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A grande crise do álcool chegou ao champanhe; e o setor tem uma teoria: não encontramos motivos para comemorar

Crise do champagne e do álcool. Imagem: Midwst.Blur (Flickr) y Tristan Gassert (Unsplash)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Se o champanhe realmente funciona como um “termômetro” do humor dos consumidores, como afirma Maxime Toubart, executivo do Comité Champagne, então não estamos vivendo tempos especialmente felizes. Pelo menos é o que sugere o balanço de vendas recém-divulgado pelos produtores franceses, que retrata um 2024 no vermelho, com quedas tanto no mercado interno quanto nas exportações.

Não são tempos fáceis para o champanhe… nem para o álcool

Para os produtores franceses de champanhe, 2024 não foi um ano de muitas celebrações – pelo menos não nas vendas. Os números mais recentes divulgados por Les Vignerons de Champagne e pelo Comité Champagne, entidades que representam os produtores da tradicional região vinícola francesa, revelam um declínio significativo no setor.

Em comparação com 2023, a distribuição de garrafas de champanhe caiu 9,2%, tanto no mercado interno quanto nas exportações.

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Os números não são animadores para o setor

Se havia dúvidas sobre a crise no mercado de champanhe, os dados recentes só reforçam o cenário preocupante. No ano passado, foram distribuídas 118,2 milhões de garrafas na França, uma queda de 7,2% em relação a 2023.

A situação foi ainda pior no mercado internacional: as exportações despencaram 10,8%, totalizando 153,2 milhões de garrafas vendidas.

Interessante, mas nada surpreendente

Apesar dos números alarmantes, poucos no setor devem ter ficado realmente surpresos. A crise nas vendas já vinha sendo sinalizada há meses.

Em julho, o grupo de luxo francês LVMH – que controla marcas como Moët & Chandon e Dom Pérignon – alertou sobre uma queda de 15% nas vendas de champanhe durante o primeiro semestre de 2024. No outono, o IWSR US Navigator revelou um declínio anual de 7% nas vendas de vinhos espumantes nos EUA entre janeiro e agosto, com o champanhe apresentando uma tendência ainda pior.

Esse dado é especialmente significativo porque, como lembra o Comité Champagne, os Estados Unidos são um dos principais mercados do setor.

O que está por trás dessa crise?

Para os produtores, os números negativos são resultado de uma combinação de fatores: cenário econômico, contexto político e, simplesmente, o estado de espírito dos consumidores.

"O champanhe é um verdadeiro termômetro do humor das pessoas. E este não é um momento de celebração, com inflação, conflitos ao redor do mundo e incerteza econômica", explica Maxime Toubart, presidente do Syndicat Général des Vignerons e copresidente do Comité Champagne.

Ele ainda menciona a apreensão em relação ao futuro político da França e dos Estados Unidos, dois mercados estratégicos para a bebida.

O impacto político e econômico nas vendas de champanhe

O comunicado do Comité Champagne foi divulgado no último sábado, em meio a um cenário de grande incerteza política. Nos Estados Unidos, o retorno de Donald Trump à Casa Branca reacendeu preocupações no setor, especialmente devido às possíveis novas tarifas de importação que podem afetar as exportações francesas.

Na França, o contexto também é instável: o país já teve três primeiros-ministros em poucos meses – Gabriel Attal, o destituído Michel Barnier e François Bayrou. "O mercado nacional sofre as consequências do sombrio contexto político e econômico atual", lamenta a associação de produtores, que representa 16.000 viticultores e 320 casas de champanhe.

Um declínio que vem de anos

A crise de 2024 não foi a primeira. The Guardian lembra que, depois do boom de vendas em 2022, impulsionado pelo fim da pandemia, o setor já vinha em queda. Em 2022, foram distribuídas 326 milhões de garrafas, mas em 2023, esse número caiu para 299 milhões, uma retração de mais de 8%.

"Nos momentos menos favoráveis, precisamos nos preparar para o futuro", afirma David Chatillón, presidente da Champagne Houses, destacando que a produção da bebida já demonstrou ser um modelo sólido e sustentável. Segundo ele, "mesmo diante da adversidade, há razões para confiar no futuro".

Além do “estado de espírito” dos consumidores

Embora Maxime Toubart insista que o champanhe é um termômetro do humor da sociedade, outros fatores vêm pesando sobre o setor.

Em agosto, a Vineteur já alertava que 2024 não seria um ano fácil para as colheitas na região de Champagne. Além da queda nas vendas, os produtores enfrentaram eventos climáticos extremos, como geadas e tempestades de granizo, além do avanço de doenças nas videiras.

Ou seja, o problema vai muito além da disposição dos consumidores para celebrar – o próprio futuro da produção está em jogo.

O outro fator: a queda no consumo de álcool

Além dos desafios econômicos e políticos, o setor de champanhe enfrenta uma concorrência cada vez mais forte de alternativas mais acessíveis, como prosecco, espumante inglês e crémant, que se tornaram opções mais competitivas nos últimos anos.

Mas não é só isso. O consumo de álcool também está mudando. Pesquisas indicam que a Geração Z bebe menos álcool do que as gerações anteriores, e campanhas como o "Dry January" – que incentiva a abstinência alcoólica em janeiro – já chegaram à França, impactando ainda mais o setor.

Os desafios não se limitam ao champanhe. Em Bordeaux, por exemplo, produtores de vinho já falam abertamente sobre a necessidade de arrancar milhares de vinhedos para reduzir a oferta. Além disso, algo que até pouco tempo era considerado um tabu começa a ganhar espaço: a produção de vinhos sem álcool.

Diante desse cenário, o setor precisa se reinventar – e rápido.

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