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O que antes custava 1,5 bilhão de dólares à SpaceX, agora custa 15: é assim que ela está pulverizando lançamentos espaciais

Já em 2025, a empresa de Elon Musk entrou em um novo patamar onde não tem concorrência.

Space X e o futuro. Imagem: NASA, Visual Capitalist
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Até pouco tempo atrás, a simples ideia de lançar o mesmo foguete ao espaço várias vezes em um único fim de semana parecia coisa de ficção científica. No entanto, tudo mudou a partir de 4 de junho de 2010, com o primeiro lançamento do Falcon 9 da SpaceX. Desde então, a empresa de Elon Musk não parou de fazer história na indústria espacial. Agora, já em 2025, ela praticamente não tem rivais.

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Segundo o site ArsTechnica, no último fim de semana a SpaceX atingiu um novo nível de eficiência com o Falcon 9, alcançando 400 missões bem-sucedidas e 375 recuperações de propulsores até o momento.

Em novembro, a empresa quebrou um recorde de tempo de reutilização, lançando um propulsor apenas 13 dias e 12 horas após seu pouso anterior – superando o recorde anterior de 21 dias. Além disso, a SpaceX realizou 16 lançamentos do Falcon 9 em um único mês, incluindo missões do Starlink e o envio de satélites para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

E, claro, há muito mais por vir.

Ritmo sem precedentes

Em 2024, a SpaceX realizou a impressionante marca de 119 lançamentos do Falcon 9, com uma média de um lançamento a cada 2,3 dias. Se cumprir seu objetivo de mais 15 lançamentos em dezembro, o total anual pode chegar a 134 missões.

Esse não é apenas um número qualquer. Somando as duas missões do Falcon Heavy, o total sobe para 136 lançamentos, superando o número total de voos do ônibus espacial da NASA ao longo de 30 anos de serviço (135 missões).

Em outras palavras, a comparação destaca a capacidade do Falcon 9 de alcançar, em um único ano, o que um programa inteiro da agência espacial norte-americana levou três décadas para realizar.

O segredo da reutilização

O dado destacado no título ajuda a entender o que a empresa de Elon Musk conseguiu. O Falcon 9 cumpre o principal objetivo do programa: reutilização rápida e de baixo custo.

Há muitos outros fatores envolvidos, mas um número chama a atenção: uma única missão do ônibus espacial da NASA custava aproximadamente 1,5 bilhão de dólares.

Em comparação, cada lançamento do Falcon 9 tem um custo marginal interno estimado em apenas 15 milhões de dólares. Isso significa que a SpaceX opera com uma frequência de voos 30 vezes maior que a do ônibus espacial, a apenas uma centésima parte do custo.

É claro que isso só foi possível graças ao apoio financeiro da própria NASA ao longo dos anos, permitindo que a SpaceX alcançasse esse nível inédito de eficiência.

A agência, por exemplo, investiu 400 milhões de dólares no desenvolvimento do Falcon 9 e da cápsula Dragon, além de garantir contratos para missões de carga e transporte de astronautas (CRS) e para missões tripuladas à Estação Espacial Internacional com a Crew Dragon.

O processo de reacondicionamento

Parte do "segredo" do Falcon 9 foi revelado por Elon Musk há alguns anos à Aviation Week. O processo de reacondicionamento dos boosters do foguete inclui inspeções detalhadas, como radiografias dos tanques de propelente, limpeza das pernas de pouso e remoção de resíduos dos motores Merlin, já que o querosene usado como combustível deixa fuligem após a queima.

Musk destacou que esse processo é relativamente simples, com um custo de reacondicionamento de apenas 250 mil dólares por booster. A maioria dos motores e componentes permanece intacta entre os voos, com apenas algumas peças, como as turbinas, sendo substituídas ocasionalmente.

Original

Custos e eficiência econômica

Sobre a distribuição dos 15 milhões de dólares de custo marginal por lançamento, Musk explicou que 10 milhões vão diretamente para a fabricação de uma nova segunda etapa – que não pode ser reutilizada e precisa ser substituída a cada lançamento.

Os 5 milhões restantes cobrem custos associados, como propelente, recuperação de componentes e reacondicionamento.

Além disso, e o mais importante, Elon revelou que a SpaceX cobra 50 milhões de dólares por um lançamento reutilizado (valor que aumentou ao longo do tempo), gerando uma margem de lucro significativa que financia projetos como o Starlink, que pode se tornar extremamente lucrativo no futuro, e o desenvolvimento da Starship. Outro fator essencial é que a empresa consegue economizar substancialmente ao reutilizar seus boosters.

Por exemplo, dois lançamentos consecutivos de um Falcon 9 reutilizado geram cerca de 110 milhões de dólares em receita, com um custo total de 65 milhões de dólares, resultando em um lucro líquido de aproximadamente 47 milhões de dólares.

Dessa forma, se um booster for usado em 10 lançamentos, os custos totais são estimados em 210 milhões de dólares, o que permite que a SpaceX utilize parte desses voos para missões internas, como as do Starlink, praticamente sem custo adicional.

Comparação com a indústria

Todos esses números permitiram algo sem precedentes no setor: a SpaceX não tem concorrência. Nenhuma outra empresa conseguiu recuperar ou reutilizar seus foguetes de maneira rotineira, enquanto a maioria ainda tenta descobrir como desenvolver sua própria versão do Falcon 9.

Se analisarmos os dados, em 2024 a SpaceX realizou mais lançamentos do que seus concorrentes em longos períodos. No mesmo ano, a empresa igualou o número de lançamentos da Roscosmos desde 2013, os da United Launch Alliance desde 2010 e os da Arianespace desde 2009.

Além disso, apenas em 2024, o Falcon 9 voou mais vezes do que foguetes históricos como o Ariane 4, Ariane 5 e Atlas V durante toda a sua trajetória.

Desafios

Apesar do enorme sucesso, a SpaceX também enfrentou contratempos. Em julho, uma falha na segunda etapa resultou na perda de 20 satélites Starlink, marcando o primeiro grande revés do Falcon 9 desde 2016.

Em agosto, um propulsor falhou ao tentar pousar após pegar fogo durante a descida, embora esse tenha sido seu 23º voo, estabelecendo um recorde de reutilização. Outro propulsor igualou esse recorde em novembro ao completar seu voo, e a expectativa é que atinja 24 missões antes do fim de 2024.

No fim das contas, a trajetória da SpaceX tem sido uma corrida sem precedentes, liderada pelo Falcon 9 e seus sucessores. Esses foguetes não apenas redefiniram os padrões de reutilização e eficiência na indústria aeroespacial, mas também demonstraram a capacidade da empresa de atingir marcos históricos em um ritmo nunca visto antes. Seu modelo de baixo custo e alta frequência está transformando a exploração espacial, abrindo caminho para uma nova era no acesso ao espaço e, possivelmente, para a tão esperada chegada a Marte.

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