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Depois de comprar a banana mais cara do mundo por 6 milhões de dólares, seu dono teve uma ideia: comê-la

A fruta custou 25 centavos e foi usada na obra de arte Comedian, do polêmico Maurizio Cattelan.

Banana mais cara do mundo - Imagem: Sotheby´s y Justin Sun (X)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Justin Sun é um velho conhecido da mídia. Fundador da rede blockchain TRON, ex-membro da popular lista 30 under 30 da Forbes e primeiro-ministro do microestado de Liberland – um cargo que lhe garante mais visibilidade do que influência real –, Sun já esteve no centro de diversos holofotes. Alguns, para seu desgosto, como quando foi acusado de fraude pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.

Na sexta-feira, porém, esse criptomagnata reuniu imprensa e influenciadores em um luxuoso hotel de Hong Kong para algo que pouco tinha a ver com sua faceta de empresário ou burocrata.

Ele comeu uma banana.

Satisfeito e sob o olhar atento dos jornalistas e o brilho dos flashes, Sun descascou e devorou uma banana que, mais tarde, afirmou ter sido "muito melhor" do que qualquer outra que já havia provado.

Pode parecer absurdo que algo assim tenha chamado a atenção da imprensa e ganhado espaço em veículos como BBC, The Guardian e The New York Times. Mas isso faz mais sentido quando se descobre um detalhe crucial: dias antes, Justin havia pago nada menos que 6,2 milhões de dólares por essa mesma banana.

Não é fruta, é arte.

Original

Para entender essa história, é preciso voltar pouco mais de uma semana, quando a Sotheby’s realizou, em Nova York, o que provavelmente foi o leilão de arte mais surpreendente – e surreal – do ano até agora.

Não foi o valor da venda que chocou. A peça leiloada foi arrematada por 6,2 milhões de dólares, incluindo as comissões – uma quantia considerável, mas ainda distante dos preços já pagos por telas de autenticidade duvidosa.

Não. O surpreendente era a banana que estava sendo disputada. O que os funcionários da Sotheby’s protegiam enquanto sete pessoas travavam uma guerra de lances cada vez mais altos era, nada mais, nada menos, do que uma banana.

Para ser mais preciso, uma banana madura presa à parede com a mesma fita adesiva que pode ser encontrada em praticamente qualquer loja de ferragens do mundo.

O fato de uma fruta ter ido parar em um leilão da Sotheby’s, com lance inicial de 800 mil dólares e uma previsão de venda entre 1 e 1,5 milhão – valores que ficaram muito abaixo dos 6,2 milhões desembolsados por Sun para vencer o leilão – tem uma explicação simples: aquela banana não era apenas uma banana. Era arte.

A fruta em questão havia sido comprada naquela mesma manhã em uma barraca de rua em Manhattan por menos de 40 centavos.

O que fez seu valor disparar exponencialmente em poucas horas foi o fato de ter sido usada para recriar uma obra original chamada Comedian, que consiste, basicamente, nisso: uma banana presa a uma parede de uma forma específica, com fita adesiva, a exatamente 160 centímetros do chão.

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Seu autor é o artista italiano Maurizio Cattelan, já conhecido por outras obras polêmicas, como La Nona Ora, que representa o Papa João Paulo II sendo atingido por um meteorito, e America, um vaso sanitário totalmente funcional feito de ouro 18 quilates.

Seguindo essa mesma linha provocativa e com a intenção declarada de satirizar o mercado de arte, há alguns anos Cattelan decidiu colar uma banana na parede e chamá-la de Comedian.

A obra foi apresentada na feira Art Basel, em Miami. Segundo a Sotheby’s, foram criadas três edições de Comedian, além de "duas provas do artista", e a galeria Perrotin acabou vendendo as peças por um valor considerável, embora muito inferior ao que foi pago em novembro, em Nova York: entre 120 mil e 150 mil dólares.

A repercussão foi imediata. E polêmica.

Como se a obra em si já não fosse provocadora, ela ganhou ainda mais notoriedade quando, no final de 2019, outro artista, David Datuna, arrancou uma das bananas de Cattelan da parede e a comeu diante das câmeras.

Datuna afirmou que sua ação era uma performance baseada na obra do italiano, mas o episódio só serviu para aumentar ainda mais a popularidade da irreverente Comedian. Com esse pano de fundo, uma dessas bananas chegou ao leilão da Sotheby’s neste outono, onde, em mais uma reviravolta inesperada, Justin Sun – um criptomagnata nascido na China – decidiu comprá-la por 6,2 milhões de dólares.

Pode parecer muito, mas a Sotheby’s soube vendê-la bem: colocou a obra no mesmo patamar de Olympia, de Édouard Manet, ou Fountain, de Marcel Duchamp – um mictório que também causou alvoroço no mundo da arte quando foi apresentado, em 1917.

A história de Comedian poderia ter terminado aí, com um desfecho milionário para uma trajetória inusitada. Mas Justin Sun decidiu ir além. Logo após se comprometer a pagar 6,2 milhões de dólares pela banana, anunciou no X que pretendia comê-la.

Na última sexta-feira, ele reuniu dezenas de jornalistas e influenciadores no salão de eventos do exclusivo hotel Peninsula, em Hong Kong, e cumpriu sua… ameaça? Simplesmente devorou a banana.

"Comê-la durante uma coletiva de imprensa também pode se tornar parte da história da obra de arte", justificou o criptomagnata, antes de afirmar que aquela fruta era "muito melhor do que qualquer outra banana" que já havia provado. Ainda assim, como lembrança, presenteou cada um dos presentes com uma banana e um rolo de fita adesiva.

A história, no entanto, ganhou mais um capítulo, escrito a milhares de quilômetros do hotel onde Sun consumiu a obra de Cattelan. No Bronx, não muito longe do salão onde a Sotheby’s leiloou a peça, fica a barraca de frutas onde foi comprada a banana usada para recriar a versão de Comedian adquirida por Sun.

O preço? Uma fração insignificante do valor final

O New York Times chegou a divulgar que o fruto havia sido vendido por 35 centavos, mas depois corrigiu a informação para 25 centavos – o que equivale a 0,00000004% dos 6,2 milhões pagos no leilão.

Dias atrás, repórteres do New York Times visitaram o pequeno comércio para conversar com o vendedor que despachou a banana por uma quantia tão irrisória em comparação ao que ela viria a valer naquela mesma noite na Sotheby’s. Lá, encontraram Shah Alam, um imigrante bangladês de 74 anos que há décadas vende frutas em Manhattan.

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Sua reação ao descobrir a valorização meteórica da banana, segundo o New York Times, foi "comovente". "Sou um homem pobre", confessou Alam. "Nunca tive essa quantia de dinheiro, nunca vi essa quantia."

Suas palavras parecem ter tocado Sun, que voltou ao X para fazer outro anúncio surpreendente: compraria 100.000 bananas no quiosque de Alam para depois distribuí-las gratuitamente. Ou seja, 25.000 dólares em bananas, a 0,25 centavos por unidade.

A ideia soa incrível, mas, na prática, a realidade para um vendedor de frutas de rua no Bronx é bem diferente. Em entrevista ao New York Times dias depois, Alam explicou que conseguir 100.000 bananas custaria milhares de dólares, além do desafio logístico de transportá-las para seu ponto de venda. No fim das contas, a margem de lucro real para o negócio seria bem menor, girando em torno de apenas 6.000 dólares.

E isso sem contar que Alam não é o dono do quiosque, mas sim um dos sete funcionários que trabalham em longos e exaustivos turnos para o verdadeiro proprietário, que também administra outro ponto de venda de frutas.

Ironias do mundo da arte. E do mercado.

É claro que Sun não pagou 6,2 milhões de dólares por uma banana e pelas comissões do leilão. O que ele comprou foi um certificado que lhe dá o direito de prender uma banana na parede de uma maneira específica e chamar isso de Comedian, uma obra do polêmico artista italiano Maurizio Cattelan.

Na verdade, a fruta não tem nada de especial. Não recebeu nenhum tratamento e ninguém tentou preservar a peça original. Cada banana acaba apodrecendo e precisa ser substituída por outra semelhante.

Na prática, além da banana e do certificado, Sun também recebeu um manual com instruções sobre como fazer essa reposição.

Não se sabe se Sun realmente usará seu direito para colar outra banana na parede com fita cinza e chamá-la de Comedian, mas, por ora, seu investimento de 6,2 milhões de dólares já lhe garantiu uma notoriedade considerável e deu visibilidade ao seu próprio negócio no mercado de criptomoedas.

Ele mesmo comparou a banana de Cattelan aos NFTs – peças de arte digital sem valor intrínseco, mas que podem ser vendidas por milhões.

Coincidência ou não, Sun também aproveitou a atenção gerada pelo episódio para anunciar um novo investimento de 30 milhões de dólares em um projeto de criptomoedas chamado World Liberty Financial.

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