O esforço que os fabricantes chineses de equipamentos de litografia estão fazendo para desenvolver suas próprias máquinas de ponta é gigantesco. E, como era de se esperar, o governo de Xi Jinping está apoiando essas empresas com subsídios bilionários.
No início de setembro de 2023, a China aprovou um pacote de nada menos que 41 bilhões de dólares destinado especificamente às companhias que produzem os equipamentos envolvidos na fabricação de circuitos integrados.
Os resultados já estão aparecendo – e são significativos. SMIC e Huawei, por exemplo, estão focadas em aprimorar seus processos litográficos e otimizar as máquinas de litografia UVP (ultravioleta profundo) fabricadas pela ASML, que já estão em seu poder.
Outras empresas, por outro lado, optaram por desenvolver suas próprias tecnologias de integração, utilizando novos equipamentos criados por Naura Technology, AMEC (Advanced Micro-Fabrication Equipment Inc. China) e Piotech Inc.. Esse é o caminho seguido pela Yangtze Memory Technologies Co. (YMTC), a maior fabricante chinesa de chips de memória.
De qualquer forma, o objetivo de médio prazo do governo chinês é garantir que seus fabricantes de semicondutores tenham seus próprios equipamentos de litografia de ultravioleta extremo (UVE), a tecnologia mais avançada disponível atualmente.
O problema é que desenvolver internamente todos os componentes necessários para essas máquinas é uma tarefa extremamente complexa. ASML, a única empresa do mundo que domina essa tecnologia (embora o governo russo afirme que seus cientistas também conseguiram desenvolvê-la), levou mais de uma década para projetar e fabricar um equipamento de produção de chips tão sofisticado.
Surgem vozes discordantes na China
Wei Shaojun é professor da disciplina de design de circuitos integrados na Universidade Tsinghua, em Pequim, além de vice-presidente da Associação da Indústria Chinesa de Semicondutores. Esse engenheiro é, sem dúvida, um dos maiores especialistas em chips do país liderado por Xi Jinping, o que faz com que suas opiniões tenham um peso considerável.
O jornal SCMP publicou um artigo destacando a posição de Shaojun, que, surpreendentemente, defende uma estratégia diferente da adotada pelo governo chinês.
"Chegou a hora de nos comprometermos a desenvolver nosso próprio ecossistema tecnológico [...] Os recursos de ponta estrangeiros agora estão fora do alcance da China [...] A variedade de tecnologias de fabricação disponíveis para nós já não é tão diversa como antes", declarou Shaojun há apenas cinco dias, durante seu discurso na Exposição da Indústria de Design de Circuitos Integrados da China, realizada em Xangai.
A importância de suas palavras vai além do que parece à primeira vista, especialmente para quem não lê nas entrelinhas. Wei Shaojun deixou claro que a China precisa inovar no design de semicondutores se quiser evitar ficar para trás no mercado global.
Para isso, segundo Shaojun, é fundamental que as empresas chinesas de circuitos integrados desenvolvam suas próprias arquiteturas e tecnologias de integração de microsistemas.
Em seu discurso, ele não menciona os equipamentos de litografia de ponta, e isso certamente não é por acaso. Shaojun sabe que a China ainda levará vários anos para alcançar a capacidade de competir com os Estados Unidos e seus aliados nesse setor.
E, quando ficar para trás não é uma opção, não há tempo a perder.
Ver 0 Comentários