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Temos um sério problema com tijolos; fabricá-los com cana-de-açúcar e areia promete ser a solução

  • A fabricação de tijolos tem um forte impacto ambiental devido às emissões de CO₂

  • Tijolos feitos com um subproduto da cana-de-açúcar, areia e um aglutinante prometem ser resistentes e seis vezes menos poluentes

Sugarcrete, o tijolo de concreto com fibra de açúcar, pode ser revolucionário / Imagem: UEL
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O uso de energias renováveis tornou-se uma prioridade para que empresas e países alcancem seus objetivos de descarbonização. Mas, nessa tarefa, reinventar o concreto também se destacou como uma das prioridades. O motivo é que a produção de concreto e a fabricação de tijolos são processos poluentes, por isso universidades, empresas e até agências como a DARPA, nos EUA, estão pesquisando para encontrar alternativas.

E há uma que se apresenta como candidata a substituir o tijolo: o “sugarcrete”, ou tijolo de cana-de-açúcar.

Sugarcrete

Na busca por substituir tanto os tijolos como o concreto, estão sendo testadas várias opções, como madeira transgênica e tijolos de adobe contemporâneos, passando por tijolos-grampos que não precisam de concreto como aglutinante. E é nesse contexto que surge o Sugarcrete.

Trata-se de uma alternativa de baixo carbono aos tijolos e blocos de concreto tradicionais, pois é um material resultante da combinação de fibra de cana-de-açúcar, aglutinantes minerais e areia.

Simples e sustentável

Os responsáveis por essa inovação são pesquisadores da University of East London, em colaboração com o Instituto de Pesquisa em Sustentabilidade e com o apoio de empresas de açúcar. Essa parceria é uma das chaves deste material. Não é necessário cultivar cana-de-açúcar especificamente para fabricar esses tijolos, pois as fibras utilizadas são as sobras do processo de produção do açúcar. Esse subproduto é conhecido como bagaço.

Isso facilita o acesso ao material (a cana-de-açúcar é uma das maiores culturas do mundo em volume de produção), além de permitir a fabricação de tijolos com uma pegada de carbono seis vezes menor do que a dos tijolos de argila tradicionais. O motivo? Não é necessário o uso de fornos em altas temperaturas durante o processo.

Aparentemente, só vantagens

Nos testes de protótipos realizados nos laboratórios do Instituto de Pesquisa em Sustentabilidade, os pesquisadores afirmam que o material resultante é cinco vezes mais leve que o concreto, substancialmente mais barato e o tempo de cura é de apenas uma semana, em comparação com os aproximadamente 28 dias do concreto padrão.

Outro ponto positivo é a resistência. As fibras de cana-de-açúcar formam uma estrutura interna entrelaçada que permite reduzir o conteúdo de aço das lajes em até 90%, o que torna a estrutura menos rígida e, portanto, mais resistente em situações extremas. Em caso de terremoto, por exemplo, as lajes de fibra são menos propensas a rachaduras, pois absorvem os efeitos do choque sísmico. O material também apresenta um alto índice de isolamento acústico e térmico.

Impulso local

Além das propriedades do próprio material e do impacto ambiental positivo de sua fabricação, ele pode oferecer uma solução para resíduos de fábricas ao redor do mundo. Conforme reportado pelo Ideal, uma das companhias que forneceu a cana necessária para essa pesquisa foi a Ron Mondero, uma empresa de Granada que utiliza açúcar de cana na produção de bebidas alcoólicas.

Sugarcrete / Imagem: UEL

A facilidade de encontrar os materiais é algo enfatizado pelos responsáveis pelo projeto. Em regiões que geram muitos resíduos de cana-de-açúcar, o Sugarcrete pode ser a solução para que os construtores tenham acesso a materiais de qualidade por um preço menor, já que serão fabricados localmente. Isso também reduz as emissões de CO₂, somando a sustentabilidade do novo material à diminuição do custo de transporte de materiais de construção.

Por esse motivo, a ideia é que o Sugarcrete seja livre. Ele não está patenteado e os pesquisadores afirmam que isso foi feito “deliberadamente, com acesso aberto, para estabelecer parcerias que possibilitem a produção de novos materiais de construção baseados em resíduos biológicos em regiões onde a cana-de-açúcar é cultivada e onde o benefício será maior”.

Os tijolos podem ser moldados em diferentes formatos / Imagem: UEL

Em testes

A equipe está há alguns meses realizando testes em várias partes do mundo, com programas que avaliarão até 2027 a viabilidade desse material em processos de construção reais. Além disso, os responsáveis visitaram regiões que poderiam ser excelentes para a implementação desses materiais, como territórios na Índia que possuem fábricas de cana-de-açúcar e onde os resíduos poderiam ser utilizados para construir moradias.

Nesses territórios do sul da Ásia, o material também pode ser um aliado na redução das emissões de carbono no setor da construção.

Adicionando açúcar ao cimento

Embora o Sugarcrete seja mais um produto que busca substituir o tijolo tradicional, a ideia de adicionar açúcar a materiais de construção tradicionais não é exatamente nova. Recentemente, descobriu-se que o subproduto da cana-de-açúcar, combinado com uma bactéria, pode ser adicionado à mistura do concreto para criar um material com capacidade de regeneração.

Isso também é interessante no contexto da descarbonização, já que a manutenção do concreto custa uma fortuna e estima-se que, em 2026, esses custos devam chegar a 3,6 bilhões de dólares. Agora, só resta que os biomateriais passem pelos testes necessários, comprovem sua eficácia no campo e, principalmente, que as empresas os considerem um investimento seguro.

Imagens | UEL

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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