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Há 38 anos a Voyager passou por Urano; cientistas descobriram que isso aconteceu na pior hora possível por causa do Sol

Urano
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em 1986, a Voyager 2 se tornou a primeira (e única) nave a sobrevoar Urano. Os dados coletados revelaram aos cientistas um planeta com um campo magnético fora do comum e cinturões de radiação intensos. Essas informações levaram a classificá-lo como um mundo extremo e incomum no nosso sistema solar. Após 38 anos, uma nova análise sugere que esses dados poderiam ter sido baseados em uma situação excepcional provocada pelo Sol.

Um estudo publicado recentemente na Nature Astronomy revelou que, nos dias anteriores à chegada da nave, Urano foi afetado por uma forte explosão de vento solar, que comprimiu sua magnetosfera.

De acordo com um dos autores, Jamie Jasinski, a nave observou o planeta em condições que ocorrem apenas 4% do tempo. Se tivesse chegado apenas alguns dias antes, nossa compreensão do planeta seria completamente diferente.

Um "mal dia" alterou a percepção de Urano

A magnetosfera é a camada de Urano que funciona como uma bolha com núcleos e campos magnéticos. Ela proporciona proteção contra o plasma proveniente do vento solar. No entanto, naquela ocasião, a tempestade solar comprimiu a magnetosfera, o que fez com que o plasma dentro dessa camada fosse expulso para o exterior, formando cinturões de radiação.

Isso foi o que a missão Voyager 2 observou quando sobrevoou Urano, e o que fez os cientistas acreditarem que estavam diante de um planeta com características anormais. Jasinski disse à Gizmodo que, se a sonda tivesse chegado uma semana antes, as medições teriam sido diferentes, o que poderia ter mudado a forma como concebemos o planeta.

“Se tivéssemos chegado uma semana antes com a Voyager 2, a sonda teria realizado medições completamente diferentes e nossas descobertas seriam muito diferentes. A Voyager 2 chegou bem no momento errado!”
Jamie Jasinski, Laboratório de Propulsão a Jato da NASA

A pesquisa atual sugere que, de fato, ocorrem dois ciclos magnetosféricos em Urano durante o chamado "mínimo solar" (um período que se repete a cada 11 anos, no qual a atividade do sol diminui). O primeiro varia em uma escala de tempo diária (-17 horas), devido à inclinação do planeta.

Imagem - NASA Imagem - NASA

O segundo varia em escalas de tempo de uma rotação solar (-27 horas), dependendo das condições do vento solar, que tendem a variar.

Oceanos subterrâneos nas luas de Urano

O artigo também menciona que duas das luas do planeta, Titania e Oberon, poderiam abrigar oceanos subterrâneos de água líquida, já que são ligeiramente maiores do que as outras luas, "o que significa que podem reter melhor o calor e, portanto, ser mais quentes", disse Jasinski. No entanto, o campo magnético tão fraco do planeta dificultaria a detecção desses oceanos.

Esta não é a primeira vez que os dados registrados pela Voyager 2 são reanalisados pelos cientistas. No ano passado, uma equipe da Universidade Johns Hopkins e do Centro Goddard da NASA analisou medições de partículas captadas pela sonda.

Os pesquisadores observaram que esses dados mostravam uma população de partículas presas na região do equador magnético do sistema de Urano, perto das luas Ariel e Miranda.

O curioso é que, apesar do campo magnético dever dispersar as partículas, algo parecia mantê-las "confinadas", o que poderia provar a existência de oceanos subterrâneos sob as crostas congeladas.

Original

Voltar a Urano, uma prioridade

Sem dúvida, olhar para as informações do passado sob uma perspectiva atual abre novos caminhos para a pesquisa. Em 2022, membros das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos propuseram a construção de uma nave capaz de orbitar Urano e mapear seus campos gravitacionais e magnéticos.

Por meio de um relatório de 780 páginas, os astrônomos declararam que a exploração do gigante de gelo "deveria ser a missão de maior prioridade". Eles também propuseram um plano de 10 anos, cujo objetivo é determinar os esforços de financiamento e pesquisa para essa nova missão, chamada Uranus Orbiter and Probe.

De acordo com um artigo da doutora Kathleen Mandt, da Universidade Johns Hopkins, a missão será responsável por investigar como Urano se formou e quanto ele migrou após sua formação. Mas não é só isso: ela também estudaria a estrutura interna do planeta, a atmosfera, a magnetosfera e o sistema de anéis. Além disso, a missão tentaria provar que algumas de suas luas abrigam água líquida sob a superfície.

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