Tendências do dia

A NASA fez as contas: a China pode desacelerar a rotação da Terra

A Barragem das Três Gargantas é capaz de reter um gigantesco corpo de água de 40 bilhões de litros

Seu enchimento deslocaria ligeiramente o eixo da Terra, aumentando a duração do dia em 0,06 microssegundos

Nasa
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
pedro-mota

PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

A Barragem das Três Gargantas é uma maravilha da engenharia moderna. Localizada no região central da China, ela interrompe a passagem do Rio Yangtze, o mais longo da Ásia, gerando mais eletricidade do que qualquer outra usina hidrelétrica do planeta.

É tão grande que, segundo a NASA, seu enchimento pode desacelerar a rotação da Terra. Com impacto mínimo, mas destacando a influência humana nos equilíbrios planetários; mesmo os mais fundamentais.

Barragem das Três Gargantas

O Rio Yangtze é o terceiro mais longo do mundo, atrás do Amazonas e do Nilo. Também chamado de Rio Azul, ele drena uma bacia de quase dois milhões de quilômetros quadrados, alimentando 40% do território chinês com água. No curso médio do rio, há três desfiladeiros naturais chamados Qutang, Wu e Xiling: as Três Gargantas.

Em 2012, quase duas décadas após o início das obras, a China inaugurou a maior usina hidrelétrica do mundo, construída no rio Yangtze, na província de Hubei, para aproveitar a cachoeira das Três Gargantas.

Como a China ofuscou Itaipu

Com capacidade de 22.500 MW, a Usina das Três Gargantas é a primeira a gerar mais energia que a hidrelétrica de Itaipu, compartilhada pelo Brasil e Paraguai no Rio Paraná.

Em 2020, após fortes chuvas de monções, a Usina das Três Gargantas quebrou o recorde de Itaipu de 103 TWh por ano. Naquele ano, suas 32 turbinas de 700 MW produziram quase 112 TWh de eletricidade, mais do que países inteiros, como Finlândia ou Chile, consomem anualmente. A megaestrutura é completada por dois geradores menores de 50 MW, que fornecem energia para a própria usina, e um elevador de barcos que permite navegar pelo rio.

E desacelerou a rotação da Terra

Com 2.335 metros de comprimento e 185 de altura, essa estrutura colossal é capaz de reter até 40 quilômetros cúbicos de água, ou 40 trilhões de litros. Uma massa gigantesca que, como a NASA alertou em 2005, se preenchida poderia ter uma influência calculável na rotação do nosso planeta.

De acordo com o geofísico Benjamin Fong Chao, da Goddard Space Exchange da NASA, encher a Barragem das Três Gargantas deslocaria ligeiramente o eixo da Terra até que ele desacelerasse sua rotação, aumentando a duração do dia em 0,06 microssegundos.

Dia um pouco mais longo

Embora seja uma pequena mudança em comparação ao derretimento das calotas polares ou grandes terremotos, demonstra o impacto que as atividades humanas podem ter em nosso planeta, mesmo em uma escala tão grande quanto a rotação da Terra.

Tome o devastador tsunami indonésio de 2004 como referência. Foi causado por um terremoto que, por sua vez, ocorreu devido a uma compactação da Terra pela interação entre as placas tectônicas da Índia e de Mianmar. Esse tsunami teve o efeito oposto: deslocou o Polo Norte cerca de 2,5 cm para o leste, o que acelerou ligeiramente a rotação do planeta, reduzindo a duração de um dia em 2,68 microssegundos.

A chave: o momento de inércia

O gatilho para esse efeito é uma quantidade física chamada "momento de inércia" que descreve a resistência de um corpo a mudanças em sua rotação. O momento de inércia é maior ou menor dependendo da quantidade de massa do objeto e de como essa massa é distribuída em relação ao seu eixo de rotação.

O exemplo clássico é um patinador artístico que, ao cruzar os braços perto do corpo, aumenta sua velocidade de rotação. Da mesma forma, a rotação da Terra pode ser modificada por mudanças em sua distribuição de massa. No exemplo da Indonésia, o movimento das placas tectônicas causou um tsunami no Oceano Índico que modificou a distribuição de massa na superfície terrestre e, consequentemente, o momento de inércia do planeta.

A Lua tem concorrência

A Terra não é uma esfera perfeita; seu eixo de rotação muda naturalmente devido a mudanças na atmosfera, oceanos e crosta terrestre. Desde 1900, esse eixo se moveu cerca de 10 centímetros por ano. Tradicionalmente, a mudança era atribuída ao recuo das geleiras ou à força gravitacional da Lua. Estamos começando a entender agora o papel do homem nesse processo, e a Represa das Três Gargantas ou o derretimento dos polos, que eleva o nível da água em direção ao equador, não são os únicos exemplos.

Outro exemplo são os poços. Entre 1993 e 2010, a geoengenharia humana extraiu aproximadamente 2.150 gigatoneladas de água subterrânea, usadas para consumo, agricultura, pecuária e indústria. Essa extração massiva elevou o nível do mar em mais de seis milímetros e, surpreendentemente, deslocou o eixo de rotação da Terra em 80 centímetros para o leste.

Questão de ajuste do relógio?

O impacto dos poços ou da Barragem das Três Gargantas na rotação da Terra, embora mínimo, levanta questões sobre a influência das atividades humanas em nosso planeta. Dadas essas mudanças, alguns pesquisadores defendem a introdução de um segundo intercalar negativo no tempo internacional se a rotação da Terra se tornar um pouco mais rápida devido ao efeito humano.

Consistiria em um minuto com duração de apenas 59 segundos para compensar a desaceleração da rotação da Terra e manter a sincronização dos relógios atômicos, usados ​​para medir o tempo com precisão milimétrica.

Inicio