Entre todas as histórias da Segunda Guerra Mundial, algumas se destacam pela singularidade do que aconteceu. Nesse grupo, sem dúvida alguma, está o caso do HNLMS Abraham Crijnssen, um navio caça-minas dos Países Baixos que conseguiu "escapar" da guerra de uma maneira totalmente inusitada: fingindo ser uma ilha. A Ucrânia parece ter "pegado emprestada" essa ideia, a da "ilusão óptica" no mar, que já foi utilizada mais de uma vez ao longo da história.
Uma tática centenária
A marinha da Ucrânia adotou uma estratégia histórica conhecida como camuflagem deslumbrante (dazzle camouflage), uma técnica desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial para confundir os inimigos.
Essa abordagem, que utiliza padrões irregulares e chamativos, busca desorientar os observadores sobre a velocidade e a direção dos navios.
Essa informação foi revelada recentemente em uma série de imagens compartilhadas pela marinha ucraniana, que mostram essas características aplicadas em embarcações como um navio de guerra blindado e um patrulheiro da classe Island. Ambas as embarcações foram apresentadas durante uma demonstração para especialistas navais dinamarqueses.
Embora não se saiba exatamente quando os padrões foram aplicados, o objetivo no atual contexto do conflito é claro: dificultar a identificação visual pelas forças russas e aprimorar as táticas defensivas.
Propósito e limitações
Como mencionamos, o chamado camuflagem deslumbrante tem suas origens na Primeira Guerra Mundial, quando foi usado para proteger navios de submarinos inimigos, dificultando a mira dos torpedos. No contexto atual, sua eficácia pode ser um pouco mais limitada.
Segundo o especialista em poder naval Sidharth Kaushal, essa tática pode ser útil contra sensores ópticos russos, como drones, mas tem pouca relevância contra ameaças mais modernas guiadas por radar.
Ainda assim, sua implementação demonstra a criatividade da Ucrânia em tempos de guerra, maximizando os recursos de sua modesta frota, composta principalmente por embarcações pequenas.
Um dos navios ucranianos
Exemplos modernos
A camuflagem deslumbrante tem sido utilizada ocasionalmente na era moderna. Um exemplo disso ocorreu em 2021, quando o navio HMS Tamar, da Marinha Real Britânica, foi pintado com esse design para destacar sua identidade durante uma missão internacional.
Mais recentemente, em julho de 2023, a Rússia adotou uma abordagem semelhante ao pintar blocos pretos em seus navios, com o objetivo de reduzir sua visibilidade e dificultar ataques com mísseis ucranianos.
Nesse último caso, a iniciativa foi uma resposta direta aos ataques bem-sucedidos da Ucrânia no Mar Negro, que forçaram a frota russa a se realocar do porto estratégico de Sebastopol, na Crimeia, para o porto mais seguro de Novorossiysk.
O caso do HNLMS Abraham Crijnssen
Como mencionamos no início, este é, possivelmente, um dos casos mais fascinantes de toda a Segunda Guerra Mundial. O caça-minas holandês conseguiu escapar da captura japonesa ao se disfarçar, nada mais nada menos, do que como uma ilha. Em 1942, enquanto as forças japonesas avançavam pelo Pacífico, o navio, que operava próximo às Índias Orientais Holandesas, enfrentou o desafio de atravessar águas inimigas para chegar à Austrália.
Qual foi o plano genial? A tripulação cobriu o convés com galhos e folhagens de árvores para camuflá-lo como uma pequena ilha flutuante.
Além disso, navegavam lentamente perto da costa durante o dia, imitando uma ilha no cenário marítimo, e aceleravam à noite para avançar com segurança.
Esse ousado e criativo disfarce permitiu que o Abraham Crijnssen evitasse ser detectado por aviões e navios inimigos, tornando-se um dos exemplos mais impressionantes de camuflagem naval na história (se não o mais notável).
A situação naval da Ucrânia
Como mencionado, a marinha ucraniana, sem grandes navios em operação, baseia-se principalmente em pequenas embarcações adaptadas para enfrentar a superioridade da frota russa no Mar Negro. Nesse contexto, o apoio da Dinamarca tem se mostrado crucial desde o início da invasão.
Na verdade, em outubro de 2024, o país anunciou um pacote de ajuda de 340 milhões de dólares, que incluía armamentos, equipamentos e cooperação em áreas estratégicas, como a proteção de portos, a segurança dos corredores de grãos e a remoção de minas. Todas essas iniciativas buscam modernizar as capacidades navais da Ucrânia e fortalecer sua posição estratégica.
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