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Japão enfrenta crise histórica do preço do arroz: preço já aumentou mais de 30%

O custo dos grãos utilizados em restaurantes aumentou significativamente, entre 30 e 40%

Arroz Esta Com O Maior Preco Em Muitos Anos No Japao
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

No Japão, o arroz tornou-se mais do que um dos pilares da dieta e a base de alguns dos seus pratos mais populares, como o nigiri ou makis. Há alguns meses também virou uma grande dor de cabeça para o país, que tem que lidar com o menor estoque de grãos dos últimos 20 anos e com o aumento dos preços, 20%, 30% ou até 40% superiores aos de 2023.

Prato delicioso... um problema amargo.

Crise do arroz?

Isso mesmo. No Japão, não são bons tempos para os amantes de sushi ou qualquer outro prato à base de arroz. Em questão de meses, uma série de fatores se combinaram no país e levaram à escassez de estoques e ao aumento dos preços.

Esta tempestade em particular foi influenciada pela política japonesa nos últimos anos, pelo efeito do calor extremo nas colheitas, pela “compra de pânico” incentivada no verão pela ameaça de um “mega terremoto” e pelo boom turístico no país, que fica lotado de visitantes ansiosos para comer sushi. Os grãos são escassos, e os preços estão subindo. A imagem mais reveladora da crise veio em agosto, quando circularam fotos de lojas com cartazes implorando para que clientes comprassem um único pacote por dia.

Ficou tão caro?

Os dados divulgados pelo jornal japonês Nikkei são certamente impressionantes. A publicação garante que o arroz utilizado pelos restaurantes no Japão está muito mais caro do que há um ano: entre 30% e 40% a mais, percentuais que se explicam pela crise e pelos esforços das empresas para garantir o abastecimento do grão. Como referência, o Nikkei aponta os valores movimentados pelo Grupo JA, conglomerado de cooperativas regionais do país com grande peso no setor.

O grupo fixou um saco de 60 kg de uma variedade de arroz amplamente utilizado em cardápios por 15 mil ienes (US$ 105, cerca de R$ 580). Isso é 39% a mais que no ano passado. O Nikkei cita outra variedade, também popular entre restaurantes e empresas que fabricam alimentos preparados com arroz, que ficou 38% mais cara. Agora os sacos custam cerca de 16,5 mil ienes, cerca de US$ 115, ou aproximadamente R$ 640).

Existem mais referências?

Sim. Embora os dados possam variar, todos apontam para um aumento no preço dos grãos. Citando dados do Ministério do Interior, a agência Kyodo afirma que em agosto os preços do arroz subiram 28,3% face ao mesmo mês do ano passado, o que explica – ao lado de outros fatores, como o custo de outros alimentos ou da energia – o aumento no IPC do país. Outras fontes apontam que as embalagens vendidas nas lojas ficaram 23% mais caras: de 1.839 ienes (US$ 12, ou R$ 67) por 5 kg no ano passado passaram para 2.266 ienes (US$ 15, ou R$ 83).

O cenário não é totalmente novo. Em julho, o grão já estava no maior nível dos últimos 11 anos. No geral, o Nikkei estima que as variedades de arroz para uso doméstico se tornaram de 10% a 30% mais caras em comparação com 2023.

"Qualquer preço"

As aspas são de um funcionário do Grupo JA, que recentemente afirmou que, nos seus esforços para garantir um fornecimento estável de grãos em meio à crise, uma empresa chegou a oferecer "pagar qualquer preço", desde que fosse garantido o valor necessário para o seu negócio.

Neste contexto, o Japão vê como há operadores que assumem despesas muito mais elevadas do que há um ano em troca da proteção dos seus estoques, enquanto lojas e restaurantes são forçados a aumentar os preços. Estima-se que o custo de uma porção de arroz com curry, um alimento popular e acessível no Japão, tenha atingido 342 ienes (US$ 2, ou R$ 12)  no verão, o valor mais alto em quase uma década e cerca de 44 ienes a mais que no ano anterior. O motivo: o aumento do preço dos vegetais e a escassez de arroz.

"Já estava esgotado"

Um morador da província de Chiba, nos arredores de Tóquio, explicou ao China Daily que tomou conhecimento da crise do arroz que o país atravessava em agosto, quando encontrou as prateleiras vazias. “Quando fui ao supermercado o arroz já tinha acabado. Só restavam marcas estrangeiras. Começamos a comer mais macarrão”, disse. Outro morador de Ibaraki reclamou do preço dos grãos, que “tem aumentado gradativamente”.

As reclamações estão de acordo com a análise de especialistas ou organizações como o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que nos últimos meses tem se dedicado a investigar as causas da crise. A instituição alertou recentemente que os estoques atingiram “o nível mais baixo em duas décadas”.

Um fenômeno complexo

A crise do arroz só pode ser compreendida por uma combinação de fatores, como o efeito do calor nas colheitas, o “pânico de compras” e o aumento da procura, incentivado pelo turismo em níveis recordes. Para especialistas como Kazuhito Yamashita, pesquisador do CIGS, o fator determinante foi outro: “A política de redução da área cultivada”.

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