Ele queria mostrar que Hegel não era tão difícil de entender; ele só precisou de 10 anos e quase 400 vídeos para explicar todas as obras do autor

Comecemos pelo começo: Hegel é um osso duro de roer. A própria Wikipedia deixa claro que “suas obras têm fama de difíceis”, e basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar descrições como “provavelmente o livro mais complicado e incompreensível de toda a história da filosofia” ou que ele é capaz de entediar até mesmo as ovelhas.

No entanto, nem todos concordam.

Um dos "projetos mais impressionantes" (e ousados) da filosofia recente. Em 27 de fevereiro de 2014, um professor de filosofia de Wisconsin decidiu iniciar uma série de vídeos para explicar, de forma fácil e acessível, aquela que talvez seja a obra central do filósofo alemão: Fenomenologia do Espírito.

Assim nasceu Half Hour Hegel.

O que é exatamente Half Hour Hegel?

Como mencionei, há 10 anos, Gregory B. Sadler decidiu analisar a Fenomenologia do Espírito de Hegel, parágrafo por parágrafo. Essa era a ideia geral por trás do projeto e, considerando as metas de tempo que ele estipulou, estou convencido de que ele não tinha noção da encrenca em que estava se metendo.

Desde então, ele gravou um vídeo de 25 a 30 minutos para cada parágrafo. Foram necessários 9 anos e meio e mais de 370 vídeos para concluir o projeto.

Don Gregory B. Sadler Parera

Sadler é professor no Milwaukee Institute of Art and Design e, há anos, é bastante conhecido como divulgador de filosofia, literatura e estudos religiosos. Milhares de vídeos, centenas de podcasts e uma quantidade quase incalculável de artigos, reportagens, newsletters e guias para iniciantes nesse universo, tudo isso valida sua trajetória.

Mas o projeto de Hegel é, sem dúvida, o ápice.

Hegel em dois minutos

Embora as ideias do pensador de Stuttgart sejam, como podemos imaginar, difíceis de resumir, é fácil entender o enorme impacto que sua obra (a apoteose do idealismo alemão) teve no mundo contemporâneo. Pensadores como Nietzsche, Kierkegaard e Marx “escreveram” em oposição a Hegel.

Na verdade, embora sua influência final seja amplamente debatida, é inegável que o marxismo (um dos movimentos mais importantes do século XX) é um "filho" do hegelianismo. No fundo, compreender bem Hegel é entender melhor boa parte dos dois últimos séculos.

O Disneyland dos doxógrafos

Por anos, a filosofia contemporânea tem sido criticada por sua tendência à "pura doxografia" — ou seja, de haver muitas pessoas dedicadas a revisitar incessantemente ideias que outros pensadores expuseram há décadas, séculos ou milênios.

"Todo esse esforço não seria melhor aproveitado em algo além de comentários de texto com pretensões?", perguntam-se muitos jovens filósofos. E, em boa parte, eles têm razão. Não que os grandes filósofos do passado não tenham algo a nos dizer; o problema é que, muitas vezes, a filosofia realmente existente transforma a glosa de textos em um fim em si mesma.

No entanto, é impossível observar o trabalho de Sadler e não tirar o chapéu.

Imagem | Gregory B. Sadler