O Marte que conhecemos hoje é um planeta frio e inóspito, que perdeu quase toda a sua atmosfera. No entanto, há indícios de que, milhões de anos atrás, um grande oceano cobria boa parte do hemisfério norte. O rover chinês Zhurong acabou de encontrar novas evidências de que esse oceano realmente existiu.
O Zhurong foi o primeiro rover chinês a explorar Marte, parte da missão Tianwen-1. Ele pousou em maio de 2021 ao sul de Utopia Planitia, uma vasta planície localizada no hemisfério norte do planeta vermelho, que já havia sido explorada desde os anos 1970 por missões como a sonda Viking 2 da NASA.
Embora a especialidade da China seja a Lua, especialmente o lado oculto, onde alcançou feitos inéditos que nenhum outro país possui, o país também está avançando na ciência planetária em Marte graças ao rover Zhurong.
A descoberta
Um grupo de pesquisadores da Universidade Politécnica de Hong Kong realizou uma análise detalhada das características topográficas da região, combinando dados de sensores remotos (como as sondas que orbitam Marte) com observações diretas feitas pelo rover Zhurong enquanto estava ativo.
Os cientistas identificaram formações geológicas que correspondem a uma antiga linha costeira: cones com crateras, canais sedimentares e fluxos erosivos. Os cones podem ter sido formados por vulcões de lama, associados a áreas com alto teor de água subterrânea ou gelo. Já os canais e fluxos parecem ser resultado de processos de congelamento e descongelamento, também relacionados a ambientes ricos em água.
Isso é tudo? Não
Após analisar a contagem de crateras e os estratos sedimentares registrados pelo radar do rover Zhurong, a equipe concluiu que a região abrigou um oceano há cerca de 3,68 bilhões de anos. Esse gigantesco corpo d'água teria desaparecido aproximadamente 260 milhões de anos depois.
A região se divide em uma seção mais rasa ao sul e outra mais profunda ao norte. Mesmo a parte mais superficial poderia ter alcançado até 600 metros de profundidade. Os achados indicam que o oceano marciano pode ter congelado rapidamente, formando camadas de gelo que acabaram desaparecendo, possivelmente devido a mudanças climáticas globais.
Por que é importante?
A presença passada de água líquida aumenta a chance de que Marte tenha sido habitável para formas de vida microbianas.
Utopia Planitia é estudada há décadas e já havia evidências apontando para a existência de água no passado. As observações feitas pelo Zhurong complementam os dados de missões anteriores, oferecendo uma visão mais detalhada graças aos seus instrumentos avançados e à sua posição estratégica.
Atualmente, Estados Unidos e China são os únicos países com robôs ativos na superfície de Marte. Europa, Emirados Árabes e Índia também possuem missões na órbita marciana. A colaboração entre essas grandes potências poderia ajudar a desvendar o intrigante passado de Marte. Afinal, não queremos nos tornar, um dia, um planeta inóspito como ele.
Imagem | CNSA, U.S. Geological Survey
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