"Um Filme Minecraft" está em sua segunda semana nos cinemas e já podemos parar de considerá-lo um sucesso passageiro: sua bilheteria monumental o fez o filme de maior bilheteria até agora, neste ano. Mas há mais: as sessões estão se tornando verdadeiros ambientes selvagens, com tumultos, interrupções do filme e uma longa lista de fenômenos que não têm nada de temporários. Este é o filme mais notório do ano... embora por razões que nada têm a ver com sua qualidade.
Em seu segundo fim de semana nos cinemas, o filme arrecadou US$ 80 milhões (R$ 471 mi) nos EUA, uma queda de 50% em relação à sua impressionante estreia de US$ 162,7 milhões (R$ 958 mi), mas ainda é um número que faz do filme o sucesso do ano: já arrecadou US$ 550 milhões (R$ 3,4 bi) em todo o mundo, à frente de "Capitão América: Admirável Mundo Novo". O filme deu um impulso muito bem-vindo a uma bilheteria muito fraca neste início de ano e abre uma série de outros possíveis sucessos esperados: "Thunderbolts", o novo "Missão Impossível" e "Lilo & Stitch".
O jogo mais popular de todos os tempos
Embora os primeiros trailers tenham sido mal recebidos, acumulando um número espetacular de rejeições nos canais oficiais da Warner no YouTube, um fenômeno diferente está acontecendo, mas comparável ao do filme "Super Mario Bros.": um fracasso entre os críticos e espectadores de meia-idade, mas um sucesso entre seu público-alvo. Na verdade, é matemática pura: "Um Filme Minecraft" tem como alvo um público potencial de 300 milhões (são os dados oficiais de vendas mais recentes, de outubro de 2023), e muitos deles estão atendendo ao chamado.
Nem todo mundo joga
Esses 300 milhões (que hoje certamente já são muito mais) são multiplicados por uma questão muito simples: muitos fãs do jogo não o jogam, mas consomem vídeos relacionados a ele. Estima-se que possa haver dezenas de milhares de streamers do jogo, cada um com seus próprios milhares de seguidores, que não são necessariamente gamers. Lembre-se de que existem 600 milhões de jogadores registrados (o quarto jogo mais popular do mundo). É um verdadeiro terreno fértil para levar a Geração Z aos cinemas.
Fenômeno difícil de adaptar
"Minecraft" conseguiu levar com sucesso parte de sua estética para a tela grande, mas não é uma tarefa muito fácil no papel. Esta criação de Markus Persson e agora de propriedade da Microsoft (por US$ 2,5 bilhões) possui gráficos aparentemente rudimentares, mas muito versáteis, que permitem construções de todos os tipos e sem pressão: para muitos jogadores, a atração é simplesmente entrar no jogo e construir, o que sem dúvida foi fundamental para atrair usuários muito jovens. O fanatismo foi desencadeado no início da década passada, antes mesmo do lançamento da primeira versão oficial: naquela época, já contava com 16 milhões de jogadores.
O infinito
Na verdade, o segredo para que, duas décadas após seu lançamento, o jogo ainda seja atual e atraia milhões de jogadores são os milhares de mods, a maioria gratuitos, que geram novas maneiras de interagir com ele. Não só isso: a capacidade do jogo de gerar comunidades o torna, essencialmente, um jogo coletivo e, em grande medida, carente de uma narrativa central. Isso tudo, além de seus valores como filme, torna esta aposta da Warner uma conquista considerável: eles transformaram uma experiência em uma narrativa, e com sucesso.
A chave para o sucesso: acenos ao público
O motivo pelo qual "Um Filme Minecraft" se tornou um sucesso é porque ele dialoga diretamente com os jogadores: está repleto de memes e homenagens aos jogos que os fãs mais dedicados sabem decifrar, desde a frase "Quando criança, eu ansiava pelas minas" até a trilha sonora icônica do jogo, obra de C418. Acima de tudo, o Chicken Jockey, um meme aparentemente inofensivo que está gerando uma resposta inesperada entre o público jovem do filme: tumultos nos cinemas.
Grito libertador
O grito de "Chicken Jockey!" vem da cena do streamer. Há apenas 5% de chance de um personagem zumbificado se autogerar no cenário, bem em cima de uma galinha, criando a ilusão de que está montado nela. É por isso que é tão raro e celebrado quando isso acontece em uma transmissão, e daí a reação em cadeia que esse personagem desencadeou ao aparecer no filme, e que viralizou ao ser filmado por um espectador, no primeiro fim de semana de exibição, com um celular. Seguido por uma explosão de júbilo dos espectadores.
Caos
Em uma situação não inédita (dos tempos de 'Rocky Horror Picture Show' ao mais recente 'Wicked'), a participação do público nas exibições não é de todo estranha). As descrições e vídeos do que acontece nos cinemas são de sessões descontroladas, com chamados da polícia e pessoas soltando fogos de artifício ou, claro, galinhas.
As manifestações mais recentes do fenômeno foram lideradas pelo próprio Jack Black pedindo calma em aparição surpresa numa sessão em em Nova Jersey, alertando que menores só poderão assistir acompanhados e um aviso avisando os espectadores sobre as consequências caso não se comportem.
Cinemas em chamas
O assunto possivelmente ainda dará o que falar, pois a bilheteria e o sucesso o garantem. Por exemplo, as sessões já estão começando a proliferar em 4XD, onde o comportamento descontrolado (exceto pela parte de introduzir animais de fazenda, sujar as salas ou fazer o cinema pegar fogo) é mais do que bem-vindo. Por enquanto, isso deixa os críticos em uma posição desconfortável na hora de explicar esses fenômenos, porque eles não são apenas uma extravagância: eles pertencem ao filme de maior bilheteria do momento. Abraçamos o caos ou clamamos pelo fim da cultura, alertando os espectadores sobre as consequências caso não se comportem?
Imagem | Warner
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