato, a sua baixa densidade forçou os fabricantes a adotarem o padrão da Tesla para tornar seus carros mais atraentes. Com poucas tomadas e distâncias enormes, são necessários carros que garantam centenas de quilômetros de autonomia entre uma parada e outra. Isso é a antítese do que oferece o Fiat 500e.

Portanto, entre os carros elétricos mais vendidos (dados coletados pelo InsideEVs), encontramos a Tesla como grande beneficiada. Seu Tesla Model Y vendeu, no terceiro trimestre de 2024, um total de 86.801 unidades, e o Tesla Model 3 teve 58.423 unidades. O terceiro carro elétrico mais vendido do país foi o Tesla Cybertruck (16.692 unidades). O próximo foi o Ford Mustang Mach E (13.392 unidades). Os outros modelos que compõem o Top 10 venderam menos de 15.000 unidades no terceiro trimestre de 2024, e todos são modelos SUV ou sedans com mais de 4,50 metros.

Foto | Fiat

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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