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Em 1594, um jesuíta descreveu um túnel secreto perto de Machu Picchu. Acabamos de confirmar o labirinto subterrâneo Inca

Sob as proximidades do Templo do Sol, foi encontrada uma vasta rede de túneis que se estende por Cuzco

Túneis secretos são encontrados sob Machu Picchu / Imagem: Paulo Tomaz
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Às vezes, na arqueologia, as descobertas mais fascinantes são as mais inesperadas. Sabemos disso porque, por exemplo, os incas não precisavam da escrita para construir um império, eles usavam os quipus. Também porque, apesar de Machu Picchu ter 600 anos e ser o grande tesouro do Peru, há pouco tempo foi descoberto um templo que é 3.500 anos mais antigo. Entre o fascinante e o surpreendente, também está a mais recente descoberta.

Um labirinto subterrâneo

Uma equipe de arqueólogos no Peru confirmou a existência do que antes era considerado apenas uma lenda: um extenso sistema de túneis labirínticos subterrâneos, conhecido como Chinkana, sob a cidade de Cusco.

A descoberta, baseada em pistas deixadas em várias crônicas de um jesuíta do século 16 que falava sobre túneis e passagens que se estendiam até as proximidades de Machu Picchu, revela uma rede de passagens que, até o momento, se estende por 1.750 metros, conectando locais emblemáticos como o próprio Templo do Sol (Coricancha) e a fortaleza de Sacsayhuamán, além de outros pontos chave da cidade. Um tesouro impressionante.

A pista dos textos históricos

Como mencionado, a descoberta se baseia em documentos históricos, incluindo uma crônica jesuíta anônima de 1594, que descrevia uma entrada para a rede de túneis em Sacsayhuamán. Outras fontes, como os escritos do cronista Anello de Oliva, mencionavam a existência de várias passagens subterrâneas que percorriam a cidade e passavam por locais como a Catedral de Cusco e as casas do arcebispo.

Para validar tais afirmações, os pesquisadores consultaram especialistas como Manuel Chávez Ballón, considerado o pai da arqueologia em Cusco, que sugeriu a inspeção de áreas sob as calçadas da cidade em busca de pistas.

Métodos tecnológicos aplicados na exploração

A exploração do sistema Chinkana foi realizada em várias fases utilizando tecnologia avançada. Em uma primeira etapa, os arqueólogos empregaram testes acústicos, um método no qual placas metálicas são batidas contra o solo a cada 50 centímetros para detectar cavidades subterrâneas através da ressonância sonora.

Posteriormente, foram implementados métodos mais sofisticados, como o radar de penetração no solo (GPR) e a prospecção acústica, técnicas que permitiram mapear com precisão as estruturas dos túneis ao gerar imagens detalhadas do subsolo.

Estrutura e características do sistema Chinkana

Aparentemente, a rede de túneis é composta por trincheiras de grande porte, revestidas com muros de pedra, tetos esculpidos e vigas trabalhadas. Segundo o arqueólogo Jorge Calero Flores, as passagens têm largura entre 1 e 2,60 metros, com altura de 1,60 metros, o que sugere que poderiam ter sido usadas pela nobreza inca para se deslocar em liteiras.

 

A Chinkana é dividida em três ramais principais que conduzem a Callispuquio, ao setor Muyucmarca em Sacsayhuamán e à igreja de San Cristóbal, o que parece indicar um planejamento estratégico avançado por parte dos incas.

Os arqueólogos planejam iniciar escavações em pontos estratégicos da rede nos próximos meses, possivelmente entre março e abril, para acessar fisicamente os túneis. A solicitação de autorização já foi enviada ao Ministério da Cultura do Peru para proceder com perfurações controladas na área de Sacsayhuamán, o que permitirá verificar a extensão e o estado de conservação das passagens subterrâneas.

Importância histórica e cultural

Não há dúvida de que a descoberta tem grande impacto. Cusco, que em seu apogeu foi a capital administrativa e política do Império Inca no século 15, antes da conquista espanhola, é um centro arqueológico de grande relevância.

A descoberta da Chinkana também oferece novas perspectivas sobre a engenharia e o planejamento urbano dos incas, que teriam projetado esse sistema como uma representação subterrânea da cidade na superfície. A esse respeito, crônicas como os Comentários Reais dos Incas de Garcilaso de la Vega já mencionavam a existência de ruas subterrâneas que conectavam Sacsayhuamán com Coricancha, o que agora ganha uma base tangível.

Por fim, mas não menos importante, a descoberta representa a confirmação do antigo mito que circulava pelos jesuítas, além da oportunidade de redescobrir aspectos pouco conhecidos da civilização inca. O que virá a seguir será a exploração desses túneis, que poderá ser uma "entrada" para o passado e revelar informações valiosas sobre a vida e o legado dessa histórica civilização.

Imagem | Paulo Tomaz

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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