O ano de 2024 está marcando definitivamente o fim do teletrabalho em tempo integral devido à insistência das empresas em trazer os funcionários de volta ao escritório. Esse retorno não apenas altera o local de trabalho, mas também impacta diversos outros fatores socioeconômicos, de saúde mental e até mesmo o aumento da sinistralidade nas estradas.
Por que o tempo de deslocamento é importante
De acordo com dados da Eurostat, o tempo de deslocamento até o trabalho varia enormemente entre os países. Em média, os trabalhadores europeus levam 25 minutos para ir de casa ao trabalho. Nos Estados Unidos e no Canadá, o tempo médio também é de 25 minutos, mas esse período pode dobrar quando se utiliza transporte público em vez de um veículo particular.
Embora pareça um dado secundário, o tempo de deslocamento entre o trabalho e a residência pode impactar significativamente a qualidade de vida, evidenciando carências socioeconômicas, como deficiências nos sistemas de transporte público ou na infraestrutura rodoviária.
Espanha na média europeia
Os dados sobre tempo de deslocamento colocam a Espanha, com 25 minutos, exatamente na média europeia, onde 17 países estão na faixa entre 24 e 28 minutos. Entre eles, destaca-se a Islândia, com uma média de deslocamento de apenas 15 minutos.
Esse número, porém, é explicado pelo fato de que 33% da população do país vive na capital, com cerca de 120.000 habitantes. Já Lituânia e Reino Unido dobram esse tempo, com médias de 33 e 30 minutos, respectivamente.
É importante lembrar que esse número é uma média. Segundo dados da Eurostat, 61,3% dos trabalhadores na Europa chegam ao trabalho em menos de 30 minutos, enquanto 26,3% gastam entre 30 e 59 minutos no trajeto.
Dados de 2019 mostram que 10% dos trabalhadores na Espanha levavam mais de uma hora para chegar ao local de trabalho. Isso representa duas horas por dia em que não estão nem produzindo nem com suas famílias.
Tempo de deslocamento e estresse
Um estudo da Universidade de Antuérpia, com a participação de 44.000 pessoas em 35 países, confirma que tempos de deslocamento mais longos estão associados a menores níveis de satisfação e bem-estar entre os trabalhadores que enfrentam essa realidade. Os autores do estudo afirmam que "a satisfação diminui à medida que a duração do deslocamento aumenta".
O impacto dos deslocamentos diários
Um estudo da Universidade de Verona aponta que os deslocamentos diários para o trabalho interferem nos padrões da vida cotidiana, restringindo o tempo livre e reduzindo o tempo de sono, além de aumentar os níveis de estresse devido a tempos de espera sem atividade e atrasos que podem causar atrasos na chegada ao trabalho.
Toda essa incerteza se acumula e, de acordo com os pesquisadores, afeta diretamente a produtividade dos funcionários.
Aumento na sinistralidade "in itinere"
O aumento do tempo de deslocamento entre a casa e o trabalho eleva o risco de incidentes "in itinere" durante esse período.
Embora esse intervalo não seja considerado como tempo de trabalho, ele está coberto pela legislação trabalhista para fins de assistência médica. Com o crescimento do número de funcionários que abandonaram o trabalho remoto, os acidentes classificados como "in itinere" também aumentaram.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Economia Social, entre janeiro e setembro de 2024, ocorreram 467.318 acidentes de trabalho que resultaram em afastamentos médicos, uma redução de 0,2% em relação a 2023.
No entanto, 64.107 desses acidentes ocorreram "in itinere", um aumento de 2,8% em comparação ao ano anterior. Desses, 790 foram classificados como graves e 107 como fatais. Comparando com 2023, houve um aumento de 97 acidentes graves e 14 acidentes fatais. A maioria desses acidentes afetou trabalhadores assalariados.
O teletrabalho como ponto de inflexão
A implementação massiva do teletrabalho em 2020 transformou radicalmente a rotina laboral, poupando milhões de pessoas de horas de deslocamento.
Um estudo do National Bureau of Economic Research, realizado em parceria com pesquisadores de Stanford, destacou que, durante a pandemia, os funcionários destinaram 40% do tempo economizado com deslocamentos para atividades laborais adicionais, enquanto 34% foi dedicado ao lazer.
Ver 0 Comentários