Não é só a Capadócia que oferece belos passeios em balões de ar quente — a Espanha também é um destino interessante para os amantes dessa atividade. Eles são oferecidos em regiões como Andaluzia, Maiorca, Galícia e na Comunidade Valenciana, entre outras regiões.
No entanto, a província chamada Segóvia é onde eles ficaram mais populares. Lá, inclusive, foi celebrado em setembro do ano passado um festival que reuniu cerca de vinte pilotos. Os passeios com vista para o aqueduto e o Alcázar, no entanto, se depararam com um problema: o descontentamento dos criadores de gado. E isso gerou uma curiosa disputa.
Passeios de balão por Segóvia
Sim. Segóvia é uma província rica em paisagens e patrimônio, então por que não aproveitá-los do alto, a bordo de um balão de ar quente? Uma busca rápida mostra que há diferentes opções para viver essa experiência e que, segundo o Festival de Balões de Segóvia, trata-se de “um dos melhores destinos do mundo” para a atividade. “É por isso que, a cada ano, cerca de 13 mil viajantes escolhem nossa cidade para desfrutar dessa experiência”, diz o site.
Há um ano, o jornal El Norte de Castilla investigou o que representa e quanto dinheiro movimenta o turismo aerostático em Segóvia. E os resultados são surpreendentes. Além de apresentar a região como “um dos dez destinos mais procurados do mundo” para esse tipo de passeio, o jornal afirma que, só em 2023, foram registrados 1.334 voos com 14.568 passageiros. A uma média de 190 euros por voo (R$ 1.216), isso representa cerca de 2,6 milhões de euros. Calcula-se que quase uma dezena de empresas oferecem esse serviço.
Há algumas semanas, os balões de ar quente de Segóvia vêm ocupando manchetes na imprensa regional e nacional — e, curiosamente, não é por seu sucesso entre os turistas, nem pelo faturamento. O motivo é outro: a disputa entre as empresas do setor e os criadores de gado.
À medida que os primeiros ganham popularidade, os segundos afirmam ter se deparado com um problema: os voos em baixa altitude estariam causando “prejuízos graves” no campo.
Os prejuízos
O grupo denuncia que, ao voarem próximos aos pastos, os balões incomodam o gado — e não é incomum que os pilotos acabem pousando em suas propriedades. “Provocam estampidas e estresse nos animais. Além disso, aterrissam sem permissão em propriedades privadas, cercadas e ocupadas por vacas e bezerros, assim como em terrenos semeados”, denunciou há alguns dias a União de Camponeses de Segóvia-UCCL, após levar suas queixas à Subdelegação do Governo.
“Os balões fazem voos baixos e prolongados sobre zonas de pastagem, acionando o queimador sempre que acham necessário. O ruído provocado por esse equipamento causa um estresse grave nos animais, levando a estampidas”, insiste a entidade. “Os animais assustados pulam cercas, rompem arames e correm desorientados, gerando riscos evidentes para a segurança e angústia para o criador. Como se não bastasse, aterrissam impunemente em propriedades privadas.”
A Agrupação de Defesa Sanitária (ADS) Serra de Segóvia, que reúne pouco mais de uma centena de criadores de gado bovino extensivo da região da serra de Guadarrama e da capital segoviana, queixou-se recentemente ao El Norte de Castilla do “vácuo legal” que os empresários estariam usando para aterrissar nas propriedades. “As coisas deveriam estar muito mais claras”, acrescenta seu porta-voz: “É um tormento, isso não pode ser um safári; não se pode voar por cima das vacas só para que os passageiros se divirtam”.
O que dizem os empresários
Para os empresários do setor, a situação é bem diferente. Em entrevista ao El Periódico de España, Cristian Biosca, gerente de uma das empresas do setor, afirmou “não entender” a polêmica. “Não há nada de novo”, argumenta. O único incidente de que se tem conhecimento, segundo ele, aconteceu “há alguns meses” e Biosca ressalta que “não teve nada a ver” com as empresas que operam habitualmente em Segóvia.
Além disso, o executivo afirma que as denúncias vêm apenas de três criadores “particularmente problemáticos”. “Tentamos chegar a acordos com eles, convidamos para voar e ver com os próprios olhos, mas não adiantou.”
“A reclamação deles é que voamos baixo e espantamos o gado, mas nenhum de nós jamais viu o gado correr quando passamos ou quebrar cercas”, garante Biosca, que afirma que as vacas já se habituaram à passagem dos balões. Como prova de que a atividade é “segura” e de que não há evidências dos danos relatados pelos criadores, ele aponta que, segundo ele, as denúncias feitas até o momento não avançaram.
Qual é a solução?
A União de Camponeses de Segóvia-UCCL tem uma proposta clara: que os voos de balão deixem de “interferir” nas zonas de criação de gado. E nem seria uma medida inédita. A entidade lembra que, anos atrás, em 2018, operadores e criadores chegaram a um acordo, com a mediação da Subdelegação do Governo, que estabeleceu uma “zona de exclusão de voo” em determinados municípios caracterizados justamente pela presença de pastagens.
Esse acordo funcionou durante um tempo, mas a UCCL denuncia que as empresas que operam os balões “voltaram a circular livremente pelas zonas de pasto”. “Entendemos que a atividade turística dos passeios de balão é perfeitamente viável em Segóvia sem a necessidade de invadir os espaços de criação de gado”, insiste o coletivo. “Basta retomar o pacto firmado à época.”
A UCCL acredita que respeitar a zona de exclusão é viável e reconhece que, durante vários anos, o acordo de 2018 foi respeitado “em grande medida”. “É perfeitamente possível, já que há espaço aéreo mais do que suficiente para que ambas as atividades possam ser realizadas sem interferirem entre si”, conclui.
Biosca também lembra que, em 2018, foram estabelecidas zonas que os pilotos “tentam” evitar, mas esclarece: “Os balões não podem ser dirigidos […] Não escolhemos por capricho onde vamos aterrissar, é o vento que nos leva”.
Imagens | Víctor Iniesta (Flickr) e União de Camponeses de Segóvia-UCCL
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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