A Rússia conseguiu contornar as sanções da Europa: só teve de disfarçar o seu gás sob a bandeira do Azerbaijão

A ex-comissária de energia europeia, Kadri Simson, alertou que os objetivos da UE de se desvincular do gás russo não seriam cumpridos

Europa quer barrar uso do gás russo, mas não está sendo fácil / Imagem: Brian Cantoni e Aron Urb (EU2017EE)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em outubro, a Europa teve a oportunidade de reduzir sua dependência do gás russo. O desafio, no entanto, mostrou-se complexo devido ao fato de países como Eslováquia e Hungria continuarem mantendo acordos que lhes permitem acessar o gás russo por meio de rotas alternativas, como a reexportação de gás rotulado como proveniente do Azerbaijão. Essa situação gerou preocupações dentro da UE sobre as sanções e as relações desses países membros com a Rússia.

Re-etiquetagem?

A comissária europeia de energia, Kadri Simson, renunciou em dezembro devido à designação de uma nova presidência e equipe na Comissão Europeia. Em entrevista ao Financial Times, ela explicou sua discordância com um tratado que permitiria ao Azerbaijão rotular como seu o gás russo que transita pela Ucrânia.

O acordo com a Gazprom

Empresas energéticas europeias têm negociado o fornecimento de gás para a Europa Central com o término do acordo com a Gazprom, gigante russa. O acordo planejado com o Azerbaijão buscava fornecer gás (de origem russa) à Ucrânia, de onde seria transportado para a Europa por meio de um acordo de troca financeira com a Rússia. No entanto, a agora ex-comissária de energia alertou que essa estratégia seria desnecessária e não cumpriria os objetivos da UE de se desvincular do gás russo.

A dependência

O fluxo de gás que chega à União Europeia através da Ucrânia representa apenas cerca de 5%, mas países como Eslováquia e Hungria dependem consideravelmente dessa rota. Até recentemente, isso também incluía a Áustria, mas a Gazprom interrompeu o fornecimento devido a um conflito contratual com o grupo energético OMV, embora o gás continue fluindo por outras vias.

No caso de Eslováquia e Hungria, esses países continuam buscando alternativas para se abastecer de gás devido aos intensos bombardeios sobre a infraestrutura energética na Ucrânia. Uma das rotas encontradas para obter gás do Azerbaijão inclui um acordo via Turquia e os Bálcãs.

Essa situação evidencia o delicado equilíbrio entre os interesses energéticos e a política externa da UE, especialmente diante da necessidade de manter a coesão interna em um contexto de conflito com a Rússia. No entanto, com o bloqueio ao Gazprombank e as sanções americanas, as opções da UE para encontrar soluções alternativas de fornecimento continuam sendo limitadas.

Desvincular-se da Rússia

A eficácia das sanções da UE seria colocada em dúvida com a re-etiquetagem do gás russo. No entanto, o tema das sanções contra a Rússia é bem mais complexo. Embora os países da UE tenham se comprometido a parar de comprar combustíveis fósseis da Rússia até 2027, as compras de gás não estão sujeitas às sanções impostas pelo bloco em resposta à guerra. Essa contradição destaca a dependência de outros recursos, como o urânio para energia nuclear.

O objetivo estabelecido pela União Europeia de deixar de depender do gás russo antes de 2027 pode ser considerado ambicioso e bastante complexo, especialmente considerando que países dentro da União estão firmando tratados que complicam essa meta. O futuro energético da Europa agora está nas mãos do novo comissário de energia, o dinamarquês Dan Jørgensen, que destacou a importância de reduzir os preços da energia, coordenar investimentos em energias renováveis e substituir as importações de GNL provenientes da Rússia.

Imagem | Brian Cantoni e Aron Urb (EU2017EE)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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