Relato original de Enrique Pérez no Xataka Espanha
Estranha. Perturbadora. Inquietante. São adjetivos que vêm à mente quando se pensa em Amira, o robô ultrarrealista apresentado pela empresa Engineered Arts no Mobile World Congress. Um robô com aparência de mulher, peruca e expressões faciais muito bem-feitas. Um robô que, além disso, reage ao que dizemos ou até mesmo se acenamos com a mão.
Amira é a evolução do robô Ameca. Além de incorporar um motor de IA mais avançado, Amira agora tem uma aparência mais próxima da de uma mulher humana. Colocaram cabelo, pele sintética e um vestido. Já tínhamos um robô com corpo totalmente articulado e com inteligência artificial, agora ele também tem uma aparência aprimorada.

Amira é impulsionada pelo GPT-4 da OpenAI. Isso permite que ela responda ao que dizemos com bastante naturalidade. Na demonstração, ela só conseguia falar em inglês, mas, em teoria, pode responder em outros 50 idiomas, já que o GPT-4 tem essa capacidade.
Vi o que nos espera com os robôs humanoides e tenho sentimentos contraditórios
O robô estava no estande da operadora e&, dos Emirados Árabes Unidos, anteriormente conhecida como Etisalat. É um exemplo dos avanços da robótica e de como pretendem revolucionar o atendimento ao cliente. Os robôs serão capazes de analisar o ambiente ao seu redor, saber se há alguém por perto e o que está fazendo e reagir de acordo.
Situada sobre um círculo fixo, Amira não anda, embora mova a parte superior do tronco, a cabeça e os braços. O robô não para de falar e reagir com o público. Se você levanta uma mão, ela acena. Se fizer qualquer pergunta, ela responde de forma natural. E essa é justamente a sua força. Não é necessário iniciar as perguntas de um jeito específico; ela responde de maneira fluida.
E se você ficar parado na frente dela sem fazer nada, de repente ela finge estar irritada e seus olhos mostram uma expressão de tédio. A verdade é que as reações estão muito bem feitas, nada a ver com outros robôs muito mais básicos. Com a Amira, as reações acontecem mais rápido e de forma mais coerente.

Durante nossa visita, Amira nos perguntou se estávamos nos divertindo no Mobile World Congress e se estávamos cansados, ressaltando que ela não, por ser um robô.
Para conseguir identificar o que está acontecendo, ela conta com duas câmeras nos olhos com um software de reconhecimento facial e dois conjuntos de microfones localizados na região do pescoço.

Os movimentos ainda têm margem para melhoria, mas as expressões faciais estão bem feitas. Ela sorri, se irrita, desvia o olhar, conta piadas e finge estar surpresa. Mas o mais perturbador é o quão realista ela parece. As mãos articuladas, o rosto, a peruca e até as unhas.

Se olharmos de perto para as mãos, dá muita aflição. Não só pela aparência, mas também porque ela reage como uma pessoa. E é essa combinação que mais surpreende. Quando me aproximei para tirar uma foto, me senti péssimo. Por um lado, estava perfeitamente consciente de que era um objeto, mas a sensação de estar me aproximando de “alguém” estava presente.

Nesse esforço de fazê-la parecer o mais humana possível, colocaram até jóias e um casaquinho vermelho. Também um par de tênis brancos simples, muito bem escolhidos para dar um ar informal. Nem com tudo isso conseguiram eliminar a sensação inquietante que o robô provoca.

Conversando com os presentes, a reflexão era a mesma. A palavra mais repetida era creepy. No ano passado, no entanto, foi diferente. Ameca não tinha pele nem peruca. De certa forma, não se tentava tanto replicar a aparência humana, já que estavam visíveis a cor cinza e os componentes mecânicos. Já Amira é pura “pele”. Diferentemente de Ameca, Amira tenta sim camuflar sua condição de robô.
Embora isso seja perceptível com facilidade, se a olharmos de longe, não é tão simples. Uma pessoa desatenta ou distraída talvez pudesse ser enganada brevemente. A conquista do “vale da estranheza” está em pauta há décadas. Visualmente, não podemos dizer que houve grande avanço, porque no fim é uma questão mais de maquiagem. No entanto, o fato de que foi implementada uma IA no robô e ele consegue interagir e se adaptar ao ambiente em tempo real lhe confere uma outra dimensão por completo.
Pessoalmente, sempre tive uma percepção muito positiva dos robôs e da inteligência artificial, mas, mesmo assim, é difícil assimilar que esses robôs humanoides realistas movidos por IA estarão tão presentes. Têm tudo para conseguir isso, mas será difícil que os aceitemos de imediato. Tecnologicamente, estão melhorando muito, mas essa sensação perturbadora não desaparece.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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