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15 anos de destruição sistemática: Google vem eliminando tudo que possa comprometê-lo amanhã, segundo jornal

O Google passou 15 anos desenvolvendo uma cultura corporativa focada em apagar mensagens internas e evitar deixar rastros digitais comprometedores.

Google - Destruição sistemática. Imagem:  | Xataka com Freepik
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O Google alcançou a metonímia das buscas online, tornando-se a empresa que melhor domina a organização, classificação e armazenamento de informações. No entanto, passou mais de uma década ensinando seus funcionários a fazer exatamente o oposto: apagar, ocultar e minimizar suas comunicações internas para que não deixassem rastros, de acordo com uma investigação antitruste revelada pelo The New York Times.

Por que isso é importante

Essa prática sistemática de eliminar grande parte da documentação interna levou três juízes federais a criticarem duramente a Alphabet. Eles apontaram para uma cultura corporativa criada para dificultar investigações antitruste no futuro — como a que está em andamento agora e que ameaça dividir a empresa.

Nos bastidores

Tudo começou em 2008. Depois de ser submetido a um escrutínio antitruste por conta de um acordo publicitário com o Yahoo, o Google distribuiu um comunicado interno confidencial orientando seus funcionários a "pensarem duas vezes" antes de escreverem sobre "assuntos sensíveis" e a evitarem especulações.

Em detalhe

O Google implementou várias estratégias para minimizar rastros internos:

  • Configurou suas ferramentas de mensagens instantâneas para apagar conversas automaticamente após um período de tempo.
  • Incentivou o uso indiscriminado do privilégio de confidencialidade entre advogado e cliente.
  • Criou listas de palavras proibidas relacionadas à sua posição dominante nos mercados.
  • Instruiu os funcionários a incluir advogados em e-mails, mesmo quando não havia necessidade legal.

Aprofundando

A magnitude do problema veio à tona quando o Departamento de Justiça dos EUA revelou que o Google havia retido dezenas de milhares de documentos alegando privilégio de confidencialidade. Os tribunais rejeitaram essa justificativa.

O juiz James Donato, do Distrito Norte da Califórnia, descreveu essa prática há quase um ano como "um ataque frontal à administração justa da justiça". Já a juíza Leonie Brinkema, do Distrito Leste da Virgínia, afirmou que "uma quantidade terrível de provas provavelmente foi destruída".

A virada

Em 2023, o Google mudou radicalmente essas políticas. Desde então, todas as comunicações passaram a ser armazenadas automaticamente, com um registro completo das conversas. No entanto, alguns funcionários rapidamente encontraram uma alternativa com a qual se sentiam mais confortáveis: grupos no WhatsApp com a funcionalidade de apagar mensagens automaticamente.

A ironia é evidente

A empresa que construiu seu império prometendo organizar a informação mundial dedicou anos treinando seus funcionários na arte de não deixar rastros. Agora, isso é visto como uma cultura corporativa fundamentada no secretismo, na desconfiança e na prevenção de riscos futuros, às custas de eliminar qualquer registro.

Atualização: incluímos o comunicado do Google sobre esta notícia:

"Levamos muito a sério nossas obrigações de preservar e fornecer documentos relevantes. Temos respondido a investigações e litígios há anos e treinado nossos funcionários sobre 'privilégio legal'. Somente nos casos do Departamento de Justiça, produzimos milhões de documentos, incluindo mensagens de chat e outros que não estão cobertos por 'privilégio legal'."

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