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O deserto do Atacama é um dos lugares mais secos do planeta. E lá um bando de "loucos" está tentando tirar água da neblina

Experimento é capaz de extrair entre 0,2 e 5 litros de água por metro quadrado ao dia

Imagem | Virginia Carter Gamberini
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Os oceanos e mares abrigam mais de 96,5% da água do nosso planeta, de acordo com estimativas usadas pelo United States Geological Survey (USGS). Em contraste, a atmosfera contém modestos 0,001% desse total. As nuvens, a neblina e a umidade do próprio ar contêm pouco menos de 13 mil quilômetros cúbicos que também representam 0,04% da água doce do planeta.

Mas em contextos onde a seca está se intensificando, cada gota pode contar.

Coletando água da neblina

Um grupo de pesquisadores testou com sucesso um método para obter água da neblina. O sistema conseguiu coletar entre 0,2 e 5 litros de água por metro quadrado ao dia.

Seco

Para testar o método, a equipe responsável pela análise recorreu ao município de Alto Hospicio, localizado no meio do Deserto do Atacama. A região abriga algumas das áreas mais secas do planeta, onde a precipitação mal chega a um milímetro por ano.

A cidade depende para seu abastecimento de água contida em aquíferos subterrâneos, mas, segundo a própria equipe, estes não foram recarregados adequadamente ao longo de um período entre 10 mil e 17 mil anos. A cidade está se expandindo rapidamente e, como resultado, cerca de 10 mil de seus moradores vivem em assentamentos informais, quase todos desconectados do sistema de abastecimento de água.

"A coleta e o uso de água, especialmente de fontes não convencionais, como a água da neblina, representam uma oportunidade fundamental para melhorar a qualidade de vida dos habitantes", explicou Virginia Carter Gamberini, coautora do estudo, em um comunicado à imprensa.

Um "novo" método...

Um estudo que conseguiu mostrar o potencial dessa tecnologia. A equipe testou esses mecanismos por um ano nos arredores da cidade de Alto Hospicio, obtendo entre 0,2 e 5 litros por metro quadrado por dia. Entre agosto e setembro de 2024, durante a temporada mais movimentada, foi possível atingir até 10 litros por metro quadrado por dia.

"Esta pesquisa representa uma mudança marcante na percepção do uso da água da neblina, de uma solução rural, de pequena escala, para uma fonte de água prática para as cidades", acrescenta Carter Gamberini. "Nossas descobertas demonstram que a neblina pode servir como uma fonte complementar de água urbana em áreas secas onde as mudanças climáticas agravam a escassez de água."

O mecanismo também tem suas limitações, eles esclarecem. Uma delas é que seu uso é limitado a altas elevações fora dos limites da cidade.

...que não é tão novo

A coleta de água de neblina não é totalmente nova, como Carter Gamberini lembra, mas pode ser um método conveniente para ser ampliado em um contexto como o atual.

Os dispositivos de coleta de água de neblina, como o usado no estudo, consistem em uma rede pela qual o ar carregado de umidade circula. Parte dessa umidade é acoplada às fibras da rede e cai por elas para um canal que a leva a um tanque. A água no reservatório pode, portanto, ser usada em uma variedade de usos, como consumo humano ou na agricultura.

Os detalhes do experimento foram publicados num artigo no periódico Frontiers in Environmental Science.

Imagem | Virginia Carter Gamberini

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