Tendências do dia

DeepSeek R1 não é apenas mais um modelo de IA: é a maior ameaça existencial que o Vale do Silício já enfrentou

DeepSeek R1, um modelo de IA chinês de código aberto, está abalando o mercado de tecnologia ocidental... e questionando o modelo fechado do Vale do Silício

Imagem | DeepSeek, Xataka com Mockuuups Studio
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
pedro-mota

PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Com menos de uma semana de seu lançamento, o DeepSeek R1 já mostrou a que veio, cansaudo um um terremoto no mercado (-6,5% NVIDIA, -3,5% Microsoft, -8% ASML).

O impacto vai além de sua eficiência técnica. A verdadeira ameaça à indústria americana de IA está em sua natureza aberta: o DeepSeek está democratizando a tecnologia que o Vale do Silício guardava zelosamente atrás de seus próprios muros.

Por que isso importa

A indústria ocidental de IA foi construída sobre dois pilares que o DeepSeek acaba de dinamitar:

  • A necessidade de investimentos multimilionários em hardware.
  • O sigilo extremo sobre a arquitetura de seus modelos.

O caminho do dinheiro

Wall Street reagiu duramente porque o DeepSeek ameaça diretamente o modelo de negócios dominante que nos trouxe até aqui.

Os investidores estão se perguntando: como projetos como o Stargate (e seu meio trilhão de dólares) podem ser justificados agora se há uma alternativa aberta e eficiente? Qual é o valor da propriedade intelectual quando seus concorrentes publicam abertamente seus avanços?

Nas entrelinhas

A estratégia da China parece clara: usar o código aberto como um cavalo de Troia para desestabilizar o domínio ocidental em IA. Não é coincidência que o DeepSeek tenha escolhido um momento em que:

  • modelos americanos mostram sinais de estagnação (onde está o GPT-5?);
  • investimentos em infraestrutura estão disparando (em 2024, eles foram 500% maiores do que em 2023);
  • modelos de negócios ainda não estão totalmente esclarecidos.

A grande questão

Vários especialistas apontaram que estamos diante do momento Sputnik para a IA: quando os Estados Unidos descobriram que não tinham o monopólio de avançar na corrida espacial. O R1 tem essa magnitude ou as expectativas sobre suas implicações devem ser relaxadas?

Talvez "apenas" (adicione quantas aspas quiser) estejamos em um momento Linux: sua chegada democratizou o sistema operacional baseado em código aberto como uma ferramenta disruptiva, mas a indústria continuou a prosperar. O Windows não desapareceu, ele simplesmente se adaptou a um novo cenário em que o código aberto e o fechado coexistiam.

  • A diferença está no ritmo. O Linux levou anos para impactar seriamente o mercado. O R1 causou um abalo imediato até mesmo nas avaliações do mercado de ações de gigantes.
  • Talvez o mercado entenda que a IA é valiosa e promissora demais para bancar um desenvolvimento tão fechado e caro como o atual.

Seja um Sputnik ou um Linux, o R1 marca uma virada: prova que a IA de ponta pode ser criada de forma mais aberta e eficiente.

Mas…

Há algumas dúvidas persistentes sobre os custos reais do DeepSeek. O CEO da Scale AI sugeriu que eles têm acesso a mais hardware do que afirmam ter, mas o escondem por violar restrições comerciais.

Mesmo assim, mesmo que seus custos fossem maiores, o R1 ainda teria um forte impacto na indústria ao escolher o modelo aberto para um modelo tão poderoso.

O momento da verdade

A indústria americana de IA agora tem uma escolha: ou mantém seu modelo atual, baseado em investimentos altíssimos e forte sigilo, correndo o risco de ser deslocado pela eficiência chinesa... ou se volta para uma maior abertura para competir no quadro proposto pelo DeepSeek.

A analogia com o Sputnik vai além da surpresa tecnológica. Este momento pode catalisar uma transformação em como a tecnologia é desenvolvida e comercializada. A diferença é que desta vez a disrupção não vem do aparato estatal, mas do setor privado chinês, e sua arma não é a corrida espacial, mas o código aberto para IA.

A China, frequentemente criticada por seu controle sobre a informação, está usando abertura e transparência para enfrentar o domínio tecnológico ocidental.

Imagem em destaque | DeepSeek, Xataka com Mockuuups Studio

Inicio