A história do New South China Mall, o maior shopping center em ruínas do mundo que renasceu das cinzas

  • Para homenagear sua cidade natal, um bilionário da indústria de macarrão construiu um enorme shopping center

  • Era destinado a lojas de luxo, mas elas não queriam ter nada a ver com o projeto

Shopping
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Normalmente, um shopping center é um espaço cheio de pessoas, lojas e agitação. No entanto, quando as coisas não saem como esperado, um edifício tão grande pode se transformar em um espaço liminar, quase digno de um filme de terror. Esse é o caso de alguns shoppings nos Estados Unidos que prosperaram por um tempo e depois entraram em decadência. Em outros casos, maus planejamentos condenaram o empreendimento desde o início.

Essa também é a história do New South China Mall, que já foi o maior shopping center do mundo, mas passou anos com 99% de sua área desocupada. Apesar disso, o projeto teve um final parcialmente feliz.

Shopping01 Vista aérea do New South China Mall

Megaprojeto

O New South China Mall fica em Dongguan, uma das cidades industriais mais importantes da China, com mais de dez milhões de habitantes. Apesar de sua relevância industrial, Dongguan não é considerada uma cidade poderosa. Suas condições sociais e a dificuldade de acesso, agravada pela ausência de um aeroporto, são fatores limitantes.

O shopping foi idealizado por Hu Guirong, que se tornou bilionário graças à indústria do macarrão instantâneo. Com um custo de construção de cerca de US$ 1,3 bilhão (R$6,43 bilhões), o New South China Mall foi inaugurado como um capricho para homenagear a cidade natal de Hu Guirong.

Copiando cidades

O espaço é impressionante. Com uma área total de 892 mil m², dos quais 659.612 metros são construídos, o shopping tinha capacidade para mais de 2 mil lojas. Uma peculiaridade é que, na China, há diversas réplicas de cidades, especialmente europeias. Por exemplo, o complexo de escritórios da Huawei recria lugares como Granada, e outras construções replicam monumentos e bairros famosos, como Paris.

Shopping02 Canais venezianos com água verde radioativa

No caso do shopping, os idealizadores replicaram bairros de cidades como Amsterdã, Roma, Paris e Veneza. Também havia áreas inspiradas na Califórnia, no Caribe e no Egito. Outros exemplos incluem uma réplica do Campanário de São Marcos, com um canal de mais de dois quilômetros onde era possível passear de gôndola, e uma versão do Arco do Triunfo com 25 metros de altura, metade do original parisiense.

Shopping03 Ou a réplica do Arco do Triunfo

Mega fracasso

Embora espetacular, o empreendimento foi um fracasso gigante. Vários fatores jogaram contra desde o início. Um dos principais problemas era sua localização: nos subúrbios, onde o acesso dependia do uso de carro. Além disso, a área ao redor não era atraente.

Os idealizadores planejavam que o shopping fosse ocupado por lojas de luxo, algo distante das possibilidades econômicas da população local.

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99% "alugado"

Essa falta de sintonia fez com que os negócios se limitassem a redes de fast food. Durante anos, relatou-se que praticamente todo o espaço do shopping estava desocupado. Porém, ao contrário de outros projetos semelhantes, que acabam abandonados ou reaproveitados, Hu Guirong não desistiu. Ele vendeu uma participação majoritária do empreendimento.

O Founder Group, ligado à Universidade de Pequim, assumiu a revitalização do shopping. A primeira mudança foi no nome, que passou a ser New South China Mall, Living City. No entanto, por mais de uma década, apenas lojas como KFC, McDonald's e um cinema IMAX permaneceram no local. Parecia que tudo estava perdido, mas a solução estava bem diante de seus olhos.

Ressurreição

A chave do sucesso foi reinventar o conceito de shopping. Após o fracasso em atrair um público de alto poder aquisitivo, os gestores decidiram adotar a estratégia oposta: criar um ambiente acolhedor para a classe média.

Os canais foram limpos, áreas verdes ampliadas, a iluminação foi substituída e um parque marítimo foi inaugurado. Além disso, lojas mais acessíveis começaram a se estabelecer, o que permitiu que a ocupação do shopping atingisse 91% em 2020.

No fim, a história do New South China Mall teve um desfecho positivo. Apesar de já não ser o maior shopping do mundo há anos, ele conseguiu evitar o destino de se tornar apenas mais uma massa de concreto abandonada, como tantos outros.

Imagem | David290

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