O veto da China à exportação de minerais para os EUA tinha letras miúdas e afeta um elemento-chave da defesa da Ucrânia: os drones

A China parece estar desempenhando um papel fundamental no conflito bélico, com um claro vencedor e um perdedor

Rússia consegue produtos chineses, contornando sanções / Imagem: Gary Lerude, Morning Calm
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em dezembro, a China respondeu ao maior ataque dos EUA à sua indústria de chips de forma radical: proibindo a exportação de gálio e outros minerais críticos. A guerra comercial entre as duas nações escalou para um novo patamar, um movimento preocupante que impacta tudo, desde as energias renováveis até a fabricação de dispositivos básicos. O que não sabíamos é que o alcance dessa ação ia muito além, incluindo uma influência significativa na guerra na Ucrânia.

O embargo e a novidade

O jornal The New York Times revelou que a proibição chinesa tinha detalhes importantes. Sim, o país havia implementado um embargo de exportação sobre quatro minerais críticos essenciais para os semicondutores: gálio, germânio, grafite e antimônio. Mas havia mais.

A ação não era direcionada apenas aos EUA. Pela primeira vez, a medida incluía uma proibição explícita de transbordo, restringindo o acesso a empresas de países terceiros que pudessem transferir esses minerais para os EUA. Essa abordagem representa uma escalada sem precedentes nas tensões comerciais com os EUA.

Impacto

O impacto mais imediato da proibição chinesa é a ameaça de fragmentar ainda mais as cadeias globais de suprimentos, forçando empresas a escolher entre os mercados chinês e americano. Embora algumas companhias já tivessem estocado esses minerais prevendo a medida, a China continua dominando a mineração e o refino desses materiais, bem como de compostos ultrarresistentes usados em semicondutores e munições.

Veto ao drone

A Bloomberg revelou que as restrições são ainda mais amplas. Aparentemente, a China também começou a limitar a exportação de componentes essenciais para drones, incluindo motores, baterias e controladores de voo, peças fundamentais para a defesa da Ucrânia.

Essas restrições, que podem evoluir para um embargo total em 2025 como prelúdio de regulações mais abrangentes, afetam diretamente empresas nos Estados Unidos e na Europa, dificultando a produção desses dispositivos bélicos em um momento em que são cruciais no conflito ucraniano.

As cadeias de suprimentos

Segundo a publicação, as restrições reduziram drasticamente o acesso a peças de baixo custo fabricadas na China, país que domina 80% do mercado global de drones. Essa situação está obrigando fabricantes ocidentais a buscar fornecedores alternativos em regiões como Coreia do Sul e Japão. No entanto, apesar dessas iniciativas, os produtores ucranianos ainda dependem amplamente de componentes chineses para fabricar drones econômicos usados no conflito com a Rússia.

Na verdade, as restrições também estão impactando a produção de modelos mais avançados na Europa e nos Estados Unidos, deixando a Ucrânia sem alternativa além de intensificar sua própria produção.

Tensão geopolítica

Não há dúvida de que as restrições chinesas são uma resposta direta às medidas dos EUA, como as sanções a empresas chinesas relacionadas à indústria militar e as restrições a semicondutores avançados. Mas não é só isso. Elas também refletem uma crescente disputa tecnológica e comercial entre as duas potências, marcada por sanções mútuas a empresas-chave como DJI e Shield AI.

Nesse contexto, Pequim tem negado o fornecimento de armas à Rússia. No entanto, como veremos a seguir, relatórios ocidentais indicam que muitos componentes chineses estão sendo usados em drones e maquinários de ataque russos.

Bens de uso duplo

Esses relatórios detalham que a China se tornou a principal fornecedora de bens de uso duplo sancionados para a Rússia, incluindo microchips, componentes de drones e ferramentas CNC, todos essenciais para as instalações militares. Em 2023, a China forneceu cerca de 90% desses produtos prioritários, segundo o G7, um aumento significativo em relação aos 30% registrados em 2021. Esses bens chegam à Rússia como produtos chineses ou por meio de re-exportações, contornando as sanções ocidentais.

Embora Pequim evite fornecer "armas letais" à Rússia, suas exportações indiretas, como componentes eletrônicos, fortalecem significativamente a indústria militar russa. Além disso, esse apoio permite que a China mantenha uma "distância crítica" para proteger sua reputação internacional e evitar sanções adicionais, ao mesmo tempo em que reforça sua aliança estratégica com Moscou.

Economia militar

Nesse cenário, as exportações de bens críticos, como semicondutores, têm impulsionado setores-chave da defesa russa, desde sistemas de radar até drones de ataque. No entanto, a dependência de Moscou em relação a esses bens também aumenta os custos, já que a China impõe preços mais altos devido à crescente demanda por suprimentos.

Em resumo, estamos testemunhando uma disputa geopolítica multifacetada. A China desempenha um papel crucial, sustentando a máquina bélica russa em detrimento da Ucrânia por meio do fornecimento de bens de uso duplo, ao mesmo tempo em que proíbe componentes essenciais para a fabricação de drones. Tudo isso ocorre enquanto Pequim equilibra cuidadosamente seus interesses geopolíticos e econômicos.

Por outro lado, o Ocidente intensificou as sanções e vislumbra uma única saída possível, liderada pelos Estados Unidos: diversificar as cadeias de suprimentos e reduzir a dependência de países de componentes chineses em setores estratégicos como defesa e tecnologia.

Imagem | Gary Lerude, Morning Calm

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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