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Há 6 meses perdemos um submarino autônomo nas águas da Antártida - agora sabemos o que ele viu antes de afundar

A geleira Thwaites, conhecida como o "glaciar do juízo final", é uma das mais importantes para o oceano

Antartica
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Há alguns meses, a Universidade de Gotemburgo anunciou uma má notícia: havia acabado de perder um submarino não tripulado que custou 3,4 milhões de euros (R$ 20 milhões). Mas o submarino Ran não desapareceu em vão: seus dados nos permitiram entender melhor o que se esconde atrás do “glaciar do juízo final”.

A equipe que operava o submarino quando ele se perdeu sob o gelo ártico em janeiro de 2024 publicou os resultados de sua pesquisa. O estudo nos revela aspectos importantes do lado oculto do Glaciar Thwaites, que se encontra completamente debaixo d'água.

Glaciar “do juízo final”

O Glaciar Thwaites, apelidado de “do juízo final”, é um dos mais importantes do mundo, especialmente por seu volume. Segundo as estimativas da Colaboração Internacional do Glaciar Thwaites, os 483.000 km³ de água que essa massa de gelo abriga seriam suficientes, se derretessem, para elevar o nível do mar em mais de meio metro. Daí seu apelido apocalíptico.

Ele também não é um glaciar comum por outro motivo: sua localização. O Glaciar Thwaites não está situado sobre terra firme como muitas outras geleiras. Seu gelo se estende também sobre a superfície do oceano, criando uma língua de gelo ou plataforma de gelo. Sob essa plataforma, a água do oceano se entrelaça com a água do próprio glaciar, gerando dinâmicas de interesse especial para aqueles que estudam essa massa de gelo.

27 dias de operações

Antes de desaparecer sob o gelo Antártico, o Ran esteve operando durante quase um mês sob a plataforma de gelo Dotson, vinculada ao Thwaites. Percorreu mais de mil quilômetros, adentrando cerca de 17 km na cavidade submersa debaixo da plataforma.

Conforme explica a equipe em seu estudo, publicado na revista Science Advances, alguns desses resultados já eram esperados. Por exemplo, observa-se que as correntes submarinas mais fortes geram erosão sobre a camada de gelo, resultando em um maior derretimento. Assim, pôde-se esclarecer o motivo pelo qual o lado ocidental da plataforma Dobson derrete mais rapidamente.

A equipe também aponta que algumas das observações levantam novas perguntas. Por exemplo, de onde vêm as irregularidades na superfície oculta do gelo, semelhantes às dunas em um deserto? Uma provável explicação é o fluxo da água.

A face oculta do gelo

O estudo é um de muitos que analisaram esse colosso gelado. No entanto, a equipe do Ran conseguiu adentrar lugares que antes pareciam impossíveis. Até agora, o estudo dessa massa de gelo dependia de medições por satélite ou da extração de núcleos de gelo do glaciar, lembra a pesquisadora Anna Wåhlin, que lidera o estudo recém-publicado.

“Anteriormente, utilizávamos dados de satélites e núcleos de gelo para observar como os glaciares mudam ao longo do tempo. Ao navegar com o submarino dentro da cavidade, conseguimos criar mapas de alta resolução do gelo em sua face inferior. É um pouco como ver a face oculta da Lua,” indicou Wåhlin em um comunicado à imprensa.

Esse texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | Filip Stedt / Anna Wåhlin

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