A Coreia do Norte tem uma ideia nova: tornar-se um destino de férias. Nos bastidores, ainda que com nuances, há uma inspiração clara: o município de Benidorm, na Espanha, conhecido pelas praias paradisíacas e pela vida noturna. A inauguração do complexo turístico de Wonsan-Kalma está prevista para maio deste ano e não apenas o projeto segue adiante, como já há uma data prevista para a chegada dos primeiros turistas, por enquanto apenas da Rússia.
Inspirado na Espanha
O projeto de Wonsan-Kalma começou em 2014, com a visão de transformar a península de Kalma em um destino de luxo, com hotéis, restaurantes e atrações, incluindo até planos iniciais para um hotel subaquático. A grandiosidade do projeto ficou evidente em 2017, quando uma delegação de 16 funcionários norte-coreanos visitou a Espanha para estudar modelos de desenvolvimento turístico em locais como Marina d'Or e Terra Mítica, em Benidorm.
As experiências adquiridas influenciaram o design do complexo, com foco em infraestrutura hoteleira, lazer e serviços complementares, segundo informou a Reuters na época. O único obstáculo? A região norte-coreana é conhecida por um detalhe pouco compatível com o turismo de sucesso: no passado, a costa de Wonsan foi utilizada para testes de mísseis balísticos. De fato, em 2020, o Estado-Maior da Coreia do Sul alertou que dois projéteis haviam sido lançados diretamente de Wonsan, a cerca de 180 quilômetros de Seul.
Um megaprojeto sob controle estatal
Segundo o especialista norte-americano em Coreia do Norte, Jacob Bogle, o complexo turístico será o maior desenvolvimento do tipo no país e possivelmente o maior do mundo sob um único proprietário estatal. Diferentemente de Benidorm, que se desenvolveu ao longo do tempo com diversas iniciativas privadas, o projeto de Wonsan será uma estrutura única e centralizada, operada exclusivamente pelo governo.
A esse respeito, o complexo incluirá instalações como um aquário e centros esportivos, mas seu foco turístico estará sujeito às restrições tradicionais da Coreia do Norte, onde os visitantes devem seguir itinerários rigidamente planejados, geralmente em grupos organizados a partir de fábricas, escolas ou empresas estatais.
O turismo como via de ingresso de divisas
Diferentemente de outras áreas da economia norte-coreana, o setor de turismo não está sujeito a sanções internacionais, o que representa uma oportunidade chave para obter dinheiro estrangeiro. Daí o motivo de o líder norte-coreano, Kim Jong Un, ter destacado que o país conta com "recursos turísticos ricos e diversos" que podem ser aproveitados para revitalizar a economia regional e melhorar os níveis de vida da população.
Os principais mercados alvo para o turismo norte-coreano, pelo menos no início, parecem claros: Rússia e China, países com os quais Pyongyang tem fortalecido os laços políticos e econômicos nos últimos anos. De fato, após a reabertura parcial das fronteiras em 2023, os primeiros turistas a visitar o país foram russos, e a agência estatal de viagens, Korean International Travel Company, tem promovido as atrações turísticas da Coreia do Norte entre os viajantes russos. Agora, essa aposta foi reafirmada.
Primeiros pacotes: o turista russo
A notícia nos últimos dias é que uma agência de viagens russa começou a promover a nova zona turística de Kalma com a ideia de que os primeiros turistas estrangeiros a visitar o complexo sejam russos. A empresa Vostok Intur, com sede em Vladivostok, anunciou três datas de viagem para o resort turístico Wonsan-Kalma, começando em julho, segundo uma publicação em seu canal no Telegram.
A agência oferece pacotes de oito dias, com a primeira excursão programada para 7 a 14 de julho, seguida por duas viagens adicionais em agosto. O custo do pacote: 1.400 dólares (R$ 8,1 mil), com despesas adicionais a serem pagas em rublos russos e incluindo:
- Alojamento por sete noites, com três refeições diárias.
- Voos de ida e volta para a Coreia do Norte.
- Visitas guiadas a Pyongyang ao final da viagem, como parte da experiência.
Segundo a agência, os turistas poderão desfrutar de um ambiente "ecologicamente limpo", com opções de entretenimento para todos os orçamentos e uma variedade gastronômica adaptada a diferentes gostos.
Uma abertura estratégica
O anúncio do início das operações da zona turística de Kalma chega após uma década de construção, com a abertura oficial prevista agora para o meio de 2025. Kim Jong-un, que inspecionou pessoalmente o complexo junto à sua filha, qualificou o projeto como um “grande passo” no desenvolvimento da indústria turística do país, descrevendo-o como um lugar “espetacular, bonito e magnífico”.
Primeiro a Rússia
O interesse em atrair turistas russos para a zona de Kalma reforça a crescente relação entre Moscou e Pyongyang, fortalecida pela cooperação em setores estratégicos após o aumento da tensão entre a Rússia e o Ocidente devido à guerra na Ucrânia. A Coreia do Norte parece ter identificado a Rússia como um mercado prioritário, dado que o turismo não está sujeito a essas sanções internacionais e oferece uma via segura para a obtenção de moeda estrangeira.
Desafios da Coreia do Norte, destino turístico
Não há dúvida de que, embora a promoção turística por meio de agências russas marque um passo importante e decisivo para a exploração do complexo de Kalma, o projeto enfrenta desafios conhecidos, como as restrições de mobilidade dentro do país, o acesso limitado a informações objetivas e ainda a questão da segurança para os viajantes.
Apesar disso, a nação confia que a zona turística sirva como uma ferramenta chave para impulsionar o desenvolvimento regional e melhorar a percepção internacional do país como destino turístico.
Imagem | Clay Gilliland
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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