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O grande paradoxo do celular na adolescência: são ruins para o desempenho e a saúde mental, mas proibi-los na escola não funciona

Maior estudo global até o momento sobre a proibição de celulares nas escolas mostra que não funciona. Mas porque não é suficiente

Imagem | Charles Deluvio
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Nos últimos anos, a grande questão educacional de metade do mundo tem sido exatamente a mesma: o que fazer com os celulares na escola. A polêmica chegou a tal ponto que, como diz Laura Cano, "a digitalização de menores está polarizando as famílias dentro e fora da sala de aula".

E o pior de tudo, não temos dados que nos permitam saber se uma das duas opções faz mais sentido do que a outra. Até agora, pensávamos que era porque os estudos eram tendenciosos, agora descobrimos que é por outra coisa.

O maior estudo global até o momento

1227 alunos de 30 escolas na Inglaterra estão sendo monitorados há um ano pela Universidade de Birmingham. Eles não apenas obtiveram seus registros de uso de mídia social, mas uma bateria inteira de resultados de saúde mental, bem-estar, qualidade do sono e atividade física.

Entre esses alunos, havia alguns que estavam em escolas que proibiram o uso de smartphones durante o dia escolar e outros que não.

O que eles descobriram?

O interessante é que os pesquisadores descobriram que não há diferenças entre os dois grupos de alunos. Nem no bem-estar mental, nem em distúrbios emocionais, nem em estilo de vida sedentário, nem níveis de descanso. Também não houve diferenças substanciais no desempenho acadêmico ou comportamento negativo.

É verdade que as proibições de telefone levaram a uma ligeira diminuição no uso do telefone (cerca de 40 minutos a menos) e nas mídias sociais (cerca de 30 minutos), mas o impacto é muito pequeno para ser significativo.

Então não importa quanto tempo os adolescentes passam em seus celulares? Não exatamente. O estudo descobriu que há "uma ligação entre passar mais tempo usando-o e piores resultados em todas as coisas estudadas". O que acontece é que a proibição nas escolas não tem impacto suficiente na vida dos jovens para ser decisiva.

Em outras palavras, como explica a professora Miranda Pallan, da Universidade de Birmingham, a pesquisa mostra que "abordar o uso geral do telefone deve ser uma prioridade para melhorar a saúde e o bem-estar entre os adolescentes", mas "as políticas escolares não são a bala de prata para evitar efeitos nocivos". Na verdade, podemos ter certeza de que "políticas restritivas sobre o uso recreativo do telefone nas escolas não levam a melhores resultados entre os alunos".

E o que fazemos?

Isso parece reforçar as ideias que alguns especialistas vêm defendendo há anos. José César Perales, professor de psicologia da UGR, denunciou no ano passado que "uma medida cosmética é tomada [as proibições], enquanto aquelas que poderiam contribuir para melhorar a saúde mental de nossos adolescentes ainda estão em alguma gaveta". Corremos o risco, dizem esses especialistas, de desviar os já escassos recursos do sistema para medidas com pouco retorno.

"O que as evidências realmente dizem é que a parentalidade", disse Perales, "admite uma enorme variabilidade e que, uma vez atendidas as necessidades materiais e afetivas, quase todos os impactos da forma específica de parentalidade são muito pequenos". Talvez seja hora de repensar como estamos distribuindo os recursos.

Imagem | Charles Deluvio

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