A crítica já não é mais apenas contra quem usa plástico, mas também contra quem o recicla: a maior parte do plástico não é reciclável

Plástico não é reciclável. Imagem: Xataka
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A poluição por plásticos é um problema realmente sério. Já falamos antes sobre como a proliferação de produtos feitos com esse material resultou na presença de micro e nanoplásticos — inclusive dentro do corpo humano. Uma das estratégias mais difundidas para tentar conter esse monstro é o reciclamento.

Infelizmente, um estudo publicado pelo Center for Climate Integrity revelou uma realidade desanimadora: todas essas décadas de esforço para reciclar não serviram para quase nada.

Segundo o relatório, intitulado O grande engano da reciclagem de plástico, a indústria do plástico alimentou a ilusão de que, ao separar suas embalagens, as pessoas estão ajudando o planeta. No entanto, as empresas sabem que a maioria desses materiais não é reciclável em escala industrial.

Uma promessa quebrada desde o início

Só no México, são produzidas 5,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano. No entanto, de acordo com o Inventário Nacional de Fontes de Poluição Plástica, mais da metade desses resíduos é mal gerenciada.

Em escala global, apenas 9% dos plásticos são realmente reciclados. Ainda assim, desde o fim dos anos 1980, a imagem do reciclável tem sido fortemente associada ao consumo de plástico.

Segundo o relatório, nas últimas décadas foi promovida uma campanha “para enganar o público sobre a viabilidade da reciclagem do plástico”. Davis Allen, do Center for Climate Integrity, afirmou que a indústria nunca teve a intenção real de reciclar, mas sim de “fazer as pessoas acreditarem que o sistema estava funcionando”.

O documento sustenta essa afirmação com arquivos históricos, atas de reuniões e depoimentos de ex-funcionários de entidades como o American Chemistry Council. Em uma conferência de 1989, por exemplo, um líder do setor chegou a admitir: “A reciclagem não pode continuar indefinidamente e não resolve o problema dos resíduos sólidos”.

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O reciclável como estratégia de marketing

Para Allen, a indústria do plástico sempre tratou a reciclagem como um problema de imagem — e não como um desafio técnico. O plástico, produzido a partir de petróleo e gás, possui uma enorme variedade de composições químicas que raramente podem ser recicladas juntas. Isso torna o processo caro e ineficiente.

Nos anos 1980, quando algumas cidades dos Estados Unidos começaram a discutir a proibição de certos produtos plásticos, a resposta da indústria foi lançar campanhas de reciclagem como uma solução aparente.

Ativistas como Jan Dell alertam que, ainda hoje, empresas continuam promovendo campanhas a favor da reciclagem e fazendo promessas sobre tecnologias avançadas. No entanto, segundo Dell, “é o mesmo processo que tentaram há 30 anos”.

O American Chemistry Council declarou, em entrevista, que o relatório é “falho” e “ultrapassado” e que estão sendo feitos esforços reais para mudar a forma como o plástico é produzido e reciclado. Apesar dessas declarações, estima-se que a produção de itens plásticos triplique até 2050 — um cenário que já acendeu o sinal de alerta no mundo inteiro.

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Reduzir, reutilizar, reciclar

Embora o reciclamento possa, até certo ponto, nos conduzir a um futuro mais sustentável, a verdadeira solução está em produzir menos plástico.

Reduzir a fabricação desse material é uma das formas mais eficazes de frear sua proliferação no meio ambiente. Nesse sentido, vale lembrar o velho lema que muitos de nós aprendemos desde cedo: “reduzir, reutilizar e reciclar”.

Na prática, como vimos, o discurso publicitário tem se concentrado quase exclusivamente no último pilar — o reciclar — apesar de essa estratégia ter apresentado resultados limitados quando se trata da poluição plástica. E quando consideramos que grande parte da população ainda não separa corretamente seus resíduos, o problema se torna ainda mais grave.

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