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Em 1197, um soldado foi jogado num poço no meio da Noruega; achávamos que era só um poema épico, mas agora encontramos o corpo

Analisando o pó de um dente, cientistas conseguiram confirmar um relato com mais de 800 anos de antiguidade

Homem de poema nórdico é identificado / Imagem: Bragi Boddason / Instituto Norueguês de Pesquisa sobre o Patrimônio Cultural
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

"Pegaram um morto, o jogaram em um poço e o preencheram com pedras". Isso foi contado na Saga de Sverre, um poema nórdico escrito por um poeta beneditino (Karl Jónsson) no início da década de 1200.

Pois bem, acabamos de encontrar esse homem.

Essa é uma frase aleatória perdida no meio de uma saga sobre uma batalha no meio da Noruega do século 11, mas uma equipe de pesquisadores de diversas universidades da Escandinávia, Islândia e Irlanda acabou de "identificar" os ossos do morto que foi parar no fundo do poço.

E dizemos "identificar", e não “descobrir”, porque os ossos foram encontrados no fundo de um antigo poço do castelo de Sverresborg em 1938. O problema é que as tecnologias da época não permitiam saber muito mais a respeito e os ossos foram guardados em uma gaveta.

A visão mítica do passado

De longe, as sagas nórdicas muitas vezes nos parecem um gênero da mitologia pré-moderna. Sabemos que não é assim, claro. Por séculos, os reis do norte contrataram "escaldos" (poetas guerreiros) que escreviam crônicas sobre suas façanhas. Está claro que havia muita ficção ali, mas (como vemos) não era apenas isso.

No fundo, era uma questão de tempo até começarem a surgir evidências arqueológicas que apoiassem as sagas. O que não esperávamos é que fossem tão concretas e precisas.

Como fizeram isso?

Há alguns anos, uma equipe da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia decidiu revisitar o tema. Não tinham muito com o que trabalhar: apenas o pó de um dente. Mas, hoje em dia, isso basta para descobrir muito.

A primeira coisa que descobriram é que o homem do poço tinha entre 30 e 40 anos quando morreu. A partir disso, utilizaram técnicas de "datação por radiocarbono, sequenciamento genético e análise de isótopos para obter a imagem mais completa da identidade do homem".

Por exemplo: descobriram que ele morreu há cerca de 900 anos (o que coincide com as datas do acontecimento relatado na saga). "Também sabemos, graças à análise genômica, que provavelmente ele tinha cabelo loiro ou castanho claro e olhos azuis", explicam os pesquisadores.

O que faz um tipo como você em um lugar como este?

Se as estimativas estiverem corretas, o homem era geneticamente originário do "condado norueguês mais meridional, Vest-Agder". Ou seja, a centenas de quilômetros de onde foi encontrado.

É verdade que ainda não se sabe o nome nem a história do homem do poço, mas a história parece se encaixar (e até extrapolar o que diz a saga): tudo indica que ele era um dos lutadores católicos que tentaram invadir o castelo aproveitando a ausência do rei Sverre.

O interessante é perceber que as novas tecnologias estão nos permitindo tirar os textos antigos da névoa do esquecimento e atribuir-lhes versões em carne e osso. É, em certo sentido, o equivalente escandinavo à descoberta de Tróia.

Imagem | Bragi Boddason / Instituto Norueguês de Pesquisa sobre o Patrimônio Cultural

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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