A China reagiu às tarifas impostas pelos Estados Unidos atingindo um de seus pontos estratégicos mais sensíveis: as terras raras

  • No embate comercial entre Estados Unidos e China, Pequim acaba de fazer um movimento tático ao mirar em uma área onde o Ocidente é especialmente vulnerável: a das terras raras.

  • Esse grupo de materiais estratégicos, fundamentais para os setores tecnológico e industrial, voltou ao centro das tensões entre as duas potências econômicas.

Guerra Comercial Estados Unidos e China. Imagem: (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

No contexto do conflito comercial entre Estados Unidos e China, Pequim acaba de dar um passo estratégico ao atacar um ponto de vulnerabilidade do Ocidente: as terras raras. Esses materiais estratégicos, fundamentais para setores como tecnologia e indústria, voltam ao centro das tensões entre as duas maiores potências econômicas do mundo.

Taxa de 34% e restrições diretas às empresas americanas

A partir de amanhã, 10 de abril, a China aplicará uma taxa de 84% sobre todos os produtos norte-americanos importados. A medida é uma resposta direta às tarifas impostas por Washington — em especial pelo presidente dos EUA, Donald Trump —, que entram em vigor no dia 9 de abril.

Mas a resposta chinesa vai além dos impostos: Pequim suspendeu as licenças de importação de produtos de seis empresas americanas e aumentou o controle sobre a exportação de algumas terras raras.

Não é a primeira vez que a administração de Xi Jinping utiliza esse tipo de restrição como instrumento de pressão sobre os Estados Unidos e seus aliados.

Um histórico de restrições e medidas estratégicas

Em dezembro de 2023, a China já havia limitado a exportação de certas tecnologias de processamento de terras raras para proteger seus interesses estratégicos. E no início de dezembro de 2024, proibiu a exportação de minerais críticos para os EUA, incluindo três elementos-chave na indústria de semicondutores (gálio, germânio e antimônio), além de materiais com extrema dureza usados em aplicações militares.

Oficialmente, a medida é justificada como proteção à segurança nacional — mas poucos acreditam que esse seja o único motivo.

O trunfo chinês nas mãos: terras raras e monopólio industrial

As terras raras são um conjunto de 17 elementos indispensáveis na fabricação de smartphones, baterias, turbinas eólicas, painéis solares, veículos elétricos, satélites, mísseis e chips eletrônicos. Sem eles, grande parte da economia moderna simplesmente para.

E é aí que está a vantagem da China: o país responde por cerca de 90% da produção mundial. Mesmo sem deter todas as reservas do planeta, controla boa parte da extração e, principalmente, o refino industrial. Esse domínio confere à China um enorme poder de barganha diante de países altamente dependentes de suas exportações.

Uma estratégia arriscada, mas poderosa

Apesar de reforçar sua posição na guerra comercial, a estratégia chinesa não é isenta de riscos. Em 2010, restrições similares levaram diversos países a buscar fornecedores alternativos e investir em soluções próprias — e esse movimento pode se repetir, reduzindo a dependência do Ocidente a longo prazo.

No curto prazo, no entanto, os Estados Unidos e seus aliados ainda têm pouca margem de ação.

A cadeia produtiva continua fortemente dependente do refino chinês, e criar infraestrutura local é um processo demorado e caro. Mesmo com esforços de diversificação, a China deve continuar sendo peça-chave nesse cenário por muitos anos.

Mais que comércio: uma disputa estratégica global

Essa nova escalada deixa claro que o embate entre China e Estados Unidos ultrapassa o campo comercial: trata-se de uma guerra estratégica, em que cada decisão visa enfraquecer o avanço do outro na corrida tecnológica.

E, nesse xadrez silencioso, as terras raras se tornaram um dos pontos mais sensíveis. Um calcanhar de aquiles há muito reconhecido pelos EUA — e que Pequim parece mais do que disposta a explorar.

Estamos, talvez, diante de uma nova Guerra Fria… desta vez, alimentada por elementos invisíveis, mas indispensáveis.

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