Tendências do dia

A segunda guerra fria, que já vivemos, vai ter as mesmas consequências da primeira

  • A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria impulsaram o desenvolvimento da tecnologia.

  • Os chips, a inteligência artificial e as tecnologias quânticas estão no centro das atenções.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O mundo em que vivemos é, em grande parte, resultado dos conflitos que marcaram o desenvolvimento durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. O eco dessas mais de cinco décadas ainda ressoa atualmente do ponto de vista geoestratégico, social e econômico, mas, sobretudo, permanece evidente quando focamos na tecnologia e na ciência. Isso porque essas duas disciplinas experimentaram um avanço monumental nesse período histórico recente.

O que aconteceu com os semicondutores durante a Segunda Guerra Mundial ilustra perfeitamente o impacto que os conflitos entre grandes potências têm no desenvolvimento da tecnologia.

"A bomba atômica pode ter terminado a guerra, mas o radar venceu a guerra." Ignacio Mártil escolheu essa citação de Lee Alvin DuBridge, diretor do Laboratório de Radiação do MIT entre 1940 e 1946, para destacar, nas primeiras páginas de seu livro O radar na história do século XX, o papel crucial desse invento na resolução da guerra.

No entanto, e aqui está o ponto realmente revelador, foi a transição das válvulas termoiônicas para os transistores que permitiu aos cientistas britânicos e americanos refinarem as capacidades de seus radares o suficiente para superar de forma significativa os dispositivos semelhantes da Alemanha nazista.

A partir desse momento, os semicondutores entraram em uma corrida vertiginosa cujo fim ainda parece distante. Oito décadas atrás, fizeram uma enorme diferença, e hoje moldam uma indústria estratégica que as grandes potências estão dispostas a defender a qualquer custo.

A tensão entre as grandes potências impulsiona o desenvolvimento técnico e científico

A tecnologia associada aos circuitos integrados não foi, de forma alguma, a única a experimentar avanços vertiginosos durante a Segunda Guerra Mundial e as décadas seguintes. Computadores, telecomunicações, aeronáutica e física nuclear estão entre as disciplinas tecnológicas e científicas que mais se desenvolveram durante a Guerra Fria.

A disputa entre os EUA e a União Soviética, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até a dissolução da URSS, em 1991, fez com que ambos os países direcionassem grande parte de seus recursos ao desenvolvimento de suas capacidades tecnológicas, científicas e militares.

Essa estratégia é muito semelhante à adotada atualmente pelas grandes potências, lideradas por EUA, China e Rússia.

A relação entre o Ocidente e a Rússia mudou radicalmente após a anexação da península da Crimeia pelo país liderado por Vladímir Putin, em 2014. A intervenção militar da Rússia na Síria e a mais recente e ainda em curso guerra na Ucrânia só ampliaram o abismo que separa a Rússia da aliança ocidental liderada pelos EUA.

Após a anexação da Crimeia, não havia consenso sobre se uma nova Guerra Fria havia começado, mas hoje, apenas uma década depois, é razoável aceitar que estamos mergulhados em uma Nova Guerra Fria, ou Segunda Guerra Fria, na qual EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, do outro, disputam o controle da ordem mundial.

O correspondente de guerra americano H. D. S. Greenway define o início da Segunda Guerra Fria como 4 de fevereiro de 2022.

Alguns analistas, como John Sawers, ex-chefe do MI6, e Igor Zevelev, membro do Centro Wilson, argumentam que o momento atual é ainda mais perigoso e imprevisível do que a Guerra Fria. Não há dúvida de que estamos vivendo uma era extremamente tumultuada, marcada por uma instabilidade global desenfreada.

O correspondente de guerra americano Hugh David Scott Greenway, que trabalhou para o The Washington Post, Time Life e The Boston Globe, data o início da Segunda Guerra Fria em 4 de fevereiro de 2022, quando Vladímir Putin e Xi Jinping fizeram uma declaração conjunta formalizando a aliança entre suas duas nações.

Se focarmos na ciência e tecnologia, que é o que mais nos interessa no Xataka, podemos observar um paralelismo muito evidente entre o desenvolvimento vertiginoso das disciplinas consideradas estratégicas pelos EUA e pela União Soviética durante a Guerra Fria e o que estamos presenciando hoje.

Os semicondutores influenciam profundamente o desenvolvimento tecnológico, científico e militar das grandes potências, e EUA, China e Rússia estão determinadas a dominar esse campo, custe o que custar.

Os semicondutores influenciam profundamente o desenvolvimento tecnológico, científico e militar das grandes potências.

No entanto, existem outras áreas com um papel estratégico, não apenas para esses três países, mas também para Europa, Japão, Coreia do Sul e Índia, entre outros estados ou coalizões que buscam não ficar para trás.

A inteligência artificial, as comunicações quânticas e os computadores quânticos estão recebendo um apoio financeiro sem precedentes por parte de instituições públicas de alguns desses países, o que nos leva a prever que, nos próximos anos, essas áreas experimentarão um desenvolvimento que mal conseguimos imaginar no momento.

No final de julho de 2022, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a destinação de impressionantes 280 bilhões de dólares para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Por outro lado, a diretiva europeia Chips Act mobilizará 43 bilhões de euros para colocar o Velho Continente no mapa mundial dos circuitos integrados.

A China planeja injetar 41 bilhões de dólares em seus fabricantes de equipamentos litográficos para desenvolver suas próprias máquinas de ultravioleta extremo (EUV). Já a Rússia pretende investir 38 bilhões de dólares nos próximos seis anos para fortalecer sua indústria de semicondutores.

Esses são apenas alguns exemplos dos investimentos destinados ao desenvolvimento científico e tecnológico que estão sendo realizados pelas grandes potências, mas deixam claro a escala do que estamos falando.

Imagens | Casa Rosada | Palácio do Planalto | Пресс-служба Президента РФ

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