Máfia do paypal: quem são os milionários membros do grupo?

Apelido glamouroso esconde uma rede de poder e influência que concentra capital, tecnologia e decisões de impacto global nas mãos de poucos nomes. Conheça os bastidores do grupo que criou startups bilionárias e ajudou a definir o novo capitalismo digital.

Máfia do PayPal: entenda como esses intrigantes lucraram com isso. Imagem: Imagem: Nuttapong punna / Shutterstock
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

No imaginário da cultura tech, poucas histórias são tão celebradas quanto a da chamada “Máfia do PayPal” — um grupo de ex-funcionários da fintech que, após a venda da empresa para o eBay em 2002, fundou ou impulsionou alguns dos maiores nomes da tecnologia contemporânea. Tesla, LinkedIn, YouTube, Palantir, SpaceX: todas essas empresas têm, de alguma forma, o DNA desses empreendedores.

Mas por trás do glamour do termo “máfia” e da narrativa de sucesso, está uma trama mais complexa — marcada por concentração de capital, influência política, redes fechadas de investimento e pouca diversidade. Afinal, até que ponto o “legado” da Máfia do PayPal é realmente positivo para a inovação e para a sociedade?

De startup a culto: como nasceu a “máfia”

A história começa em 1998, quando Max Levchin, Peter Thiel e Luke Nosek fundaram a Confinity, que mais tarde se fundiu com a X.com de Elon Musk. Nascia o PayPal, uma das primeiras plataformas de pagamento online com tração global.

Após anos turbulentos e uma guerra interna de poder entre Musk e Thiel, a empresa foi vendida ao eBay por US$ 1,5 bilhão em 2002.

O que se seguiu foi uma debandada: praticamente todos os funcionários da primeira geração saíram da companhia — e começaram a fundar suas próprias startups. Em poucos anos, estavam por trás de empresas como YouTube, Yelp, Palantir, LinkedIn, Tesla e outras.

A alcunha “Máfia do PayPal” foi cunhada pela imprensa, em tom de brincadeira. A icônica capa da Fortune, de 2007, mostrava os empreendedores vestidos como mafiosos, em terno e gravata, reforçando a imagem de que aquele grupo — quase todo branco, masculino e egresso da mesma bolha de Stanford e do Vale do Silício — era um tipo de família poderosa da tecnologia.

Quem são os nomes por trás do mito

Abaixo, os principais nomes da chamada Máfia do PayPal e o que fizeram após a saída da empresa:

  • Elon Musk: Fundador da SpaceX, líder da Tesla, dono do X (ex-Twitter) e criador da The Boring Company e Neuralink. É, ao mesmo tempo, gênio visionário e figura polêmica, com falas controversas, ataques à imprensa e envolvimento em disputas políticas.
  • Peter Thiel: Cofundador da Palantir, primeiro investidor do Facebook e criador do fundo Founders Fund. Defensor do libertarianismo, apoiador de causas conservadoras e crítico das “instituições democráticas tradicionais”.
  • Reid Hoffman: Fundador do LinkedIn e investidor ativo. Atuou no conselho do Facebook e é considerado o “mais político” do grupo, com envolvimento direto em campanhas democratas.
  • Max Levchin: Criou a Affirm, fintech de crédito, e foi investidor e presidente do conselho do Yelp. Menos midiático, mas extremamente influente no setor financeiro digital.
  • David Sacks: Criador do Yammer (vendido à Microsoft) e um dos anfitriões do podcast All-In, onde adota posições políticas conservadoras. Hoje, atua como investidor via Craft Ventures.
  • Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim: Fundaram o YouTube em 2005 e venderam para o Google um ano depois por US$ 1,65 bilhão.
  • Roelof Botha: Ex-CFO do PayPal, virou sócio da Sequoia Capital, um dos fundos mais importantes do Vale do Silício, onde liderou investimentos em empresas como Instagram e YouTube.

Todos esses nomes seguem influentes até hoje — seja fundando, investindo ou moldando a narrativa de sucesso no universo das startups.

De onde vem tanto poder?

Mais do que fundar empresas, esses ex-colegas criaram um ecossistema fechado de influência, onde ideias, investimentos e cargos circulam dentro do mesmo grupo. Muitos empreendimentos nasceram do apoio mútuo entre os membros da máfia: Levchin investiu no Yelp; Thiel apoiou o Facebook; Rabois colocou dinheiro no YouTube; e o Founders Fund financiou a SpaceX.

Esse sistema de capital fechado fortalece a tese de que há uma concentração extrema de poder no Vale do Silício — onde os mesmos rostos decidem quais inovações avançam e quais ficam pelo caminho. E, diferentemente da ideia de “meritocracia” que costuma ser vendida, esse ciclo privilegia quem já tem acesso a redes privilegiadas.

“É uma elite que se autofinancia. Um pequeno grupo de homens brancos, educados nas mesmas universidades, que ditam o futuro da tecnologia global”, escreveu uma vez a jornalista Kara Swisher, uma das principais vozes críticas da indústria.

O outro lado da moeda

Apesar do sucesso, nem tudo são flores. O PayPal original foi acusado de fechar os olhos para ambientes tóxicos de trabalho e práticas predatórias. E muitos dos projetos que saíram da “máfia” também acumulam controvérsias.

  • A Palantir, de Thiel, atua com dados sensíveis em projetos com governos, incluindo contratos com o setor militar e órgãos de vigilância.
  • A Tesla, de Musk, já foi alvo de processos por racismo, más condições de trabalho e assédio nas fábricas.
  • A compra do Twitter/X, por Musk, levantou debates sobre liberdade de expressão, desinformação e desmonte de políticas de segurança da plataforma.

Além disso, parte do grupo tem se posicionado cada vez mais abertamente no debate político dos EUA — influenciando eleições, doações milionárias e políticas públicas. A suposta “máfia” deixou de ser apenas um grupo de empreendedores para se tornar um bloco ideológico com repercussões concretas na sociedade.

Uma nova elite global?

Ao contrário da imagem de rebeldes visionários, o que a Máfia do PayPal construiu foi, de certa forma, uma nova aristocracia do capital de risco. Um grupo que controla bilhões, dita tendências, influencia políticas e ainda é tratado como “revolucionário”.

O que chama atenção, no entanto, é o quanto esse ecossistema pouco se abriu à diversidade. Mulheres, pessoas negras, lideranças de fora dos Estados Unidos ou da elite universitária continuam sub-representadas nos círculos de influência criados por esse grupo.

A “máfia” inspirou — e ainda inspira — gerações de fundadores, mas também acendeu alertas sobre os riscos de uma inovação concentrada demais, pouco plural e desconectada de problemas reais.

Afinal, qual o legado?

A Máfia do PayPal mudou o mundo da tecnologia. Isso é inegável. Criou empresas bilionárias, impulsionou setores inteiros e mostrou o valor de redes de confiança entre empreendedores.

Mas também se tornou símbolo de um modelo de inovação excludente, concentrador e politizado, onde os mesmos nomes continuam se revezando no centro do poder, muitas vezes sem responder por seus impactos sociais, éticos e ambientais.

Vinte anos depois da venda do PayPal, a pergunta que fica é: estamos celebrando um case de sucesso ou naturalizando um sistema onde poucos mandam e muitos apenas consomem?

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