Nos arredores da Via Láctea, um sinal se repete sem parar a cada três horas. Astrônomos descobriram sua origem

Tem poucas estrelas por perto, e por isso os pesquisadores têm certeza de que um sistema estelar específico é o responsável por gerar as ondas de rádio.

Três horas via Láctea - Imagen | ICRAR/Curtin
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Uma fonte constante de energia vem emanando dos arredores da Via Láctea há, pelo menos, 10 anos. A cada três horas, a sinal se repete em pulsos brilhantes que duram cerca de um minuto. Os astrônomos acreditam ter identificado a origem dessa emissão, mas a descoberta trouxe um novo mistério que também precisou ser desvendado.

A notícia

Uma equipe do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR) descobriu o fenômeno transitório de rádio com o maior período já registrado. Os astrônomos não apenas identificaram a fonte dessa sinal inédita, como também propuseram uma possível explicação para a geração desses estranhos eventos transitórios.

Um pouco de contexto: objetos astronômicos com campos magnéticos em constante mudança, como o Sol ou Júpiter, podem gerar ondas de rádio. Esses breves surtos de emissões energéticas são chamados de fenômenos transitórios de rádio e, muitas vezes, são produzidos por estrelas de nêutrons em rotação.

Os transitórios de período longo são uma categoria muito rara e pouco estudada desse tipo de fenômeno, o que torna essa descoberta ainda mais importante.

O objeto em destaque

Chamado GLEAM-X J0704-37, está localizado nos arredores da Via Láctea, a cerca de 5 mil anos-luz de distância, na constelação de Puppis, uma região com pouca concentração de estrelas. Com apenas algumas estrelas próximas, os pesquisadores estão confiantes de que é um sistema estelar específico que está gerando as ondas de rádio.

O pulso, que é único, dura cerca de um minuto e acontece a cada três horas há pelo menos 10 anos. As observações feitas pelo telescópio MeerKAT, na África do Sul, revelaram que ele vem de uma anã marrom do tipo M.

Algo não bate

Ao identificar a fonte do sinal, surgiu uma nova questão: uma anã M, sozinha, não seria capaz de gerar a quantidade de energia que os astrônomos observaram. No entanto, observações adicionais feitas com o telescópio SOAR, no Chile, confirmaram o espectro da estrela, corroborando que se trata, de fato, de uma anã marrom do tipo M.

As anãs M são estrelas de baixa massa, com apenas uma fração mínima da massa e luminosidade do Sol. Embora componham 70% das estrelas da Via Láctea, nenhuma delas é visível a olho nu. Então, como explicar isso?

A solução

Uma pesquisa publicada na The Astrophysical Journal Letters sugere que a anã M faz parte de um sistema binário com uma anã branca, o núcleo remanescente de uma estrela que esgotou seu combustível nuclear. Juntas, elas seriam responsáveis pela emissão de rádio documentada há uma década nos arquivos do Murchison Widefield Array (MWA).

A equipe planeja realizar observações adicionais para confirmar a natureza do sistema e explorar mais a fundo esse fenômeno astrofísico extremo, que pode estar acontecendo em outros sistemas semelhantes.


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