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A África do Sul vai bombardear uma ilha com toneladas de veneno com um único objetivo: eliminar milhares de ratos

Eliminação de ratos na África do Sul. Imagem: Xataka
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A Ilha Marion, na África do Sul, é considerada um importante refúgio e local de reprodução para aves marinhas. No entanto, essa realidade mudou drasticamente devido a uma infestação de roedores que atacam os filhotes de albatroz-errante e até mesmo os exemplares adultos, devorando-os vivos.

A situação é tão grave que, a cada ano, centenas de milhares de aves morrem por causa desses ataques.

Os responsáveis por essa ameaça são ratos domésticos, que chegaram à ilha no século XIX, trazidos inadvertidamente por caçadores de focas. Agora, tornaram-se um perigo real para a sobrevivência das aves. Para tentar conter o problema, foi adotada uma medida drástica: bombardear a ilha com iscas misturadas com veneno para ratos.

Projeto Mouse-Free Marion (MFM)

O conservacionista Mark Anderson revelou que apenas em 2023 foi descoberto que os ratos começaram a se alimentar de albatrozes-errantes adultos, e não apenas de filhotes.

As aves, que evoluíram sem predadores terrestres, não sabem como se defender desses ataques e agonizam por dias devido às feridas e infecções causadas pelos roedores.

A estratégia de bombardear os ratos com veneno tem um custo estimado de 26 milhões de dólares (aproximadamente 535 milhões de reais) e é financiada por uma combinação de apoio governamental e uma campanha de arrecadação de fundos. Segundo o site oficial do Mouse-Free Marion, o projeto busca eliminar os ratos de uma área de 30 mil hectares na ilha.

Imagem | Rhiannon Gill/ Mouse-Free Marion Imagem | Rhiannon Gill/ Mouse-Free Marion

Anton Wolfaardt, cientista conservacionista à frente do projeto, explicou ao The Current que essa é uma medida urgente para garantir a preservação da espécie. "Prevemos que a maioria das aves marinhas da Ilha Marion, incluindo o albatroz-errante, será extinta localmente nos próximos 30 a 100 anos se os ratos não forem eliminados".

Infelizmente, os helicópteros que lançarão o veneno ao longo de rotas precisas em Marion só estarão prontos em 2027. Isso se deve ao "tamanho e à complexidade topográfica" da ilha. Segundo Wolfaardt, os cientistas ainda estão analisando dados extensos e desenvolvendo planos de contingência, considerando diferentes variáveis para garantir que cada rato receba uma dose letal.

Original

Efeito Hidra

Erradicar a maioria dos roedores não será uma tarefa fácil, já que eles podem ter de quatro a cinco ninhadas por ano, com seis a oito filhotes por vez. Esse fenômeno é conhecido como Efeito Hidra, um conceito inspirado na mitologia grega para descrever como certas intervenções em um sistema podem, na verdade, piorar a situação.

Em outras palavras, ao utilizar veneno para controlar a praga de ratos, existe o risco de que alguns indivíduos sobrevivam e, ao se reproduzirem, deem origem a uma população mais resistente, perigosa e ainda mais difícil de eliminar.

Um exemplo famoso do Efeito Hidra ocorreu anos atrás, durante uma tentativa de erradicar uma espécie invasora de caranguejos-verdes-europeus em uma lagoa na Califórnia.

Durante uma campanha que durou cinco anos, especialistas conseguiram eliminar 90% dos caranguejos invasores, reduzindo sua população de 100 mil para apenas 10 mil indivíduos.

Infelizmente, os cientistas responsáveis pelo projeto não consideraram que os caranguejos adultos se alimentam das crias como forma de controle natural da população. Com a eliminação da maior parte dos adultos, o número de caranguejos disparou para 300 mil, agravando ainda mais o problema.

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