O cofundador do Google, Sergey Brin, deixou clara sua posição sobre a cultura de trabalho que os funcionários devem adotar para que a empresa que fundou não perca a corrida pelo desenvolvimento da IA: os empregados devem trabalhar no mínimo 60 horas semanais e esquecer o trabalho remoto, segundo um memorando interno ao qual o The New York Times teve acesso.
Brin pisa no acelerador
De acordo com o jornal norte-americano, Sergey Brin mencionou que a atual política de trabalho do Google fica aquém das expectativas para o desenvolvimento da IA. “Recomendo estar no escritório pelo menos todos os dias da semana. 60 horas por semana é o ponto ideal de produtividade”, escreveu Brin aos funcionários que atuam no desenvolvimento do Gemini e de outros produtos de IA do Google.
Isso implica uma carga horária de 12 horas por dia durante os cinco dias úteis da semana, evidenciando sua preferência pelo trabalho presencial no escritório. “Muita gente trabalha menos de 60 horas e uma pequena parte faz apenas o mínimo para sobreviver. Esse último grupo não é apenas improdutivo, como também pode ser extremamente desmotivador para todos os demais”, afirmou Brin em sua mensagem à equipe.
Risco de ficar para trás
O motivo desse pedido do fundador do Google é que, em sua opinião, “a concorrência se acelerou enormemente e a corrida final rumo à AGI (Inteligência Artificial Geral) já começou. Acho que temos todos os ingredientes para vencer essa corrida, mas vamos precisar intensificar nossos esforços”, escreveu o fundador em sua mensagem à equipe de IA.
Não é a única empresa que acelerou o passo no desenvolvimento da IA exigindo mais horas de trabalho e maior comprometimento dos funcionários. A Amazon fez o mesmo há alguns meses, ao determinar o retorno dos funcionários aos escritórios a partir de janeiro de 2025.
Mais horas não significam mais produtividade
Se há algo que os experimentos realizados em todo o mundo sobre a semana de trabalho de quatro dias demonstraram é que jornadas prolongadas podem aumentar os riscos de exaustão e de erros, sem elevar a produtividade.
No entanto, Brin sustenta que, em etapas críticas de desenvolvimento técnico, esse ritmo permite avanços exponenciais, embora reconheça que trabalhar mais horas é ineficiente se não forem utilizadas ferramentas melhores — especificamente, as que eles próprios desenvolveram. “Os programadores e cientistas de IA mais eficientes do mundo estão usando a nossa própria IA”, acrescentou Brin.
Um retorno estratégico
Brin fundou o Google junto com Larry Page, mas ambos os executivos foram se afastando da liderança da empresa há mais de uma década. Em 2023, após o lançamento do ChatGPT, Brin voltou à linha de frente com um papel mais ativo para reforçar a liderança da empresa na corrida pela inteligência artificial.
A proposta de Brin está alinhada com o endurecimento da jornada de trabalho que o Google vem aplicando desde 2023.
Primeiro, foi implementada uma política de retorno ao escritório para os funcionários em regime de teletrabalho, adotando um modelo híbrido com três dias de trabalho presencial. Agora, os funcionários envolvidos no desenvolvimento de produtos com IA veem seu fundador apertar ainda mais o cerco, propondo que passem 12 horas por dia e cinco dias por semana nos escritórios. Alguns funcionários enxergam a postura de Brin como um retrocesso à cultura “workaholic” dos primeiros anos do Google.
Imagem | Flickr (TED Conference, Thomas Hawk)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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