Jensen Huang e Mark Garman já haviam antecipado há alguns meses: não será mais necessário que os engenheiros saibam programar, porque a IA fará isso por eles. O que algumas das vozes mais relevantes no desenvolvimento da IA, incluindo Sam Altman, estão tentando transmitir é que o que realmente será valorizado no futuro não são os conhecimentos que uma pessoa tem, mas sim a capacidade de fazer as perguntas certas.
"Haverá um tipo de habilidade que continuaremos a valorizar muito, mas não será tanto a capacidade intelectual pura como antes", afirmou o CEO da OpenAI durante uma entrevista no podcast ReThinking de Adam Grant. "Determinar quais perguntas fazer será mais importante do que conhecer a resposta".
Fazer as perguntas corretas
As declarações, quase filosóficas, de Sam Altman se referem à importância de saber fazer as perguntas certas para a IA, que serão capazes de apontar o caminho para novas soluções e produtos.
"Antigamente, valorizávamos a quantidade de conhecimento que alguém tinha na cabeça, e se a pessoa fosse uma coletora de dados, isso a tornava inteligente e respeitada. Agora, acredito que é muito mais valioso ser um conector de pontos... Se alguém pode sintetizar e reconhecer padrões, tem uma vantagem", confirmava Adam Grant, psicólogo, professor na Universidade da Pensilvânia e apresentador do podcast. No entanto, essa ideia de aprender fazendo as perguntas certas não é nova.
Bill Gates mencionava em um dos artigos de seu blog pessoal que uma das chaves para a resolução de problemas não está exatamente em ter a resposta, mas em se fazer as perguntas adequadas ao abordar o problema e encontrar as respostas apropriadas. "Desde que era adolescente, abordo cada grande problema novo da mesma maneira: começando com duas perguntas. Usei essa técnica na Microsoft e ainda a uso hoje. Faço essas perguntas literalmente toda semana sobre o COVID-19", escreveu Bill Gates.
Um novo perfil profissional: designer de perguntas
A reflexão de Sam Altman abre duas possibilidades para essa nova habilidade. A primeira delas, e mais evidente, é a criação de um novo perfil profissional que, assim como o engenheiro de IA, trabalha na implementação da IA projetando perguntas às quais os chatbots precisariam responder.
De fato, esse é um perfil que já começa a ser muito valorizado entre as empresas que lideram o desenvolvimento de modelos de IA. "Se você não fizer uma boa pergunta para uma ferramenta de IA generativa, não vai obter uma boa resposta. É lixo que entra e lixo que sai," afirmava Lydia Logan, vice-presidente de educação global e desenvolvimento da força de trabalho da IBM, em declarações à CNBC.
Segundo a executiva da IBM, esse perfil já começa a ser altamente valorizado, com salários muito altos nas empresas dos EUA. "Não posso enfatizar o suficiente: essa é uma habilidade que pode ser usada praticamente em qualquer lugar [no contexto de IA]. É uma habilidade que pode abrir portas para muitas oportunidades," afirmou Logan.
Perguntar denota curiosidade
Por outro lado, a capacidade de fazer as perguntas certas também se encaixa em um conceito mais amplo, como uma habilidade interpessoal (soft skills), associada à curiosidade, capacidade de adaptação e atitude de aprendizado ativo. Como Mark Zuckerberg lembrou durante sua entrevista com Emily Chang da Bloomberg, as empresas estão cada vez mais valorizando as habilidades em vez de títulos e conhecimentos.
O motivo é simples: o futuro que a IA está criando exige a máxima capacidade de adaptação e de aprendizado contínuo para se movimentar em um terreno onde os conhecimentos se tornam rapidamente obsoletos, e as empresas valorizam muito mais essa habilidade nos funcionários que contratarão.
Isso é confirmado pelo relatório 'Competências laborais mais demandadas para 2025', publicado anualmente pela plataforma de empregos Randstad, no qual a mentalidade de crescimento surge como a habilidade mais procurada pelos empregadores para os candidatos.
Sam Altman afirmou que a IA poderia acabar assumindo as tarefas administrativas repetitivas na maioria dos locais de trabalho, mas se mostrava convencido de que essa tecnologia não será capaz de substituir completamente o intelecto humano e o pensamento criativo.
O CEO da OpenAI afirmou que as pessoas terão que ajudar a tecnologia a aprender a desenvolver o pensamento crítico para fortalecer os argumentos e gerar novas ideias com base nos dados disponíveis.
"Sem dúvida, minha maior alegria profissional foi ter que raciocinar de forma realmente criativa sobre um problema e encontrar uma resposta que ninguém havia descoberto antes. O que espero que aconteça, na verdade, é que haverá uma nova forma de trabalhar nos problemas difíceis," afirmou Sam Altman durante sua entrevista.
Com essa afirmação, o executivo da OpenAI define o exemplo perfeito de um contexto de resolução de problemas por meio do processo de pensamento aristotélico dos primeiros princípios, que envolve questionar tudo desde o início.
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