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Ninguém entendeu como músico desconhecido se tornou milionário do nada; o que o FBI descobriu foi uma das maiores fraudes da indústria musical

O caso que os EUA acabaram de revelar demonstra que as leis estão muito atrás da tecnologia, mais uma vez.

Musico Fica Milionario Em Poucos Dias Com Fraude Em Streamings
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

No início do segundo semestre, as grandes gravadoras da indústria musical começaram a se posicionar contra os desafios que estavam por vir. Sony, Warner e Universal, entre outras, levantaram suas vozes pedindo uma indenização por danos e prejuízos aos serviços Suno Ai e Udio.

O caso que acaba de ser revelado nos Estados Unidos é a consequência de um cenário, o da música e sua relação com a IA, que está longe de chegar a um ponto de acordo. Também é um aviso para quem está trabalhando nessa área.

O produtor que ninguém conhecia

Michael Smith, 52 anos, de Cornelius, Carolina do Norte, se apresentava como músico e produtor. Embora seu portfólio musical fosse pequeno, ele conseguiu acumular mais de 10 milhões de dólares em royalties de serviços de streaming em pouco tempo.

Isso chamou a atenção da indústria, chegando aos ouvidos do FBI, que iniciou uma investigação para verificar a legalidade dos ganhos de Smith. O que foi descoberto revelou um dos maiores esquemas de fraude envolvendo a indústria musical e serviços de streaming como o Spotify. Agora, ele enfrenta uma pena de até 60 anos de prisão.

O esquema de fraude foi revelado!

O FBI prendeu Michael Smith, acusando-o de diversos crimes graves por supostamente ter fraudado mais de 10 milhões de dólares em royalties. O modus operandi? Ele usou centenas de milhares de músicas geradas por IA.

Segundo a acusação, Smith criou milhares de contas de bots em plataformas como Spotify, Amazon Music e Apple Music. Essas contas transmitiam automaticamente as músicas geradas por IA que ele havia disponibilizado nas plataformas, gerando até 661.440 streams por dia. Com esse esquema, ele acumulou 1,2 milhão de dólares em royalties anuais.

O dinheiro vinha dos artistas

Conforme apresentado na acusação no tribunal federal de Manhattan, “esses royalties foram retirados de um fundo que as plataformas de streaming devem reservar para os artistas que transmitem gravações de som que incorporam composições musicais”, afirmou a acusação.

Como ninguém percebeu antes?

Quando o caso foi revelado, algo parecia estranho. Segundo o procurador federal Damian Williams, o esquema de Smith, que enganou músicos e compositores, começou em 2017 e durou até poucos meses atrás, usando o dinheiro de royalties que deveria estar disponível para os artistas. Em outras palavras, ele conseguiu manipular o sistema por sete anos sem ser descoberto.

O plano

De acordo com Christie M. Curtis, chefe do FBI em Nova York, Smith “usou funções automáticas para transmitir repetidamente as músicas e gerar royalties de forma ilegal”. Porém, antes disso, ele supostamente elaborou um esquema para burlar os sistemas de detecção de fraude das plataformas.

Os promotores afirmam que, inicialmente (em 2017), ele se dedicava a transmissões fraudulentas de músicas que possuía. No entanto, as plataformas podiam identificar fraudes se uma mesma música fosse transmitida bilhões de vezes.

Ao descobrir isso, Smith alterou seu plano

O que ele fez? No ano seguinte, passou a gerar o máximo de músicas possível, segundo a acusação. “Precisamos criar MUITAS músicas rapidamente para driblar as políticas antifraude que essas plataformas estão implementando agora”, disse Smith em mensagens privadas enviadas a dois amigos, conforme revelado pela investigação.

Acusações

Este caso, pioneiro pelo volume do esquema de fraude, não envolve apenas Smith. As investigações também apontam para o diretor executivo de uma empresa de inteligência artificial musical, com quem Smith iniciou seu plano em 2018, além de um promotor musical que o ajudou a criar centenas de milhares de músicas.

Além disso, Smith supostamente comprou um grande número de endereços de e-mail para configurar contas falsas e usou um serviço de VPN para "disfarçar" que todas estavam sendo controladas diretamente de sua casa.

A acusação também revelou como o caso começou a ser descoberto. Isso aconteceu quando Smith negou envolvimento em fraude de streaming ao confrontar o Mechanical Licensing Collective (MLC), organização responsável por distribuir os royalties de streaming. Pouco depois, em 2023, o MLC levantou suspeitas sobre como ele conseguia gerar tantas músicas de forma tão rápida, sem utilizar IA no processo.

Fica de lição para o futuro

Como mencionamos no início, ainda há um longo caminho para que a indústria da música, agora predominantemente digital, encontre um equilíbrio com as ferramentas de IA.

O caso de Smith é um reflexo dos tempos atuais, mas certamente não será o único.

Smith foi acusado em Nova York de lavagem de dinheiro, fraude eletrônica e conspiração para cometer fraude. Segundo o MLC, “o caso destaca o grave problema das fraudes em streams online para a indústria musical”.

Imagem | PXHere, RawPixel

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