Os EUA detectaram um objeto no espaço com comportamento estranho; eles também localizaram a fonte que o libertou: a Rússia

No espaço, cada novo objeto misterioso, como o lançado pela Kosmos 2583, adiciona mais uma camada de tensão à rivalidade tecnológica e militar em órbita

Imagem | Fish trap
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

No ano passado, houve uma informação que oficializou a retórica da "guerra espacial" como um fato. Sabia-se, em alguns casos até intuía-se, que Estados Unidos, Rússia e China haviam deslocado seus confrontos a centenas de quilômetros da Terra, por meio de seus satélites. No entanto, em dezembro, qualquer vestígio de dúvida foi dissipado: os Estados Unidos estavam projetando as bases para um ataque militar no espaço. Agora, eles detectaram algo incomum, e sua fonte vem de Moscou.

Primeiro, a vigilância

Em março, a CNN noticiou que o Pentágono havia intensificado a vigilância das atividades espaciais russas e chinesas diante das crescentes evidências de que ambas as potências estavam testando novas capacidades ofensivas em órbita. Segundo autoridades de defesa americanas na época, a Rússia havia realizado exercícios coordenados de satélites que simulavam táticas de ataque e defesa, incluindo manobras em que vários satélites cercavam e isolavam outro, demonstrando um possível cenário de neutralização de naves inimigas.

A China, por sua vez, havia realizado manobras semelhantes, incluindo a formação de satélites próximos e práticas de aproximação ofensiva, ações que reforçam as suspeitas sobre a crescente militarização do espaço sideral.

Três satélites e um estranho

A Rússia lançou três satélites ultrassecretos (Kosmos 2581, 2582 e 2583) ao espaço, o que reacendeu as preocupações sobre a possível prontidão para uma guerra espacial. Em 2 de fevereiro, os satélites foram colocados em órbita a bordo de um foguete Soyuz, sem que Moscou revelasse detalhes sobre sua finalidade.

Não apenas isso. Além das manobras incomuns que realizaram desde o lançamento, houve o recente aparecimento de um objeto misterioso, possivelmente lançado pelo satélite Kosmos 2583 em 18 de março, cujo contorno estranho levou analistas e agências de inteligência ocidentais a observá-los com preocupação. A Força Espacial dos EUA já catalogou o novo objeto, enquanto algumas especulações sugerem que esses satélites poderiam estar praticando táticas orbitais de "ataque e defesa", projetadas para isolar ou neutralizar satélites inimigos em caso de um conflito futuro.

Trajetória do objeto detectado Trajetória do objeto detectado

Teorias

Embora o astrofísico Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsonian, tenha classificado as interpretações como alarmistas, ao considerar que as manobras observadas podem ser simplesmente devidas a órbitas semelhantes, a história recente também reforça o ceticismo.

Em 2022, a Rússia já havia lançado o Kosmos 2558 na mesma trajetória orbital de um satélite militar americano, o que foi interpretado como um ato de espionagem espacial. O contexto geopolítico e o histórico do Kremlin em tecnologias secretas levantam suspeitas de que este novo trio de satélites possa estar realizando missões de vigilância, testes de interceptação ou testes de tecnologias antissatélite, embora não haja evidências conclusivas de ações hostis por enquanto.

A "conquista" do espaço

As manobras atribuídas aos satélites Kosmos 2581-2583 fazem parte de um cenário mais amplo, no qual Rússia e China estão explorando novas capacidades de combate orbital. Informações recentes da CNN citam autoridades do Departamento de Defesa dos EUA afirmando que ambos os países estão realizando treinamento militar em órbitas baixas da Terra, uma área crucial devido à sua proximidade com a Terra e ao seu uso frequente para satélites de comunicação, reconhecimento e inteligência.

Essa tendência reforça os temores de que o espaço se consolide como um novo campo de confronto estratégico, onde potências desenvolvam tecnologias para desativar, interferir ou até mesmo destruir ativos espaciais inimigos.

Incerteza e vigilância

A natureza e a função do objeto lançado em março ainda não foram determinadas com certeza, aumentando a tensão em torno desse trio de satélites. McDowell explicou que, entre 25 de fevereiro e 14 de março, foram registradas operações de proximidade entre os satélites, e que dois deles passaram perto do Kosmos 2583 em 7 de março, embora não tenha sido possível confirmar se houve uma tentativa de coordenação ofensiva.

Ainda assim, a Força Espacial dos EUA mantém uma vigilância rigorosa sobre os movimentos e padrões orbitais desses dispositivos, caso sejam testes secretos de novas capacidades militares no espaço, uma dimensão que não é mais puramente científica ou comercial, mas também tática.

Desafio da "interpretação"

Em segundo plano, um problema que até então não havia ocorrido no espaço: a opacidade das nações em relação às missões de seus satélites e o uso repetido de tecnologias secretas em suas operações espaciais, que dificultam a obtenção de certezas. Num ambiente onde o simples ato de compartilhar órbitas ou realizar aproximações entre satélites pode ter propósitos tanto inócuos quanto agressivos, analistas, neste caso dos Estados Unidos, devem transitar entre a cautela e a prevenção.

Enquanto se multiplicam os apelos por normas internacionais claras sobre comportamento no espaço, Washington e seus aliados já consideram o domínio espacial como um teatro estratégico ativo, e cada novo objeto misterioso, como o recentemente lançado pela Kosmos 2583, adiciona mais uma camada de tensão à rivalidade tecnológica e militar em órbita.

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