A guerra na Ucrânia entrou em sua fase louca: drones estão lançando drones para atacar outros drones

A Ucrânia percebeu que um exército menor pode compensar sua inferioridade numérica com inovação, tecnologia e rapidez de adaptação

Guerra na Ucrânia adota drones com diferentes tipos de usos / Imagem: Polícia Nacional da Ucrânia
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No campo armamentista, a guerra na Ucrânia se tornou o cenário de uma transformação militar sem precedentes, com a batalha de drones redefinindo o combate moderno. Se, nos primeiros meses, lá por 2022, os confrontos eram travados com fuzis e metralhadoras nas linhas de árvores, hoje o campo de batalha é dominado por enxames de drones kamikazes e ataques de precisão. Nos últimos tempos, esses ataques estão cada vez mais descontrolados.

Uma nova forma de guerra

No início deste ano, o Guardian contou, em uma extensa reportagem, que, ao longo da linha de frente, as tropas russas e ucranianas agora se atacam a partir de quilômetros de distância com esses enxames de drones de Primeira Pessoa (FPV). São dispositivos pequenos, mas letais, equipados com até um quilo de explosivos, que mudaram a natureza do combate.

“É como o trabalho de um franco-atirador”, explicou ao veículo britânico Dima, soldado ucraniano, enquanto mostrava um vídeo em seu celular de um FPV perseguindo pacientemente um soldado russo antes de acertá-lo com precisão letal.

A democratização do ataque aéreo

O resultado é que, no conflito, não há lugares seguros. A acessibilidade e a eficácia desses dispositivos voadores democratizaram o poder aéreo, permitindo que qualquer unidade, mesmo sem apoio da força aérea, possa executar ataques de precisão. A esse respeito, Samuel Bendett, especialista em drones do Centro de Análise Naval, contou que os FPV passaram de ser uma novidade em 2022 para se tornarem a principal ferramenta ofensiva em 2023, e hoje dominam completamente o espaço tático.

Velocidade, capacidade de operar à noite, alcance de até 20 km e custos operacionais extremamente baixos os tornam a arma perfeita entre guerrilheiros. Nada no campo de batalha está completamente seguro. Os drones obrigam os veículos blindados a se mover rapidamente, limitam o tempo que as tropas podem permanecer em um único local e tornam obsoletas muitas táticas convencionais. Daí a tática errática das tropas norte-coreanas.

Drones "mãe" lançando drones contra outros drones

Uma das estratégias mais recentes no campo de batalha tem sido o uso de drones "mãe". São grandes veículos aéreos não tripulados capazes de transportar e lançar pequenos drones kamikazes em pleno voo. Essa tática permite expandir o alcance de ataque dos drones FPV, deixando-os cair atrás das linhas inimigas sem que a bateria limitada deles se acabe antes de atingir o alvo.

Em um caso documentado recentemente, um drone-mãe ucraniano foi filmado lançando um pequeno drone explosivo contra um drone de reconhecimento russo, demonstrando que a guerra aérea não tripulada não é mais apenas entre aviões de combate e mísseis, mas entre enxames de drones de diferentes categorias.

Drones armados: de espingardas a rifles

Desde o início do conflito, os ucranianos têm experimentado “potencializar” drones, seja com explosivos, granadas ou mísseis. No entanto, nos últimos meses, avançaram significativamente no uso de armas de fogo montadas diretamente em drones aéreos e terrestres. Por exemplo, desenvolveram drones FPV capazes de disparar espingardas de dois canos, enfrentando diretamente drones russos em combate aéreo. Apesar do problema do recuo, os engenheiros melhoraram a estabilidade do drone, permitindo que disparasse várias vezes sem perder o controle (um vídeo mostrava recentemente um desses drones derrubando três drones russos antes de disparar contra um soldado inimigo em terra).

Apesar da dificuldade de manter a precisão em voo, foram realizados testes com AK-74 montados em drones, capazes de disparar rajadas contra trincheiras russas. Ao que parece, esse tipo de drone ainda não foi implantado em massa, mas está virando uma tendência equipar drones com armas de fogo convencionais.

Segundo o ArsTechnica, uma das inovações mais notáveis é o Burya, um drone terrestre equipado com uma torre lança-granadas capaz de disparar até 64 granadas a uma distância de 100 metros. Ele possui um software de controle de disparo e estabilização giroscópica para melhorar a pontaria. No futuro, espera-se que se integre com drones de reconhecimento aéreo, permitindo receber coordenadas de alvos em tempo real.

Novas táticas para a guerra eletrônica

Até mesmo foram desenvolvidos drones com espécies de garras retráteis ou ímãs, projetados para capturar e roubar drones inimigos em pleno voo, um conceito que lembra as máquinas de gancho dos jogos de arcade.

Outro desenvolvimento recente é o Pliushch, um drone terrestre não armado, mas equipado com um mastro de comunicações de 10 metros. Sua função é servir como repetidor de rádio no campo de batalha, estendendo o sinal de comunicação para unidades avançadas. Além disso, pode operar como uma estação móvel de guerra eletrônica, interferindo nos sinais do inimigo.

A última das aplicações foi relatada recentemente. A guerra eletrônica se tornou tão intensa na linha de frente que muitos drones foram inutilizados por bloqueios de sinal e sistemas de interferência russos. Para combater isso, a Ucrânia começou a usar drones com fibra ótica, um método que evita a detecção por não emitir sinais eletromagnéticos.

Imagem | Polícia Nacional da Ucrânia

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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