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Fabricantes de carros têm um problema tão simples quanto difícil de resolver: não conseguem entender a Geração Z

  • A Geração Z colocou a compra de um carro em segundo lugar, só consideram se for “uma pechincha”

  • Estão mais abertos, também nos Estados Unidos, ao transporte público e às caminhadas

Entender Os Gen Z E Dificil Para Os Fabricantes De Carros
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Pensar no futuro apenas com base em como nos comportamos no passado é um erro. Ou, pelo menos, há uma boa chance de cometermos um erro a partir desse olhar. Cada geração vive num contexto social, econômico, profissional e cultural que nos obriga a repensar o que esperamos do futuro.

O mesmo se aplica ao mercado de automóveis, imerso numa profunda crise de identidade. Fabricantes têm o desafio de conquistar um público jovem que, ao longo dos anos, se tornou mais consciente do impacto das suas ações no meio ambiente. Há também um certo consenso de que a Geração Z é mais conservadora nas suas ações e se sente constantemente explorada.

A chegada da Geração Z ao mercado de automóveis (nascidos no final dos anos 90 e início dos anos 2000) coincide com um momento em que os veículos têm sido menos atraentes. Décadas atrás, o carro era uma posse emancipatória que conferia liberdade. Também havia uma sociedade de braços abertos para o automóvel.

Os jovens que agora ingressam no mercado têm convivido com uma rejeição gradual aos automóveis. Especialmente nas grandes cidades, o espaço anteriormente concedido aos veículos foi reduzido para direcioná-lo a pedestres e ao transporte público, especialmente na Europa. Estes mesmos consumidores, além disso, estão mais adaptados ao pay-per-use (scooters, bicicletas, motocicletas...) e têm mais dificuldade em buscar o primeiro carro.

Até mesmo o salto entre a Geração Z e a Geração Millennial é impressionante, sendo os primeiros muito mais ativos no uso dos transportes públicos ou na prática de caminhadas como forma de deslocamento.

Ao mesmo tempo, o número de viagens tem diminuído nos grandes centros urbanos. Segundo dados da DGT recolhidos pelo jornal 20 Minutos, os serviços de streaming ou o comunicação por meio de aplicativos reduziram idas ao cinema ou a casa de amigos, para citar apenas dois exemplos.

Portanto, imaginar como evoluiremos daqui a alguns anos sem levar em conta todas as particularidades de cada nova geração é provavelmente enganoso. Um erro em que, segundo alguns especialistas, fabricantes tradicionais podem cair se mantiverem os incentivos à compra nas mesmas condições de agora.

Nós não os entendemos

Um dos problemas que as empresas enfrentam é a dificuldade em transmitir a sua mensagem aos jovens. Há décadas o sistema era simples: lançava-se um produto mais acessível, com uma estética mais esportiva e fazia um investimento em marketing (em televisão e revistas).

Hoje em dia, o público está mais dividido e é mais difícil para as empresas alcançarem perfis em que o algoritmo priorize o envio de mensagens que combine com os interesses do usuário. Esses mesmos usuários podem não assistir à televisão tradicional e, por isso, fogem das propagandas.

A Bloomberg relata o caso de Volkswagen, Mercedes e Porsche, que recorreram à consultora suíça Zeam, liderada por Yaël Meier e Jo Dietrich (que têm menos de 25 anos), para se conectarem com o público mais jovem e perceberem o que está nas suas mãos. Aliás, a consultora é especialista em aproximar grandes marcas das novas correntes de pensamento dos jovens e abrir as portas neste mercado.

“Eles estão perdendo toda uma próxima geração de clientes para marcas de automóveis chinesas”, diz Dietrich ao diário empresarial e coloca o foco no dinheiro. Ele ressalta que se essas empresas oferecerem um produto mais barato e acessível, aquele fabricado na Alemanha não será suficiente para satisfazer o comprador porque ele estará mais aberto a experimentar coisas novas.

De acordo com os dados da consultora, quase um em cada dois compradores da Geração Z na Suíça prefere comprar um carro “barato” do que adquirir um veículo novo ou alugar um carro. Por outras palavras, os veículos particulares continuam a ser interessantes, mas apenas se tiverem um preço muito atrativo, uma vez que as pesquisas sugerem que os potenciais motoristas (também nos Estados Unidos) estão mais abertos à utilização dos transportes públicos.

Meier e Dietrich apontam que o setor automotivo mais tradicional deve fazer um esforço para se abrir ao público feminino e apostar em novas tecnologias como novos usos para telas ou aplicação de inteligência artificial em automóveis.

Estas são conclusões também apoiadas por algumas grandes vozes da indústria. Jim Farley, CEO da Ford, disse depois de uma viagem à China que os fabricantes locais estão conquistando terreno dos fabricantes ocidentais porque são mais ousados ​​nas suas apostas em software. Isso é algo que também destacou Kevin Williams, editor da InsideEVs, que ficou surpreso com a infinidade de possibilidades oferecidas pelos novos fabricantes chineses em suas telas onipresentes.

Sem uma mensagem clara para vender (a de “viagem” ou “liberdade”, por exemplo), os fabricantes tradicionais têm a obrigação de buscar um novo rumo para conquistar um público que tem dificuldade de atender. Ao mesmo tempo, o carro elétrico, que deveria ser um produto ideal, ainda é muito caro se olharmos para os fabricantes ocidentais. Não existe nenhum carro elétrico particularmente barato e as promessas devem, a curto prazo, se manter em veículos com autonomia muito contida.

Fabricantes da Europa e dos EUA precisam se misturar à Geração Z, mas, no momento, são como óleo e água.

Foto | Logan Fisher

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