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Elon Musk quer troca de reféns: os EUA permitem que o TikTok opere... e a China legaliza o X

  • Elon Musk não concorda com o bloqueio do TikTok por ir contra a liberdade de expressão e pede à China "liberdade" para o X

  • O governo da China mantém uma posição neutra, respondendo que as empresas devem respeitar as leis de cada país

Elon Musk quer que os EUA liberem o TikTok / Imagem: Unsplash (Rubaitul Azad), Dvids
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em 2020, Donald Trump era um dos defensores da proibição do TikTok em solo americano devido ao risco de que os dados de seus cidadãos caíssem nas mãos da China. No entanto, a situação mudou e, curiosamente, o algoz do TikTok em 2020 tornou-se seu salvador em 2025. Seu argumento: a liberdade de expressão. E é aí que Elon Musk entra em cena.

O impasse do TikTok

A Primeira Emenda da Constituição dos EUA defende a liberdade de expressão e religião sem interferência do governo. No entanto, esse princípio entrou em conflito direto com alguns decretos aprovados em estados como Montana, governado pelo Partido Republicano, e com a Lei HR7521, conhecida como Lei de Proteção dos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros, assinada pelo governo Biden. Essa lei proíbe que empresas estrangeiras coletem dados de usuários americanos e os armazenem fora do território dos EUA.

Por isso, a ByteDance, empresa-mãe do TikTok e de outros aplicativos como Marvel Snap e CapCut, não pode operar nos EUA sem estar associada a uma empresa americana. Algo que Trump já anunciou que pretende revisar durante seu mandato, suspendendo o veto ao aplicativo chinês.

A liberdade de expressão

Elon Musk, que se autoproclamou defensor da liberdade de expressão nos EUA desde que comprou a rede social X, já havia se manifestado contra a proibição do TikTok no país. "Na minha opinião, o TikTok não deveria ser proibido nos EUA, ainda que tal proibição pudesse beneficiar a plataforma X", declarou o bilionário em abril de 2024.

Meses depois, já com uma posição de influência mais consolidada, ele reformulou suas palavras ao responder a si mesmo: "Sou contra a proibição do TikTok há muito tempo porque vai contra a liberdade de expressão. Dito isso, a situação atual, em que o TikTok pode operar nos Estados Unidos, mas o X não pode operar na China, é desigual. Algo precisa mudar".

Prioridades legais

O bloqueio do TikTok não tem origem na liberdade de expressão ou na moderação de conteúdos da rede social, como sugere Elon Musk em suas declarações. A proibição foi imposta com base na segurança nacional dos EUA e na privacidade dos usuários, já que a plataforma permite que seus dados sejam armazenados em servidores de países considerados "inimigos". Ao suspender o bloqueio, Trump prioriza a liberdade de expressão, permitindo que a China continue coletando dados dos usuários do TikTok nos EUA.

Já a China tem outras prioridades. Conforme destacado pelo Financial Times, Elon Musk estaria propondo que, em troca da continuidade do TikTok nos EUA, o X pudesse operar na China sem precisar seguir as rígidas normas de censura do país.

A resposta da China

Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, respondeu a Elon Musk ao ser questionada pelo Financial Times, afirmando que "Pequim dá boas-vindas a qualquer empresa que cumpra suas leis” e que “os grupos chineses no exterior devem obedecer às leis locais".

Mao acrescentou que as empresas chinesas que atuam no exterior deveriam "decidir de forma independente" sobre operações financeiras e acordos, especificando que a decisão de vender ou dividir a operação nos EUA para continuar funcionando cabe exclusivamente à ByteDance, não ao governo chinês.

Um Elon Musk mais brando com a China

As exigências de Elon Musk sobre o bloqueio do X na China foram muito mais moderadas do que as feitas às autoridades da Europa, do Brasil e da Austrália, onde as legislações locais obrigam as plataformas a combater a disseminação de fake news e desinformação.

Ao contrário da postura beligerante adotada contra a Alemanha, o tom conciliador com as autoridades chinesas se deve ao papel de intermediário entre China e EUA que Elon Musk tem desempenhado nos últimos meses, chegando até a ser apontado como possível comprador da rede social. No entanto, essa informação foi rapidamente desmentida. Ainda assim, os contatos entre representantes do governo chinês e Elon Musk continuam.

A dependência da Tesla da China

A postura moderada de Elon Musk em sua solicitação à China também está relacionada ao conflito de interesses que enfrenta devido à influência chinesa sobre as vendas da Tesla.

Quase um quarto das vendas da Tesla no terceiro trimestre de 2024 foram na China, e sua fábrica em Xangai abastece exportações para outros países da Ásia. Isso faz com que a China desempenhe um papel estratégico para a empresa de Musk, tornando inviável qualquer confronto com os líderes chineses.

O vice-presidente chinês, Han Zheng, compareceu à posse de Donald Trump, algo inédito em cerimônias anteriores. Antes do evento, porém, o representante chinês se reuniu com Elon Musk.

"Han se encontrou com o CEO da Tesla, Elon Musk, e deu as boas-vindas às empresas americanas, incluindo a Tesla, para aproveitarem as oportunidades e compartilharem os frutos do desenvolvimento da China, contribuindo para fortalecer os laços econômicos e comerciais entre China e Estados Unidos. Musk afirmou que a Tesla está pronta para aprofundar investimentos e cooperação com a China e desempenhar um papel positivo na promoção das interações econômicas e comerciais entre os dois países", publicou a agência estatal chinesa Xinhua.

Imagem | Unsplash (Rubaitul Azad), Dvids

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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