A Rússia não confia nem um pouco nos Estados Unidos e seus aliados. E, considerando o atual cenário de tensão entre as potências, essa desconfiança é compreensível. Na verdade, essa falta de confiança é mútua e vai muito além da geopolítica, afetando diversas áreas estratégicas.
As infraestruturas críticas, como as usinas nucleares, são recursos estratégicos para qualquer país que aposta nessa tecnologia para a geração de eletricidade.
A partir de 1º de janeiro de 2030, nenhuma usina nuclear russa poderá utilizar hardware estrangeiro em sua infraestrutura de TI.
Além disso, software desenvolvido fora do país também será proibido. Essa medida, decretada pelo governo russo, se estende a todas as infraestruturas críticas da Federação Russa.
O mais surpreendente é que, no momento, a Rússia ainda não produz todo o hardware necessário para essas instalações. Isso levou o Ministério do Desenvolvimento Digital a tomar uma decisão pouco convencional.
Este é o hardware escolhido pela Rússia
O governo de Vladimir Putin já possui sua própria alternativa às Raspberry Pi: o controlador lógico programável Elbrus, que é baseado no processador MCST Elbrus-2S3, desenvolvido pela Roselectronics.
O Ministério do Desenvolvimento Digital da Rússia certificou esse hardware para ser utilizado em infraestruturas críticas, permitindo que ele seja empregado no desenvolvimento de sistemas automatizados de controle de processos.
Atualmente, esse hardware já está presente em algumas usinas nucleares russas e está sendo testado em instalações de petróleo e gás. No entanto, suas especificações deixam claro que seu desempenho é modesto, embora aparentemente suficiente para os cenários de uso para os quais o Ministério do Desenvolvimento Digital o certificou.
Provavelmente, essa é uma solução temporária, que será substituída no futuro quando a Rússia conseguir produzir um hardware próprio mais avançado.
O hardware russo em detalhe
O SoC Elbrus-2S3 conta com dois núcleos de propósito geral, opera a uma frequência máxima de 2 GHz, suporta até 8 GB de memória DDR4-3200 em duplo canal e possui conectividade PCI Express 3.0.
Trata-se, sem dúvida, de um hardware relativamente simples, incapaz de lidar com cargas de trabalho intensivas. Muito provavelmente, para processamentos mais exigentes, a Rússia ainda precisará depender de hardware estrangeiro, ao qual continua tendo acesso por meio de mercados secundários e vias de importação paralelas.
Por anos, os processadores russos Elbrus e Baikal foram fabricados pela TSMC, em Taiwan, utilizando tecnologias de integração avançadas. O SoC Elbrus-2S3, por exemplo, era produzido com litografia de 16 nm da TSMC.
O grande problema para a Rússia é que, desde dezembro de 2022, a TSMC foi proibida de fabricar chips desse tipo devido às sanções impostas pelos Estados Unidos e Taiwan.
No momento, ainda não está claro onde a MCST produzirá os novos chips Elbrus, mas é provável que a fabricação seja feita na própria Rússia, com uma litografia menos avançada do que a utilizada pela TSMC.
No final de maio do ano passado, Vasily Shpak, vice-ministro da Indústria e Comércio da Federação Russa, anunciou durante a conferência "Indústria Digital da Rússia Industrial" que o país já finalizou seu primeiro equipamento de fotolitografia de ultravioleta extremo (UVE).
Além disso, ele confirmou que a construção dessa máquina foi feita inteiramente na Rússia e que esse primeiro modelo é capaz de produzir circuitos integrados de 350 nm.
No entanto, esse é apenas o primeiro passo. O governo de Vladimir Putin tem um plano ambicioso:
- Até 2026, pretende desenvolver um protótipo de litografia UVE capaz de fabricar chips de 130 nm.
- Até 2028, planeja criar um equipamento ainda mais avançado, que possibilite a produção de circuitos integrados de 7 nm.
Ainda não está claro se esses objetivos serão alcançados dentro do prazo, mas resta ver até onde essa declaração de intenções realmente levará a Rússia.
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