Estamos no meio de uma guerra comercial intensa — e tanto Trump quanto a China continuam jogando lenha na fogueira: enquanto um sobe as tarifas às alturas, o outro responde elevando ainda mais. No meio disso tudo, empresas como a Apple acabam pressionadas a seguir as exigências do ex-presidente norte-americano, que insiste: produzam nos Estados Unidos.
Mas será que é realmente inviável tirar a produção da Ásia? Não exatamente. Basta perguntar ao Brasil.
Tarifas que vão e voltam — e mudam tudo
O sobe-e-desce das tarifas virou o grande assunto da economia global nos últimos dias. E o impacto não se limita ao mercado financeiro — ele atinge em cheio a indústria de tecnologia.
A Apple, por exemplo, evita produzir nos EUA porque os custos de deslocar a produção da Ásia para a América seriam altíssimos. Só que o curioso é que… ela já produz iPhones no Brasil. E não é de hoje. O motivo? Reduzir custos com tarifas de importação. Uma estratégia silenciosa — mas que mostra que, sim, existem alternativas fora da Ásia.

A China não é líder em tecnologia à toa
Não é novidade que tarifas sobre o comércio internacional fazem os preços subirem — afinal, boa parte do que consumimos vem de fora ou é fabricado com componentes importados. E, no universo da tecnologia, quase tudo leva carimbo chinês. E tem um motivo bem claro pra isso: a origem de suprimentos está concentrada lá.
O crescimento da China nesse setor começou com a realocação de fábricas por parte de empresas globais, que buscavam cortar custos. Primeiro veio a mão de obra barata, depois a inovação e, por fim, a dominação da produção: hoje, o país lidera a fabricação da maioria dos componentes usados em dispositivos eletrônicos no mundo.
O cenário atual é claro:
- A China abriga as maiores fábricas de montagem do planeta;
- Grande parte das peças de um smartphone é produzida dentro do próprio país;
- A logística é extremamente eficiente: peças e montagens estão, muitas vezes, na mesma região (especialmente em Shenzhen);
- O país concentra a mão de obra mais especializada do mundo em eletrônica;
- E, além disso, o custo do trabalho continua mais baixo que em países como os EUA.
Com tudo isso, fica fácil entender porque Tim Cook declarou que fabricar tudo nos Estados Unidos é inviável. Recriar toda a cadeia — do design ao componente final — dentro das fronteiras norte-americanas seria economicamente desastroso.
Nem Apple, nem Google conseguem fazer isso hoje. E mesmo que quisessem, o custo e a complexidade tornariam a operação quase auto destrutivo. Ainda assim, existe um país que chegou perto de realizar esse desejo — e, assim como os EUA, também usou tarifas como ferramenta.
Se a Apple já montou o iPhone no Brasil, por que não poderia fazer o mesmo nos Estados Unidos?
O Brasil oferece incentivos para empresas que desejam fabricar no país. Ao mesmo tempo, aplica tarifas sobre produtos eletrônicos importados já prontos. Por isso, marcas que querem se firmar no mercado brasileiro acabam trazendo suas fábricas pra cá, com o objetivo de tornar os dispositivos mais acessíveis.
A Apple monta no Brasil os iPhones mais vendidos por aqui — geralmente os modelos mais básicos e com maior demanda. Já os iPhones Pro e Pro Max, que têm menor saída, continuam sendo importados.
A Apple é uma delas
Criada em 1991, a Lei da Informática buscava aumentar a produtividade do país ao incentivar que os produtos fossem fabricados e vendidos localmente.
A legislação passou por reformas em 2019 e 2020, e hoje colhe resultados: empresas como Motorola, BBK (dona de Oppo, Vivo e Realme) e a própria Apple contam com unidades de produção em território brasileiro.
Os incentivos oferecidos pelo Brasil variam conforme o nível de fabricação local.
Esse grau é medido a partir do chamado Processo Produtivo Básico (PPB): quanto mais etapas forem realizadas dentro do país — como soldagem, montagem completa, integração das telas e testes funcionais —, maior é a chance de a empresa obter isenções fiscais, como a de imposto de importação e IPI. Isso ajuda a reduzir significativamente o preço final dos produtos.
A empresa possui uma fábrica em Jundiaí, São Paulo, operada pela chinesa Foxconn, onde monta os modelos vendidos localmente. Isso mostra como a Apple adapta sua estratégia às políticas de cada país — aproveitando tanto incentivos quanto restrições.
Por isso, também não seria impossível imaginar a empresa replicando esse modelo nos Estados Unidos. Inclusive, foi com esse objetivo que a TSMC abriu uma fábrica no Arizona. Por isso que é possível que a Apple acabe, sim, produzindo em solo americano.
Apesar da instabilidade de Trump — que pode subir ou baixar tarifas conforme o humor do dia —, a tendência é clara: os EUA mantêm uma guerra comercial com a China, e esse conflito não dá sinais de trégua. Com a expectativa de que as importações fiquem mais caras, a Apple pode, sim, seguir o exemplo brasileiro.
Se fabricar no Brasil tem trazido benefícios fiscais, por que não adotar a mesma lógica nos EUA?
A grande questão é saber quando isso vai acontecer — e se vale mesmo a pena. Afinal, montar uma fábrica do zero pode levar mais tempo do que Trump permanecer na Casa Branca. E o próximo presidente pode muito bem adotar uma política mais flexível com a China.
O cenário não preocupa só as grandes empresas
Os consumidores também devem sentir o impacto — e o preço pode ser apenas o começo. Não seria surpresa se os estoques de produtos muito populares começassem a oscilar. Resta saber como será a próxima keynote de setembro, com os possíveis iPhones 17 estreando em meio ao peso de novas tarifas e incertezas globais.
Ver 0 Comentários