Encontramos uma planta evolutivamente mais próxima da alface do que do cânhamo capaz de produzir 40 canabinoides

A planta pode nos ajudar a propor novas terapias baseadas nesses compostos

Imagem | Sagit Meir / United States Fish and Wildlife Service
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Os compostos canabinoides estão intimamente relacionados às plantas do gênero Cannabis, o cânhamo. Uma relação que se manifesta no próprio nome desses elementos, entre os quais talvez os mais reconhecíveis sejam o THC (delta-9-tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol). No entanto, essa ligação não é exclusiva.

O guarda-chuva de lã

A Helichrysum umbraculigerum (também conhecida como guarda-chuva de lã) é uma planta nativa da África do Sul que se destaca por conter 40 compostos da família dos canabinoides, muitos deles desconhecidos até agora. Esta planta pertence ao gênero conhecido como flor de papel ou helichrysum, um gênero muito distante taxonomicamente da cannabis, e mais próximo de plantas como girassois ou alface.

Além do fato marcante, a equipe responsável pela análise ressalta que a descoberta pode nos ajudar no desenvolvimento de novas terapias ligadas a esses compostos.

"Encontramos uma nova fonte importante de canabinoides e desenvolvemos ferramentas para sua produção sustentada, o que pode ajudar a explorar seu enorme potencial terapêutico", disse Shirley Berman, membro da equipe responsável pela descoberta, em comunicado à imprensa.

Várias terapias

Embora em alguns casos não tenhamos evidências sólidas de sua eficácia, o uso terapêutico dos canabinoides vem se expandindo à medida que avança o estudo de suas propriedades bioquímicas e terapêuticas. Um contexto em que esses compostos se destacam é no alívio de náuseas em pessoas em tratamentos agressivos, como a quimioterapia.

Outros usos potenciais são no tratamento de dor, ansiedade e epilepsia. Como explica a equipe responsável pelo novo estudo, o fato de receptores moleculares capazes de interagir com esses compostos serem comuns em humanos e se estenderem além do nosso cérebro por todo o corpo torna seu potencial enorme. Isso também explica por que seu estudo é tão extenso, abrangendo desde doenças neurodegenerativas até câncer.

Síntese de compostos

Se quisermos desenvolver tratamentos por meio desses compostos, entender como eles são sintetizados naturalmente nas plantas é vital. Portanto, é relevante que a equipe tenha conseguido revelar o processo bioquímico usado pela planta na produção desses compostos.

Em seu estudo, a equipe utilizou espectroscopia de massa de alta resolução, com a qual identificou os canabinoides contidos na espécie. O grupo combinou isso com ressonância magnética nuclear para encontrar a estrutura de alguns dos compostos encontrados. A partir daí, conseguiu desvendar o "caminho" bioquímico seguido pela planta ao sintetizar esses canabinoides.

Detalhes do processo foram publicados em artigo na revista Nature Plants.

CBG

Dos 40 compostos encontrados na planta, apenas meia dúzia estão presentes na maconha. Na verdade, a equipe observa que nem THC nem CBD estão presentes no guarda-chuva de lã. O composto comum a ambas as plantas é o CBG (canabigerol).

Do ritual ao laboratório

A descoberta de canabinoides nesta planta não é totalmente nova. As pistas que apontavam para esse fato remontam a décadas. De acordo com a equipe responsável pelo novo estudo, o guarda-chuva de lã era frequentemente usado em rituais nos quais era queimado para gerar vapores "intoxicantes", o que indica que os indícios já estavam lá.

Imagem | Sagit Meir / United States Fish and Wildlife Service

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